A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse a autoridades chinesas que os controles americanos sobre investimentos na China afetariam apenas setores sensíveis relativos à segurança nacional. Ela transmitiu a mensagem durante sua visita de quatro dias à China, que tinha como objetivo estabilizar a turbulenta relação entre as duas potências.
Em entrevista coletiva no último dia de sua visita, que incluiu reuniões com o premiê da China, Li Qiang, e o vice-premiê, He Lifeng, encarregado da política econômica, Yellen afirmou que queria dirimir as preocupações sobre os prejuízos que as medidas de segurança nacional poderiam causar à economia chinesa.
Janet Yellen — Foto: Susan Walsh/AP
Durante a visita, Yellen ressaltou o potencial de uma contínua cooperação comercial e econômica entre os EUA e a China e destacou o desejo de Washington de estabilizar as relações, mesmo depois de dificultar o acesso da China à tecnologia americana.
O governo do presidente Joe Biden estuda a adoção de um mecanismo para reduzir o risco de que investimentos dos EUA ajudem as forças armadas da China. “Eu enfatizei que [a triagem dos investimentos] seria extremamente direcionada e se limitaria de forma clara a alguns setores onde temos preocupações específicas com a segurança nacional”, disse Yellen.
A secretária do Tesouro americano também reiterou a importância de um engajamento de alto nível entre Washington e Pequim, apesar das preocupações relacionadas à segurança. “Mesmo nas áreas em que temos divergências, acredito que existe uma importância evidente nas discussões francas e profundas”, afirmou.
Yellen disse que manifestou às autoridades chinesas equivalentes suas preocupações sobre todo tipo de questões, desde as de segurança e direitos humanos até o “aumento nas medidas coercitivas contra empresas americanas”.
“Também abordei a importância de acabar com a guerra brutal e ilegal da Rússia contra a Ucrânia”, disse ela antes de deixar Pequim. “Indiquei que é essencial que as empresas chinesas evitem fornecer à Rússia apoio material ou assistência na evasão das sanções.”
A visita de Yellen coincide com um momento em que a China vê uma recuperação econômica decepcionante depois da suspensão dos controles da política de covid-zero. O país tem uma meta de crescimento de 5% neste ano, mas economistas temem que alguns motores de seu crescimento, como o setor imobiliário, tenham entrado em uma crise prolongada.
Isso levou o governo chinês a buscar mais mais investimentos estrangeiros. Mas as tensões com os EUA prejudicam esse esforço, com as empresas preocupadas em serem pegas no meio de sanções comerciais retaliatórias e medidas de segurança nacional cada vez mais duras.
De forma geral, a cobertura dos meios de comunicação estatais da China sobre a visita de Yellen foi discreta. A agência de notícias Xinhua descreveu as negociações como “construtivas” e “pragmáticas”, mas ressalvou que Pequim acredita que “generalizar” questões de segurança nacional “não favorece as trocas econômicas e comerciais normais”.
O nacionalista “Global Times” foi mais efusivo e mencionou que a segunda autoridade mais alta da China, o premiê Li Qiang, disse a Yellen que “as relações entre a China e os EUA podem ver ‘arco-íris’ depois de uma rodada de ‘vento e chuva’”.
Dennis Wilder, importante ex-especialista da CIA sobre a China e que hoje está na Universidade de Georgetown, afirmou que os líderes chineses “claramente veem a secretária Yellen como uma das altas autoridades mais pragmáticas e menos políticas do governo Biden”.
“Eles também avaliam que historicamente as relações econômicas e comerciais têm sido o lastro das relações EUA-China, ao estabilizar os laços entre os dois países mesmo quando questões como Taiwan ou a repressão de Tiananmen turvaram seu relacionamento”, acrescentou Wilder. “Afinal de contas, o comércio bilateral EUA-China como um todo continua a subir para novos patamares, mesmo com seu relacionamento geral atingindo os níveis mais baixos.”