Dólar atinge recorde histórico enquanto mercado reage a mudanças fiscais anunciadas por Haddad
O dólar encerrou a última sessão cotado a R$ 5,9135, o maior valor nominal da história do real. O movimento foi impulsionado pelo anúncio de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, confirmado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em pronunciamento na noite de quarta-feira (27). Essa medida, combinada com um pacote de corte de gastos projetado para economizar R$ 70 bilhões em dois anos, trouxe preocupações sobre o impacto fiscal e suas implicações para a economia.
Principais anúncios do pacote econômico
Haddad detalhou mudanças estruturais, incluindo cortes em benefícios para aposentadorias militares e ajustes no abono salarial, que agora será direcionado a quem recebe até R$ 2.640, com correção anual pela inflação. Essas iniciativas visam equilibrar as contas públicas, mas o mercado financeiro mostrou receio de que a isenção do IR prejudique a arrecadação e enfraqueça a credibilidade fiscal do governo.
A ampliação da faixa de isenção do IR terá como contrapartida a elevação da alíquota para quem recebe mais de R$ 50 mil mensais. Contudo, a falta de detalhes concretos sobre a compensação reforçou o pessimismo dos investidores. Segundo Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, o custo da medida pode ultrapassar R$ 45,8 bilhões, colocando em risco os efeitos positivos do pacote fiscal.
Impactos no mercado financeiro
A reação imediata ao anúncio foi marcada por alta do dólar e volatilidade na Bolsa brasileira. Analistas apontam que a valorização da moeda americana pode continuar no curto prazo, alimentada pela busca de posições defensivas contra o real. “O mercado já precificou boa parte do impacto negativo, mas ainda há espaço para novas altas do dólar”, afirmou Alan Martins, da Nova Futura Investimentos.
A valorização do dólar beneficia exportadoras, que possuem receitas em moeda estrangeira, mas prejudica setores domésticos, pressionando a inflação e elevando as taxas de juros. Segundo Marcelo Boragini, da Davos Investimentos, essa dinâmica pode criar um ambiente desafiador para empresas ligadas à economia interna.
O que esperar do Congresso Nacional
As medidas anunciadas pelo governo dependem de aprovação no Congresso, onde enfrentarão resistência. A viabilidade da isenção do IR e sua compensação serão pontos centrais no debate legislativo. Para o mercado, a incerteza sobre o impacto fiscal pode limitar a eficácia das propostas de Haddad, alimentando dúvidas sobre a capacidade do governo de ajustar as contas públicas.
Além disso, o governo precisa demonstrar um compromisso claro com a responsabilidade fiscal, especialmente em um momento de desconfiança generalizada. “A demora no anúncio de medidas já vinha gerando volatilidade. Agora, a percepção de que a arrecadação pode diminuir agrava essa situação”, destaca Paula Zogbi, da Nomad.
Estratégias para investidores
Especialistas recomendam cautela neste momento de turbulência. A alta do dólar reforça a necessidade de diversificar a carteira de investimentos, priorizando ativos dolarizados ou protegidos contra a desvalorização cambial. Lucélia Freitas Aguiar, da Manchester Investimentos, sugere manter uma parcela do portfólio em moedas fortes como estratégia de proteção.
Alan Martins, por sua vez, orienta evitar ativos mais expostos à economia doméstica e buscar investimentos de menor risco até que o cenário se estabilize. “A volatilidade atual exige uma abordagem prudente, com foco em preservar o patrimônio no longo prazo”, acrescenta.
O recorde histórico do dólar reflete a tensão no mercado diante das mudanças fiscais anunciadas pelo governo. Enquanto a isenção do IR é vista como uma vitória para trabalhadores de renda média, suas implicações fiscais e econômicas levantam preocupações que exigem atenção. O próximo passo será acompanhar o desdobramento das medidas no Congresso e seu impacto sobre a confiança do mercado.