A Ucrânia saudou a decisão dos EUA de fornecer bombas de fragmentação (chamadas de cluster, em inglês), com o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, delineando “cinco princípios-chave” que, segundo ele, regeriam o uso das controversas armas.
Bombas de fragmentação, cujo uso é proibido em mais de 100 países, incluindo vários membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e importantes aliados da Ucrânia, serão usadas enquanto o país devastado pela guerra pressiona sua contra-ofensiva contra a Rússia, disse o ministro ucraniano em um longo post no Twitter.
As armas ajudarão a Ucrânia a libertar os territórios ocupados e salvar a vida de seus soldados, disse Reznikov, acrescentando que o Artigo 51 da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) permite que Kiev as use como “autodefesa”.
“Temos cinco princípios-chave que cumpriremos e que comunicamos claramente a todos os nossos parceiros, incluindo os EUA”, disse Reznikov.
Isso inclui a obrigação de não usar as armas no território oficialmente reconhecido da Rússia e em áreas urbanas onde possam causar mais danos aos civis.
Disparadas de aeronaves ou de artilharia terrestre, mísseis ou lançadores de foguetes, as bombas de fragmentação abrem em vôo, dispersando bombas que podem atingir veículos blindados ou pessoal e são particularmente eficazes contra forças entrincheiradas. Aqueles que não explodem representam um perigo por anos, até décadas, para os civis.
A Ucrânia vai manter um registro estrito do uso das armas e priorizará a desminagem nos territórios onde as bombas forem lançadas “após a vitória”, segundo Reznikov.
“Relataremos aos nossos parceiros sobre a aplicação e eficiência das armas para garantir o controle”, disse o ministro ucraniano.
A Rússia condenou a decisão dos EUA, tomada pelo presidente americano Joe Biden meses depois que um pedido de armas foi feito pela primeira vez pela Ucrânia.
A medida foi “outra manifestação flagrante do curso anti-russo agressivo dos EUA com o objetivo de prolongar o conflito na Ucrânia”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, em comunicado.
“A experiência do uso de munições cluster no Oriente Médio e em outras regiões do mundo mostra que seus elementos podem permanecer sem explodir por muito tempo e detonar após o fim das hostilidades”, disse Zakharova.
Os EUA, a Rússia e a Ucrânia estão entre os países que não são signatários da Convenção sobre Munições Cluster, um tratado internacional de 2010 que visa proibir todo uso, transferência, produção e armazenamento de armas.
O Reino Unido é um dos 123 signatários. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse que o Reino Unido está comprometido com a convenção, mas acrescentou que continuará a apoiar a Ucrânia, informou a BBC. O ministro da Defesa da Espanha, outro signatário, disse que as armas não deveriam ser enviadas.
Reznikov disse que as forças do Kremlin estavam usando munições cluster “desde o primeiro dia” da guerra.
Em fevereiro e março de 2022, Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, “foi implacavelmente bombardeada por munições cluster russas”, disse ele.
“Nossa posição é simples – precisamos libertar nossos territórios temporariamente ocupados e salvar as vidas de nosso povo, portanto, precisamos infligir perdas ao inimigo.”
— Foto: Andrii Marienko/AP