Com novas regras do INSS, auxílio-doença sem perícia pode chegar a 60 dias
As regras do auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social passaram por uma alteração relevante que impacta diretamente a rotina de trabalhadores afastados por problemas de saúde. A mudança envolve o Atestmed, sistema digital que permite a concessão do benefício por incapacidade temporária sem a realização de perícia médica presencial. A partir da nova regulamentação, o prazo máximo do auxílio-doença concedido apenas com análise documental foi ampliado de 30 para 60 dias consecutivos, dobrando o período de afastamento autorizado de forma remota.
A medida surge em um contexto de esforço do INSS para reduzir filas, acelerar a concessão de benefícios e enfrentar gargalos históricos na área de perícia médica. Ao mesmo tempo, reacende debates sobre segurança jurídica, riscos de fraudes e impacto fiscal, especialmente em um sistema previdenciário pressionado pelo envelhecimento da população e pelo aumento das despesas obrigatórias.
Apesar de representar um alívio imediato para parte dos segurados, a ampliação do prazo tem caráter temporário e validade definida, o que exige atenção redobrada de quem depende do benefício para manter a renda durante o período de afastamento do trabalho.
O que mudou nas regras do auxílio-doença sem perícia
A alteração central está no funcionamento do Atestmed, ferramenta criada para permitir a análise remota de pedidos de auxílio-doença em casos considerados menos complexos. Antes da mudança, o limite máximo de afastamento concedido sem perícia presencial era de 30 dias. Com a nova regra, esse teto passou para 60 dias consecutivos dentro do mesmo período de afastamento.
Na prática, o segurado pode permanecer afastado por até dois meses apenas com a análise de atestados, laudos e exames médicos enviados de forma digital, sem necessidade de comparecer a uma agência do INSS para avaliação presencial. A expectativa do governo é que a medida reduza a sobrecarga nas agendas de perícia e agilize o atendimento de casos simples, liberando a estrutura presencial para situações mais complexas.
Essa mudança reflete a ampliação do uso de soluções digitais na Previdência Social, tendência que ganhou força nos últimos anos como resposta à alta demanda reprimida e às dificuldades operacionais do sistema.
Prazo ampliado, mas com validade definida
Embora o novo limite de 60 dias represente um avanço do ponto de vista operacional, ele não é permanente. A ampliação do prazo foi estabelecida com validade de 120 dias, contados a partir de 8 de dezembro de 2025. Caso não haja nova portaria prorrogando a medida, a regra deixa de valer em abril de 2026.
Essa característica temporária gera incerteza entre segurados e especialistas, especialmente para quem inicia tratamentos médicos contando com o novo prazo e pode ser surpreendido por mudanças no meio do processo. A indefinição também afeta o planejamento financeiro de trabalhadores afastados, que dependem do benefício para manter despesas básicas durante o período de incapacidade.
Do ponto de vista institucional, a limitação temporal permite ao INSS avaliar os impactos da medida antes de decidir por uma eventual prorrogação ou transformação definitiva da regra.
Como funciona o Atestmed na prática
O Atestmed é um sistema digital acessível pelo portal Meu INSS, no qual o segurado envia a documentação médica necessária para solicitar o auxílio-doença. Todo o processo ocorre de forma remota, sem contato presencial com peritos médicos, desde que respeitado o limite máximo de 60 dias de afastamento.
A análise é feita com base exclusivamente nos documentos apresentados, o que torna a qualidade das informações médicas um fator decisivo para a concessão do benefício.
Documentos exigidos para concessão
Para que o pedido seja analisado corretamente, o laudo médico precisa conter informações claras, completas e atualizadas. Entre os dados obrigatórios estão o diagnóstico com o Código Internacional de Doenças, a identificação e assinatura do profissional de saúde, o período recomendado de afastamento e a data recente de emissão do documento.
A ausência de qualquer um desses elementos pode resultar no indeferimento automático do pedido, sem que o segurado tenha a oportunidade de complementar a documentação antes da negativa. Por isso, a atenção aos detalhes é essencial no momento do envio.
Análise feita pelo INSS
Após o envio dos documentos, servidores do INSS realizam a análise documental. Não há entrevista médica nem exame clínico presencial. Caso o pedido seja aprovado, o auxílio-doença é concedido automaticamente, respeitando o limite máximo de 60 dias dentro do mesmo período de afastamento.
Se o segurado precisar de um afastamento superior a esse prazo, será necessário solicitar perícia presencial, o que pode envolver nova etapa de agendamento e espera.
Quem é beneficiado com as novas regras
A ampliação do auxílio-doença sem perícia tende a beneficiar principalmente segurados com problemas de saúde de curta duração, nos quais o afastamento é temporário e bem definido. Nesses casos, o prazo de até 60 dias costuma ser suficiente para a recuperação e o retorno ao trabalho.
Situações como viroses intensas, pós-operatórios simples, lesões agudas e tratamentos clínicos com previsão clara de recuperação se encaixam melhor no modelo do Atestmed. Para esses trabalhadores, a medida reduz burocracia, evita deslocamentos e garante acesso mais rápido ao benefício.
Redução de filas e burocracia
Outro efeito esperado da mudança é a diminuição da pressão sobre o sistema de perícias presenciais. Ao ampliar o número de concessões feitas de forma digital, o INSS consegue direcionar a estrutura de perícia médica para casos mais complexos, que realmente exigem avaliação clínica detalhada.
Essa redistribuição tende a reduzir filas, encurtar o tempo de espera para perícias presenciais e melhorar a eficiência do atendimento como um todo, desde que acompanhada de critérios rigorosos de análise documental.
Quem pode sair prejudicado com a mudança
Apesar das vantagens, a ampliação do prazo do auxílio-doença sem perícia não beneficia todos os segurados. Em alguns casos, a nova regra pode até gerar dificuldades adicionais no acesso ao benefício adequado.
Pessoas com doenças crônicas, degenerativas ou incapacitantes costumam necessitar de afastamentos superiores a 60 dias. Nessas situações, a perícia presencial continua sendo obrigatória. O problema surge quando o segurado atinge o limite do Atestmed e precisa agendar avaliação médica, enfrentando filas e possíveis atrasos no atendimento.
Além disso, casos que exigem a conversão do auxílio-doença em aposentadoria por incapacidade permanente dependem de perícia detalhada, algo que não pode ser substituído por análise documental.
Risco de interrupção do benefício
Um dos pontos mais sensíveis é a transição entre o benefício concedido via Atestmed e a necessidade de perícia presencial. Caso o segurado não consiga agendar a perícia a tempo ou tenha o pedido indeferido, pode ocorrer interrupção no pagamento, gerando insegurança financeira em um momento de fragilidade.
Esse risco é apontado como uma das principais fragilidades do modelo, especialmente para trabalhadores que já enfrentam dificuldades de saúde e dependem integralmente da renda previdenciária.
Críticas e riscos apontados por órgãos de controle
O modelo de concessão do auxílio-doença sem perícia presencial não é consenso entre especialistas. Entidades médicas, órgãos de controle e tribunais de contas têm manifestado preocupações quanto à segurança e à eficácia do sistema.
Peritos médicos argumentam que a análise documental não substitui uma avaliação clínica completa, capaz de verificar limitações funcionais reais, evolução do quadro e possíveis inconsistências nos laudos apresentados. Há receio de que o modelo facilite concessões indevidas, especialmente quando os atestados são genéricos ou pouco detalhados.
O Tribunal de Contas da União acompanha de perto a política do Atestmed e cobra mecanismos mais rígidos de controle para evitar o uso de documentos falsos ou adulterados, que podem gerar prejuízos significativos aos cofres da Previdência Social.
Fiscalizações mais rigorosas no radar
Como resposta às críticas, o INSS pode intensificar fiscalizações, cruzamentos de dados e revisões posteriores de benefícios concedidos. Embora esse movimento busque proteger o sistema contra fraudes, ele também pode aumentar o número de indeferimentos automáticos, inclusive em casos legítimos, caso haja qualquer inconsistência na documentação apresentada.
Esse cenário reforça a importância de cuidado extremo no envio dos documentos médicos e no acompanhamento do processo pelo segurado.
O que fazer se o auxílio-doença for negado ou atrasado
Diante das mudanças e dos riscos envolvidos, especialistas recomendam atenção redobrada ao solicitar o benefício. Em caso de negativa ou demora excessiva, insistir apenas no recurso administrativo pode não ser a melhor estratégia, já que esse caminho costuma ser demorado e sem garantia de reversão.
Organizar toda a documentação médica, com laudos detalhados, exames recentes e histórico clínico completo, aumenta as chances de sucesso tanto na via administrativa quanto judicial.
Em situações mais complexas, a via judicial pode ser uma alternativa eficaz. A Justiça permite a realização de perícia médica independente, com análise aprofundada do quadro do segurado, além de possibilitar decisões mais rápidas em casos urgentes, inclusive com pagamento retroativo quando há direito comprovado.
Impactos para o futuro da Previdência Social
A ampliação temporária do auxílio-doença sem perícia evidencia um dilema estrutural da Previdência Social: como equilibrar agilidade no atendimento com controle de gastos e segurança jurídica. O uso de ferramentas digitais é um caminho sem volta, mas ainda demanda ajustes finos, fiscalização constante e avaliação de impactos.
A decisão de prorrogar ou não o prazo de 60 dias após abril de 2026 dependerá de análises técnicas, impacto financeiro e pressão social. Até lá, segurados devem acompanhar de perto as atualizações normativas e agir com planejamento ao solicitar o benefício.
As novas regras do auxílio-doença sem perícia representam um avanço pontual na desburocratização do INSS, oferecendo alívio temporário para muitos trabalhadores afastados por problemas de saúde. Ao mesmo tempo, expõem fragilidades do sistema e riscos de interrupção do benefício em casos mais complexos. Informação qualificada, organização documental e orientação especializada seguem sendo elementos fundamentais para quem depende da Previdência Social em um cenário de constantes mudanças.






