A crescente popularidade das apostas esportivas online, ou “bets”, entre os brasileiros tem gerado preocupações no mercado financeiro. De acordo com um relatório do Santander, a fintech Nubank (ROXO34) pode enfrentar riscos significativos devido à expansão dos gastos das famílias brasileiras com essas apostas. A análise, conduzida pelo analista Henrique Navarro e sua equipe, ressalta que a exposição do Nubank a clientes de baixa renda e ao sistema de pagamentos instantâneos Pix pode ser um fator de vulnerabilidade para a instituição financeira.
O relatório do Santander aponta que uma parcela considerável dos recursos destinados ao lazer pelas famílias de baixa renda tem sido direcionada para apostas esportivas online. Além disso, o crescente uso do Pix como meio de pagamento para essas transações aumenta o risco de crédito para o Nubank, que lidera o número de chaves Pix cadastradas no Brasil. Segundo os dados, o Nubank respondeu por 23% do valor transferido via Pix no primeiro semestre de 2024.
O impacto das apostas no orçamento das famílias
O crescimento das apostas esportivas no Brasil reflete uma tendência global, mas no contexto brasileiro, esse fenômeno tem levantado preocupações quanto ao impacto financeiro nas famílias de baixa renda. O relatório do Santander, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que aproximadamente 20% do orçamento discricionário das famílias de baixa renda foi destinado às apostas online em 2024. Quando se trata do orçamento voltado exclusivamente para lazer, esse percentual sobe para alarmantes 36%.
Além disso, um estudo do Banco Central compilado pelo Santander mostrou que cerca de 20% dos recursos do programa Bolsa Família foram usados para apostas esportivas online, o que levanta questões sobre a destinação dos auxílios sociais em atividades de risco. Esse dado acende um alerta para as autoridades e para o mercado financeiro, visto que uma parte significativa da população mais vulnerável está destinando recursos importantes para o jogo.
O papel do Pix e os riscos para o Nubank
O relatório do Santander também destaca o Pix como o principal meio de pagamento utilizado para apostas esportivas online, representando 72% das transações, seguido pelo cartão de crédito com 18%. Esse fato coloca o Nubank em uma posição delicada, uma vez que a fintech possui o maior número de chaves Pix no Brasil e tem uma grande parcela de suas operações vinculadas a esse sistema de pagamento.
De acordo com os analistas do Santander, o Nubank pode estar exposto a um risco de crédito elevado se uma parte significativa de suas operações via Pix estiver relacionada às apostas online. “Acreditamos que o risco é de que uma parte importante do financiamento de Pix do Nubank esteja relacionado às apostas online, o que resultaria em um risco de crédito extremamente alto”, alertou a equipe de Henrique Navarro.
No segundo trimestre de 2024, 30% das originações de crédito do Nubank via cartão foram financiadas pelo Pix, o que evidencia a importância desse sistema para a fintech. Caso uma parte considerável dessas transações esteja relacionada a atividades de apostas, o risco de inadimplência pode se tornar um problema crescente para a instituição financeira.
Resposta do Nubank
Em nota oficial, o Nubank buscou minimizar a preocupação gerada pelo relatório do Santander. A fintech afirmou que menos de 1% das transações realizadas via Pix e Pix Parcelado em sua plataforma são destinadas às principais plataformas de apostas, que controlam 70% do mercado de apostas online no Brasil.
“Embora seja um tema importante para o Brasil e nós tenhamos tomado precauções especiais, não se tornou significativo dentro de nossa base de clientes, e nossos modelos estão identificando esse comportamento de maneira eficaz”, declarou o Nubank em resposta ao relatório.
Outros fatores de pressão sobre o Nubank
Além da questão das apostas esportivas, o relatório do Santander elenca outros fatores que explicam a recente queda nas ações do Nubank (ROXO34). Um dos principais pontos levantados é a mudança nas regras do crédito consignado do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A partir de 2025, as contratações de crédito consignado poderão ser feitas nos primeiros 90 dias do pagamento dos benefícios, mas apenas pelos bancos pagadores, o que exclui as fintechs, como o Nubank, de participarem dessa fatia do mercado.
Essa exclusão representa um desafio para o crescimento do Nubank no segmento de crédito consignado, que é uma das opções de crédito mais seguras e com menor risco de inadimplência no Brasil. O Santander avalia que essa mudança nas regras pode impactar negativamente a capacidade de expansão da fintech, que já enfrenta a concorrência de bancos tradicionais.
Outro ponto destacado é a intensificação da concorrência no México, onde o Nubank possui sua segunda maior operação. Fintechs locais estão buscando licenças bancárias, o que pode dificultar a entrada do Nubank nesse mercado. A fintech brasileira espera obter sua licença bancária no México até 2025, mas até lá, a competição poderá se acirrar ainda mais.
O futuro do Nubank e o mercado de apostas no Brasil
A crescente relevância das apostas esportivas no Brasil é uma realidade que traz desafios para o mercado financeiro. O envolvimento de uma grande parcela da população de baixa renda com essas atividades aumenta a necessidade de regulamentação e fiscalização mais rígida por parte das autoridades. A atuação do governo em coibir o uso de recursos do Bolsa Família e controlar o uso de cartões de crédito para apostas é um passo importante, mas não suficiente para frear o avanço desse setor.
Para o Nubank, a exposição a clientes de baixa renda e ao sistema Pix, amplamente utilizado para apostas, exige uma vigilância constante. A fintech tem adotado medidas para mitigar os riscos, mas a pressão do mercado e a volatilidade do setor de apostas podem representar obstáculos significativos para seu crescimento futuro.
Embora o Nubank tenha minimizado a relevância das apostas esportivas entre sua base de clientes, os números apresentados pelo Santander mostram que o setor de “bets” tem um impacto relevante no comportamento financeiro de uma parte da população brasileira. A fintech, como líder no uso do Pix, precisa monitorar de perto as transações relacionadas a apostas para evitar o aumento do risco de crédito.
O mercado de apostas esportivas continua a crescer no Brasil, e sua regulamentação será essencial para garantir que os recursos sejam destinados de forma consciente, evitando o endividamento de famílias de baixa renda. Para o Nubank, o desafio será equilibrar o crescimento no mercado financeiro com a necessidade de manter uma base de clientes estável e com baixo risco de inadimplência.