Governo anuncia novas regras do vale-refeição e vale-alimentação com teto de taxas e mais transparência
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou nesta terça-feira (11) o decreto que regulamenta as novas regras do vale-refeição e vale-alimentação, alterando pontos cruciais do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). A medida, publicada no Diário Oficial da União, estabelece limites nas taxas cobradas de restaurantes, reduz o prazo de repasse dos valores aos estabelecimentos e introduz interoperabilidade entre as bandeiras de cartões.
O governo federal argumenta que as mudanças trarão maior competitividade, transparência e benefícios diretos tanto para os trabalhadores quanto para o comércio. A regulamentação vem após mais de dois anos de estudos e negociações entre os ministérios da Fazenda, Trabalho e Emprego e Casa Civil.
O que muda com as novas regras do vale-refeição e vale-alimentação
O decreto publicado por Lula redefine o funcionamento do mercado de benefícios alimentares no Brasil. Entre as principais alterações, destacam-se:
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Criação de um teto de 3,6% na taxa cobrada de restaurantes e estabelecimentos pelas empresas operadoras de vale-refeição;
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Prazo máximo de 15 dias para repasse dos valores pagos — anteriormente, os pagamentos poderiam levar até 60 dias;
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Implantação da interoperabilidade, que permitirá que qualquer maquininha de cartão aceite vales de todas as bandeiras, ampliando a aceitação dos benefícios;
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Migração obrigatória para o modelo de arranjo aberto em até 180 dias, para sistemas de pagamento com mais de 500 mil trabalhadores;
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Proibição de práticas abusivas, como deságios, descontos indevidos, vantagens financeiras paralelas e prazos excessivos;
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Obrigação de orientação aos trabalhadores sobre o uso correto dos benefícios e respeito às normas do programa.
As empresas terão 90 dias para se adequar ao novo teto de taxas e 360 dias para implementar a interoperabilidade total entre as operadoras.
Impacto econômico e social das mudanças
O governo Lula defende que as novas regras do vale-refeição e vale-alimentação trarão ganhos reais para a economia e para o trabalhador.
Atualmente, segundo o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, as taxas cobradas por operadoras podem chegar a 15%, o que desestimula pequenos restaurantes, padarias e hortifrutis a aceitarem o benefício.
Com o teto de 3,6%, o governo estima que milhares de novos estabelecimentos poderão aderir ao sistema, ampliando a rede de aceitação e aumentando o poder de escolha do trabalhador.
Para Lula, a nova regulamentação é “boa para os trabalhadores e boa para o Brasil”, já que reduz custos, estimula a concorrência e beneficia pequenos e médios empreendedores do setor de alimentação.
O que é a interoperabilidade e por que ela muda o mercado
Uma das mudanças mais aguardadas é a interoperabilidade — a integração entre as diferentes bandeiras de cartões de vale-refeição e vale-alimentação.
Atualmente, cada operadora utiliza uma rede de aceitação própria, o que obriga os restaurantes a possuírem múltiplas maquininhas para atender clientes de diferentes bandeiras, gerando custos adicionais.
Com a nova regra, qualquer maquininha poderá aceitar qualquer cartão de benefício, o que deve simplificar as operações comerciais, reduzir custos e aumentar a competitividade entre as empresas do setor.
O prazo para implementação é de 360 dias, e as operadoras terão de adaptar seus sistemas tecnológicos para atender ao novo padrão de integração nacional.
Arranjos abertos e fechados: entenda a diferença
O decreto também define que grandes sistemas — aqueles que administram mais de 500 mil trabalhadores — devem migrar para o modelo de arranjo aberto.
Nesse formato, as funções de instituidor, emissor e credenciador são separadas entre empresas diferentes, o que favorece a transparência e a concorrência.
No modelo anterior, conhecido como arranjo fechado, uma única empresa concentrava todas as etapas: emissão do cartão, credenciamento e cobrança.
Essa estrutura era alvo de críticas por falta de competição e taxas elevadas, que acabavam sendo repassadas aos restaurantes e, indiretamente, aos consumidores.
Com a migração para o arranjo aberto, espera-se uma redução de custos de intermediação e maior liberdade para os estabelecimentos escolherem os prestadores de serviço que melhor se adaptem às suas realidades comerciais.
PAT: o programa que garante alimentação aos trabalhadores
As novas regras do vale-refeição e vale-alimentação estão inseridas no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), criado em 1976.
O PAT é um programa voluntário que concede incentivos fiscais às empresas que oferecem benefícios alimentares aos seus empregados, promovendo nutrição adequada, produtividade e qualidade de vida.
Com o novo decreto, o Ministério do Trabalho e Emprego passa a ser o órgão responsável pela fiscalização, garantindo o cumprimento das regras e punindo irregularidades.
A pasta também deverá promover campanhas de esclarecimento e orientar empresas sobre o uso correto do programa.
Reação do setor: aprovação e expectativa
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) comemorou as mudanças, destacando que a nova regulamentação deve aumentar a concorrência e reduzir custos para o comércio.
Segundo o presidente da Abras, João Galassi, a medida poderá gerar uma transferência de mais de R$ 10 bilhões para os estabelecimentos, valores que antes ficavam retidos nas etapas de intermediação financeira.
A Câmara Brasileira de Benefícios ao Trabalhador (CBBT) também avaliou positivamente as novas regras.
Em nota, a entidade afirmou que o decreto “estimula a ampla aceitação dos vales e garante uma competição justa no setor de benefícios alimentares”, além de fortalecer políticas públicas voltadas ao trabalhador.
Benefícios esperados para trabalhadores e empresas
De acordo com projeções do governo e do setor privado, os principais impactos positivos das novas regras incluem:
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Maior aceitação dos vales-refeição e alimentação em todo o país;
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Aumento do poder de escolha dos trabalhadores sobre onde gastar seus benefícios;
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Fortalecimento de pequenos comércios, que antes evitavam o sistema devido às altas taxas;
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Circulação mais rápida de dinheiro na economia, com o novo prazo de repasse de até 15 dias;
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Transparência e segurança nas transações, com fiscalização direta do Ministério do Trabalho.
Especialistas em economia do trabalho afirmam que as mudanças devem corrigir distorções históricas do sistema, tornando o PAT mais moderno, competitivo e acessível.
Críticas e desafios de implementação
Apesar da boa recepção, o decreto também enfrenta resistência de parte das operadoras de benefícios.
Empresas do setor afirmam que o teto de 3,6% nas taxas pode reduzir sua margem de lucro e levar à revisão de contratos com empresas clientes.
Outra preocupação é a adequação tecnológica necessária para garantir a interoperabilidade entre bandeiras.
A migração de sistemas, integração de bases de dados e certificação de segurança devem exigir investimentos significativos.
O governo, no entanto, reafirma que não há espaço para retrocesso e que o decreto será fundamental para democratizar o acesso aos benefícios e aumentar a eficiência da política pública de alimentação do trabalhador.
Quando as novas regras entram em vigor
As medidas do decreto terão implementação gradual, conforme o seguinte cronograma:
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Teto de 3,6% nas taxas: em 90 dias;
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Prazo máximo de 15 dias para repasses: em 90 dias;
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Arranjo aberto para grandes sistemas: em até 180 dias;
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Interoperabilidade total entre bandeiras: em até 360 dias.
Durante o período de transição, o Ministério do Trabalho e Emprego acompanhará de perto o processo e poderá aplicar multas em caso de descumprimento.
Um novo capítulo no PAT
O decreto de Lula marca uma virada histórica no vale-refeição e vale-alimentação no Brasil.
Ao estabelecer limites para taxas, reduzir prazos e garantir interoperabilidade, o governo pretende criar um sistema mais justo, eficiente e acessível.
A modernização do PAT reforça o compromisso do Estado com o fortalecimento dos direitos trabalhistas, ao mesmo tempo em que estimula a concorrência saudável no setor de benefícios e favorece o pequeno empreendedor.
As novas regras do vale-refeição e vale-alimentação representam, portanto, um avanço concreto na política de bem-estar do trabalhador brasileiro, com reflexos diretos na economia e na qualidade de vida de milhões de cidadãos.






