No cenário automobilístico brasileiro, a ascensão da chinesa BYD tem sido marcada por números impressionantes. Em dezembro do ano passado, a empresa conquistou um feito inédito ao se posicionar entre as dez marcas de automóveis mais vendidas no país, segundo dados da Fenabrave. Com a comercialização de 5.500 veículos elétricos e híbridos, a BYD evidenciou um crescimento exponencial em relação ao ano anterior, quando suas vendas mal ultrapassavam 100 unidades.
O sucesso da BYD não é um evento isolado, mas sim parte de uma tendência mais ampla que tem impulsionado investimentos bilionários no setor automotivo brasileiro. Segundo a Anfavea, já estão encomendados pelo menos 100 bilhões de reais em investimentos para os próximos anos, representando o maior ciclo de investimentos da história do país. Dentre as empresas que anunciaram aportes significativos estão gigantes como GM, Hyundai, Nissan, Renault, Stellantis, Toyota e Volkswagen, além das próprias BYD e Great Wall Motors (GWM), ambas chinesas e em processo de construção de suas primeiras fábricas de carros elétricos no Brasil.
No entanto, ao contrário de ciclos anteriores de investimentos que visavam a expansão da produção, o foco atual está no desenvolvimento de produtos, especialmente veículos híbridos e 100% elétricos. Esse redirecionamento estratégico reflete a crescente demanda e a mudança de paradigma na indústria automotiva global, onde a eletrificação se torna cada vez mais predominante.
De acordo com especialistas do setor, a corrida para incluir veículos eletrificados nos portfólios das montadoras é essencial para manter a competitividade. Ricardo Bacellar, consultor especializado na indústria automotiva, destaca que “quem não tiver [veículos eletrificados] vai perder espaço”. Esse movimento é evidenciado pelos planos ambiciosos da Stellantis, que pretende lançar quarenta novos modelos no mercado brasileiro, incluindo tecnologias de eletrificação.
O mercado brasileiro de veículos eletrificados engloba tanto os modelos 100% elétricos, movidos exclusivamente a bateria, quanto os híbridos, que combinam um motor a combustão com uma bateria auxiliar. Embora o Brasil ainda dependa majoritariamente de importações nesse segmento, o crescimento das vendas tem sido expressivo. Em 2023, as vendas de veículos elétricos e híbridos cresceram 91%, totalizando 93.900 unidades, de acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
O impulso do governo, através de políticas como a isenção temporária do imposto de importação sobre veículos elétricos e o programa Mover, que oferece créditos tributários para fabricantes que investem em pesquisa, tem sido fundamental para destravar os investimentos no setor.
Apesar dos avanços, ainda existem desafios a serem superados. A baixa durabilidade das baterias e o alto custo inicial dos veículos elétricos são preocupações que precisam ser endereçadas. No entanto, com a BYD lançando modelos mais acessíveis, como o Dolphin Mini, por 115.000 reais, e a aposta das fabricantes nos híbridos flex, o mercado brasileiro demonstra potencial para liderar a eletrificação automotiva e servir como exemplo para o mundo.