Chief Happiness Officer (CHO) ou, em português, diretor de felicidade. O cargo está nos holofotes, desde que passou a se falar mais sobre a importância de cuidar do bem-estar e saúde mental dos funcionários. Mas, afinal, o que faz esse profissional?
“Sou responsável por definir a estratégia, preparar as lideranças e acompanhar as ações e indicadores internos, incluindo a pesquisa da felicidade”, resume Lívia Azevedo, recém-empossada como diretora de felicidade do grupo Heineken. Antes, ela ocupava o cargo de diretora de pessoas na companhia.
A Heineken afirma ter começado a medir a felicidade de seus empregados em meados de 2022 e, como continuidade desse trabalho, criou a diretoria de felicidade, que Azevedo comanda. Segundo a companhia, a nova área será responsável por “acompanhar e agir para aumentar o sentimento de bem-estar dos 14 mil colaboradores espalhados pelo Brasil”. Ainda de acordo com a empresa, a iniciativa “representa um novo pilar estratégico da companhia para sustentar o crescimento previsto nos próximos anos”.
A nova área é formada por profissionais de recursos humanos e de saúde, como psicólogos e médicos, na intenção de fazer um cuidado integrado entre saúde física e mental. Dessa forma, Azevedo se reporta à vice-presidência de pessoas da companhia.
A diretora de felicidade explica que a área, sozinha, não é capaz de alcançar o resultado esperado. “Esse é um trabalho que conduzimos, orientamos e acompanhamos, mas faz parte da agenda de todas as áreas e lideranças da companhia”, diz. “Para aplicação da pesquisa da felicidade, por exemplo, utilizamos a ciência da felicidade como base teórica. O modelo PERMA, da psicologia positiva, traz cinco pilares (emoções positivas, engajamento, relacionamentos positivos, propósito e realizações) que, se trabalhados intencionalmente, podem contribuir para o aumento da felicidade das pessoas.”
Além disso, ela continua, “os laboratórios de felicidade contribuem para experimentarmos ações voltadas ao desenvolvimento desses pilares e têm nos ajudado a compreender quais caminhos podemos seguir e quais ações são mais efetivas para cada time”.
O envolvimento dos gestores é parte essencial. “Focamos também no desenvolvimento da nossa liderança por meio do programa Be Leader, compartilhando conhecimento sobre a ciência da felicidade e segurança psicológica e proporcionando um ambiente aberto para trocas, dúvidas e conversas verdadeiras entre líderes.”
Também como estratégia, a empresa tem o que chama de embaixadores da felicidade, colaboradores voluntários, que iniciaram uma formação em felicidade corporativa para que possam influenciar e atuar na sua localidade alinhados à agenda da “jornada da felicidade”.
Quando questionada sobre como define felicidade, Azevedo comenta que “a felicidade é única e exclusivamente individual, por mais que trabalhemos no coletivo, sabemos que cada indivíduo é um universo e isso importa”.
Nesse sentido, ela diz que no grupo Heineken as pessoas podem ser quem são, o que contribui para o bem-estar e a tal felicidade. “Cada pessoa na sua individualidade pode ser quem ela é”, afirma. “Criar esse ambiente onde as pessoas possam ser quem são, onde elas se sintam seguras em expor seus sentimentos e emoções é o que faz com que elas se sintam pertencentes e reconhecidas, e isso traz mais felicidade.”
A executiva diz, ainda, que pessoas felizes consigo e com o local em que trabalham ficam mais tempo nas empresas, são mais produtivas e mais saudáveis, além de terem mais emoções positivas, maior engajamento, melhores relações e mais propósito naquilo que fazem. “Existem estudos que comprovam os benefícios para o negócio, financeiramente falando, quando investimos na felicidade do time. É uma agenda em que todos podem sair ganhando e isso é ótimo.”
Outra empresa que anunciou recentemente um chief happinnes officer foi a Chilli Beans, rede especializada em óculos escuros. Segundo a marca, “o trabalho do CHO vai bem além do happy hour”, sendo esse especialista “o grande incentivador e influenciador do tema da felicidade nas companhias”.
Denize Savi, CHO da Chilli Beans: “Está sob minha responsabilidade promover um ambiente com empatia, respeito e autonomia.” — Foto: Divulgação
Denize Savi, CHO da Chilli Beans, diz que não existe um modelo ideal de planejamento para trabalhar a felicidade dentro das organizações porque o assunto ainda é muito novo. “Há algumas linhas a serem escolhidas”, afirma.
Ela, que vai atuar como CHO em tempo parcial para a empresa, adotou a estratégia de introduzir o tema através de um programa de felicidade que começou a rodar em janeiro e está sendo conduzido pelo consultor em felicidade corporativa Vinícius Kitahara.
“Uma vez por semana reunimos colaboradores de diferentes setores para apresentar a iniciativa e desenvolver as ferramentas com eles”, comenta. “O programa tem duração de um ano, mas ele é a porta de entrada de uma estratégia mais ampla de olhar para o bem-estar e a saúde mental do colaborador de forma permanente.”
Segundo Savi, depois de finalizada essa primeira etapa, a empresa dará sequência implementando outras iniciativas. “Basicamente, minha atribuição é ser a pessoa dentro da empresa que responde pela divisão de bem-estar do colaborador”, explica. “Está sob minha responsabilidade promover um ambiente com empatia, respeito e autonomia.”
Isso é possível, diz Savi, transformando o clima organizacional, desenvolvendo um ambiente com segurança psicológica, abrindo espaço para que os funcionários falem o que pensam sem preocupações, sem medo de serem invalidados. “Onde eles possam compartilhar suas opiniões e ideias abertamente, mostrar todas as suas habilidades, assumir riscos, admitir falhas, aprender com as falhas, estimular a inovação e terem discussões honestas e abertas.”
Savi, que estuda a ciência da felicidade há cinco anos, comenta, ainda, que ao contrário do que muitas pessoas pensam, felicidade corporativa não é ser uma empresa descolada, que abraça a diversidade, onde pode levar o pet, não tem dress code, pode fazer home office, etc. “Isso tudo já existe na Chilli Beans, mas não é isso que faz uma empresa feliz”, afirma. “O que faz uma empresa feliz vem antes de tudo isso. É investir na saúde mental dos trabalhadores e, consequentemente, na satisfação com a vida profissional. Uma empresa não é feita de processos, é feita de pessoas. É preciso criar uma cultura humanizada.”