Na interseção obscura entre o mundo do entretenimento e o submundo do crime, a figura de Vagner Borges Dias assume uma dualidade intrigante. Conhecido como Latrell Brito nas redes sociais e canais de música da internet, ele encanta os fãs com um estilo peculiar de pagode, misturando letras controversas com ritmos contagiantes. No entanto, nos bastidores da vida real, Vagner Borges Dias é uma peça-chave em um esquema milionário de lavagem de dinheiro e fraudes em licitações públicas, supostamente operado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC).
A última terça-feira (16) marcou um golpe significativo contra essa rede criminosa, com a deflagração da Operação Munditia pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Latrell Brito foi um dos principais alvos dessa operação, que resultou na prisão de 13 pessoas, incluindo três vereadores, uma servidora pública, um advogado do Legislativo e empresários.
As acusações são graves: envolvimento em fraudes em contratos públicos e favorecimento a negócios utilizados pelo PCC para lavar dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Os contratos em questão totalizam impressionantes R$ 200 milhões, abrangendo serviços de mão de obra terceirizada, firmados com prefeituras e Câmaras de Vereadores do estado.
Latrell Brito é apontado como parte do núcleo empresarial desse esquema, controlando empresas em seu nome e de terceiros. Entre elas, destaca-se a Vagner Borges Dias ME, além de pelo menos outras sete firmas. Segundo as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), essas empresas eram usadas para fraudar concorrências públicas, simulando uma competição que favorecia o grupo criminoso.
A juíza da 5ª Vara Criminal de Guarulhos, Priscila Devechi Ferraz Maia, ressaltou em sua ordem de prisão o aumento significativo do capital da empresa de Latrell durante o período em que as fraudes ocorreram. Outras empresas também estão sob escrutínio, como a CJM Comercial e Utilidades e a Mova Empreendimentos, todas supostamente vinculadas ao esquema.
Além dos empresários ligados a Latrell Brito, a operação resultou na prisão de outras figuras-chave, como Márcio Zeca da Silva, Carlos Roberto Galvão Júnior e Antonio Carlos de Morais, todos suspeitos de envolvimento com o PCC. O presidente do União Brasil em Suzano, Dário Reisinger Ferreira, também foi detido.
A Operação Munditia representa mais um golpe contra a estrutura criminosa que se infiltrou nos meandros do poder público, revelando a face sombria por trás das artimanhas do pagodeiro Latrell Brito e seus comparsas.