Feito na sexta-feira após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de torná-lo inelegível, o melancólico pronunciamento de Jair Bolsonaro ilustrou os desafios que o ex-presidente e seu partido, o PL, enfrentarão a partir de agora.
Bolsonaro estava em Belo Horizonte quando se dirigiu aos jornalistas que o aguardavam. Rodeado por poucos aliados, precisou encarar a realidade: mais do que os seus próximos passos, o que se queria saber ali era sua opinião sobre o destino da direita e os políticos que terão o seu apoio para liderá-la. Perguntado se preferiria apoiar em 2026 uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), Bolsonaro respondeu: “Por enquanto, prefiro o Johnny Bravo”, referindo-se ao personagem de desenho animado ao qual já se comparou em outras situações.
Esse cenário, contudo, é impensável neste momento. Dificilmente a defesa do ex-presidente conseguirá reverter no Supremo Tribunal Federal (STF) a decisão da Justiça Eleitoral por 5 votos a 2.
O ponto central do caso foi a reunião realizada por Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em julho do ano passado, com embaixadores estrangeiros, durante a qual Bolsonaro proferiu diversos ataques ao sistema eleitoral sem apresentar provas. O encontro foi transmitido pela TV oficial do governo e foi promovido com recursos públicos, o que tem feito com que aliados de Bolsonaro o alertem para o risco de que eventuais pedidos de ressarcimento aos cofres públicos alcancem também o seu bolso.
O TSE decidiu torná-lo inelegível por oito anos por prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação no caso dos embaixadores, mas a saga judicial de Bolsonaro só está começando.
Outros 15 processos estão em curso. Ele é acusado, por exemplo, de usar a máquina pública para elevar benefícios sociais às vésperas das eleições, criar um “ecossistema de desinformação” e transformar o desfile do Sete de Setembro em ato eleitoral. Isso tudo exige de qualquer pessoa uma boa equipe de advogados de prontidão e estabilidade financeira.
Em tese, esse cenário coloca o ex-presidente em uma situação de maior dependência perante o PL, que ainda não conseguiu atrai-lo completamente para a estratégia eleitoral do partido. Bolsonaro tem agido de forma autônoma: a desorganização e ausência de aliados em seu pronunciamento na sexta-feira demonstram isso.
Do ponto de vista do PL, essa situação gera a oportunidade de usar o potencial eleitoral do ex-presidente e, ao mesmo tempo, colocar alguns parâmetros para essa atuação. A sigla tenta atrair prefeitos para, nas eleições municipais do ano que vem, construir as bases necessárias para a manutenção de uma bancada grande na Câmara dos Deputados e aumentar a do Senado.
O PL quer, por exemplo, que Bolsonaro concentre viagens em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, Estados com grande concentração de eleitores. E pesquisará quais são as localidades onde a presença do ex-presidente pode ser mais efetiva para atrair militantes e prefeitos.
Bolsonaro inevitavelmente tentará sedimentar o discurso de que é alvo de perseguição, a despeito de ter sido alertado muitas vezes por aliados que estava extrapolando alguns limites e isso poderia ter consequências. Fontes lembram, inclusive, que lhe foi recomendado abortar a ideia de fazer a reunião com os embaixadores – justamente o encontro que na sexta-feira sacramentou seu destino político pelos próximos oito anos e o tirou da próxima eleição presidencial.
Esse e outros conselhos não foram seguidos por Bolsonaro, que agora ficará dependente da boa vontade do Congresso para ser anistiado. Essa possibilidade, aliás, é vista com grande ceticismo pelos seus aliados mais pragmáticos.
01/07/2023 13:38:10