Banco Central estuda nova fonte de recursos para crédito imobiliário diante de déficit habitacional
O Banco Central (BC) está analisando alternativas para criar novas fontes de financiamento voltadas ao crédito imobiliário no Brasil. A informação foi divulgada pelo Diretor de Fiscalização do BC, Ailton Aquino, em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (21), com base nos dados do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) referente ao primeiro semestre de 2024. Segundo Aquino, apesar dos estudos em andamento, não há previsão de implementação de novas medidas.
Déficit habitacional no Brasil: uma crise latente
O déficit habitacional no Brasil é uma realidade alarmante. Dados da Fundação João Pinheiro indicam que, em 2022, o país contabilizava 6 milhões de domicílios em déficit, representando 8,3% do total de habitações ocupadas. O problema afeta principalmente famílias com renda mensal de até R$ 2.640, predominantemente chefiadas por mulheres e pessoas pretas ou pardas. Os estados de São Paulo (1,25 milhão), Minas Gerais (557 mil) e Rio de Janeiro (544 mil) lideram em números absolutos de moradias insuficientes.
Sistemas de financiamento existentes e desafios do setor
Atualmente, os dois principais mecanismos de financiamento imobiliário são o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI). Ambos abrangem financiamentos para compra, construção, reforma e ampliação de imóveis, além de aquisição de materiais de construção. No entanto, a atual estrutura de funding, que depende significativamente da poupança e da Letra de Crédito Imobiliário (LCI), enfrenta desafios para atender às necessidades do mercado.
O relatório do BC destacou que o sistema financeiro nacional necessita repensar seu modelo de funding. Segundo Aquino, é preciso uma nova abordagem para o compulsório de poupança — atualmente, 20% dos depósitos de poupança são recolhidos compulsoriamente pelo Banco Central. Apesar de um leve aumento de 3% nos depósitos no primeiro semestre de 2024, a poupança ainda é considerada um ponto de atenção para sustentar o crédito imobiliário.
Impactos das mudanças nas regras da LCI
A desaceleração no crescimento das carteiras de LCI foi outro ponto abordado pelo REF. No semestre analisado, o crescimento foi de apenas 3%, contra 20% registrado no relatório anterior. Isso ocorreu devido a mudanças regulatórias impostas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que têm impactado o apetite por essa modalidade de investimento. Esse cenário reforça a urgência de diversificar as fontes de recursos para o financiamento habitacional.
Crédito para famílias e empresas: uma análise detalhada
O relatório mostrou que a retomada do crédito bancário para famílias foi mais expressiva nas carteiras de veículos e no crédito não consignado. Já para empresas, a recuperação foi puxada principalmente pelas grandes companhias, mas em ritmo mais moderado que o financiamento por meio de mercado de capitais. Apesar disso, o BC alertou para uma flexibilização nos critérios de concessão de crédito às famílias, o que exige maior atenção à qualidade das operações realizadas.
Embora o cenário geral seja de recuperação, o BC enfatizou que os riscos relacionados à situação financeira das famílias e empresas ainda demandam atenção. O Sistema Financeiro Nacional, no entanto, permanece sólido, com níveis confortáveis de capitalização e liquidez. Além disso, o financiamento à economia real voltou a crescer, ainda que os riscos fiscais continuem presentes.
Perspectivas para o mercado financeiro
O REF indicou que o resultado de juros com operações de crédito segue em alta, acompanhado por uma retomada das receitas de serviços. A expectativa do Banco Central é de que a rentabilidade do sistema financeiro continue a melhorar gradualmente, apoiada por despesas operacionais controladas e receitas crescentes. Essa perspectiva se alinha a um cenário de maior estabilidade no mercado, embora o risco fiscal seja um elemento crítico a ser monitorado.
Recorte internacional: aprendizados e contexto global
Além da análise doméstica, o REF apresentou um panorama do sistema financeiro internacional e das infraestruturas do mercado financeiro global. Essas avaliações permitem ao Banco Central monitorar tendências e riscos externos que possam impactar o mercado brasileiro, garantindo uma abordagem preventiva e estratégica para preservar a estabilidade financeira.
A necessidade de inovação no financiamento imobiliário
A busca por uma nova fonte de recursos para o crédito imobiliário é urgente para enfrentar o déficit habitacional brasileiro. Além de aliviar a pressão sobre os sistemas tradicionais de financiamento, a diversificação do funding pode impulsionar a oferta de moradias, especialmente para as populações mais vulneráveis. No entanto, o desafio está em equilibrar a inovação com a sustentabilidade financeira do sistema, garantindo que as novas medidas atendam às demandas sem comprometer a estabilidade do mercado.