Ibovespa marca 14 altas seguidas e atinge recorde histórico em 2025
O Ibovespa consolidou nesta segunda-feira (10) o melhor desempenho das últimas três décadas, ao registrar 14 sessões consecutivas de valorização. O principal índice da B3 rompeu pela primeira vez na história a barreira dos 155 mil pontos, alcançando 11 recordes nominais seguidos e reafirmando o protagonismo da bolsa brasileira no cenário global de 2025.
Esse avanço é explicado por uma conjunção de fatores macroeconômicos — do corte de juros nos Estados Unidos ao retorno do investimento estrangeiro em mercados emergentes. A trajetória reforça a percepção de que o Brasil voltou a ser visto como porto seguro para o capital internacional, em um ambiente de queda global das taxas de juros e busca por ativos de maior retorno.
O impulso global que elevou o Ibovespa
O movimento positivo do Ibovespa reflete principalmente o realinhamento da política monetária americana. Com o Federal Reserve (Fed) iniciando cortes graduais nas taxas de juros, investidores têm migrado da renda fixa nos EUA para as bolsas de países emergentes, entre elas o Brasil.
O resultado é uma entrada expressiva de recursos no mercado de capitais brasileiro. Somente nos primeiros dez meses do ano, o fluxo de capital estrangeiro na B3 foi positivo em R$ 25,2 bilhões. O índice acumula alta de 29,08% em 2025, superando diversos mercados internacionais.
Enquanto isso, o IPSA, no Chile, avança 43,97%, o IPC, no México, sobe 27,43%, e o Merval, na Argentina, tem alta acumulada de 16,51%. Mesmo assim, o desempenho do Ibovespa ganha destaque por seu histórico de estabilidade e pela resiliência das empresas listadas.
A força do investidor estrangeiro e os papéis “baratos”
Apesar das máximas históricas, muitas ações brasileiras ainda estão abaixo da média de preço sobre lucro (P/L) — indicador usado para medir o valuation de empresas. Esse cenário atrai investidores internacionais, que enxergam oportunidades de compra em um mercado que combina ativos subavaliados, Selic elevada e perspectiva de cortes futuros de juros.
Para o investidor global, o Brasil tornou-se um destino duplamente vantajoso: ativos descontados e retorno em moeda forte. Mesmo com o recorde nominal, o Ibovespa, ajustado em dólar, segue 35% abaixo do seu pico histórico, registrado em maio de 2008. Em termos reais, o índice opera hoje em cerca de 28,8 mil pontos, contra os 44,6 mil daquele período, o que indica espaço para nova valorização.
Expectativas sobre os juros e o Copom
A expectativa do mercado é que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie um ciclo de redução gradual da Selic em 2026. O último comunicado do BC já reconheceu sinais de arrefecimento da inflação, ainda que tenha mantido um tom cauteloso sobre a política monetária.
Especialistas afirmam que a taxa de juros brasileira, atualmente em 15% ao ano, segue em patamar atrativo para renda fixa, mas o potencial de valorização da renda variável tende a se fortalecer à medida que o ciclo de cortes se confirmar.
Investidor local ainda cauteloso
Enquanto o investidor estrangeiro amplia sua exposição ao mercado nacional, os investidores locais permanecem mais conservadores. Segundo analistas, o elevado nível da Selic faz com que parte dos brasileiros continue priorizando investimentos em renda fixa.
Mesmo assim, outubro de 2025 marcou o primeiro saldo positivo do ano para investidores institucionais na B3, com R$ 285 milhões aplicados em ações. O dado reforça que o mercado doméstico começa a reagir diante do otimismo externo.
Histórico e relevância do Ibovespa
Criado em 1967 e divulgado oficialmente em 2 de janeiro de 1968, o Ibovespa foi o primeiro índice de ações do país. Ele foi projetado para refletir o desempenho médio das principais empresas listadas na bolsa, servindo como termômetro do mercado financeiro brasileiro.
Com o passar dos anos, o índice incorporou mecanismos de segurança e equilíbrio, limitando a participação de cada ação em até 20% da carteira teórica. Atualmente, o papel da Vale (VALE3) detém o maior peso, com 12,15%, seguido por Petrobras (PETR4) e Itaú Unibanco (ITUB4).
Segundo a B3, o recorde atual mostra a força das companhias brasileiras mesmo em um ambiente de juros elevados. A bolsa também destaca o Índice Dividendos (IDIV), que reúne as empresas que mais distribuem lucros, com alta acumulada de 23,9% em 2025.
Projeções para o Ibovespa em 2025 e 2026
O JPMorgan projeta que o Ibovespa encerre 2025 em torno de 155 mil pontos, cenário que pode se consolidar com cortes de juros no Brasil e nos EUA e redução das tensões comerciais globais.
Outras casas de análise, como a XP Investimentos, estimam que o índice possa chegar a 170 mil pontos em 2026, enquanto o BB Investimentos prevê 172 mil pontos — o que representaria um ganho potencial de 15% sobre o fechamento de outubro. Já a Monte Bravo aposta em 175 mil pontos até meados de 2026, antes de um período de ajustes impulsionado pelas eleições presidenciais e expectativas fiscais.
O rali da bolsa e as recomendações para investidores
Analistas como Max Bohn, da Nomos, acreditam que o Ibovespa vive um rali de fim de ano. A recomendação é de ajustar posições e realizar lucros parciais, mas sem sair totalmente do mercado, já que o viés de alta ainda predomina.
Para Matheus Amaral, do Inter, a cautela é necessária: o investidor deve reavaliar os fundamentos das empresas, mantendo foco em fluxo de caixa e previsibilidade de dividendos. Ele reforça que “alta de mercado não é sinal automático de venda”.
Já Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, considera que a bolsa brasileira deixou de ser uma “barganha”, mas ainda oferece boas oportunidades setoriais, especialmente em energia, finanças e commodities.
Riscos e fatores no radar
Os próximos meses devem ser marcados por monitoramento intenso das decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos. O Banco Central reforça que o ambiente global segue incerto e exige postura contracionista prolongada.
Nos EUA, o risco de shutdown (paralisação do governo federal) continua a preocupar, afetando a divulgação de indicadores de inflação e emprego. Ao mesmo tempo, as eleições presidenciais de 2026 começam a entrar no radar dos investidores, que avaliam o impacto das políticas fiscais e monetárias na trajetória futura do Ibovespa.
Ibovespa e o papel do Brasil no cenário global
A bolsa brasileira consolida sua imagem como mercado de referência entre emergentes, sustentada pela diversificação de setores e estabilidade institucional. A valorização recente do Ibovespa simboliza não apenas a confiança externa, mas também a maturidade do mercado de capitais nacional.
Para especialistas, o desempenho atual marca um novo ciclo de protagonismo financeiro do Brasil, com condições estruturais sólidas para manter fluxo estrangeiro positivo e crescimento sustentável nos próximos anos.






