Os preços ao consumidor da China estacionaram em junho, após mais de dois anos em alta, segundo dados do governo divulgados na segunda-feira, trazendo preocupações sobre uma possível entrada em território de deflação no futuro.
O índice geral de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou estável (0%) em junho na comparação com o mesmo mês do ano passado. O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia – uma medida do poder de compra das famílias – subiu 0,4%, seu aumento mais fraco desde março de 2021, devido à demanda fraca.
A fraca recuperação econômica da China após o pior momento da pandemia de covid-19 também arrastou as expectativas de inflação das famílias para novos mínimos. Um período prolongado de crescimento lento dos preços aumenta o espectro de uma deflação total.
Os preços tendem a cair para uma gama cada vez maior de bens duráveis. Os dados de segunda-feira mostraram quedas ao ano de 4,3% para automóveis e outros veículos, 1,8% para eletrodomésticos e 1,5% para dispositivos de comunicação como smartphones.
A fraqueza no mercado de condomínios está contribuindo para algumas dessas tendências de baixa, com menos pessoas comprando novos móveis e eletrodomésticos à medida que se mudam para novas casas. Os níveis de aluguel caíram em todos os meses desde maio de 2022.
Os preços dos combustíveis para veículos – incluindo a gasolina, que é fortemente afetada pelos movimentos do mercado internacional – caíram 17,6%, uma queda mais acentuada em relação a maio. O aprofundamento da queda acompanha o esfriamento da economia, após o pico causado no ano passado pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
Enquanto isso, a carne de porco, um alimento básico que representa cerca de 60% do consumo de carne da China, caiu 7,2%.
Como o crescimento do CPI desacelerou desde o pico em janeiro, as expectativas de inflação ao consumidor diminuíram. Apenas 23,1% dos entrevistados na pesquisa de abril a junho do Banco do Povo da China (PBoC, o banco central) com 20 mil depositantes urbanos veem os preços subindo neste trimestre, a menor participação em dados comparáveis desde o segundo trimestre de 2010.
Isso reflete uma tendência crescente de economia entre os consumidores – como esperar que os produtos sejam colocados à venda – em meio à incerteza persistente sobre suas perspectivas econômicas, incluindo o emprego.
Um total de 5,52 milhões de empregos urbanos foram criados nos primeiros cinco meses de 2023, uma queda de 8% em relação aos níveis médios pré-pandêmicos do mesmo período entre 2017 e 2019.
Para enfrentar a crise, as empresas tentam alimentar a demanda. Alibaba e JD.com, duas das principais empresas de comércio eletrônico da China, cortaram preços agressivamente durante o festival de compras on-line “618”, no mês passado. A escalada da concorrência de preços está comprimindo as margens de lucro.
Os dados de segunda-feira também mostraram que o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) estendeu sua sequência de quedas para nove meses, ao recuar 5,4% em junho, deflação maior do que a de 4,6% observada em maio.
É provável que os preços mais baixos das commodities também atrapalhem o CPI.
“O CPI deverá ficar estável por enquanto e pode até cair temporariamente em território de deflação”, disse Toru Nishihama, economista-chefe do Dai-ichi Life Research Institute.