A recente alta do dólar trouxe incertezas sobre seus possíveis impactos na inflação. Na quarta-feira, 19, a moeda americana foi cotada a R$ 5,45, acumulando uma alta de 12,36% no ano e 6,89% nos últimos 30 dias. Entretanto, economistas preveem que esse patamar não deve se manter nos próximos meses, conforme indica o Boletim Focus do Banco Central.
Expectativas do Mercado
O Boletim Focus desta semana aponta uma expectativa de câmbio cotado a R$ 5,13 para este ano, um valor ligeiramente mais alto do que o previsto na semana anterior (R$ 5,05). Apesar do avanço recente, a tendência é de que a moeda americana recue dos atuais R$ 5,45. Essa movimentação exigirá monitoramento atento nas próximas semanas.
Principais Preocupações
Para os economistas, o impacto maior atualmente vem das variações climáticas, como as chuvas no Sul e a seca na região central e no Norte do Brasil, que afetam os preços dos alimentos. A cotação do dólar no pregão de quarta-feira estava em R$ 5,44, acumulando alta de 12,18% no ano e 6,72% nos últimos 30 dias.
O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, acredita que a perspectiva de câmbio não é tão dramática quanto a situação atual sugere. Ele argumenta que as incertezas sobre os juros nos Estados Unidos e a política fiscal no Brasil estão influenciando negativamente o câmbio, mas que esses fatores devem perder força nos próximos meses.
Revisão das Projeções de Inflação
Romão ajustou a projeção de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano de 3,7% para 3,9%. A alta no câmbio médio para o ano, previsto anteriormente em R$ 5,07 e agora em R$ 5,16, junto com o vigor do mercado de trabalho, influenciou essa revisão. No entanto, o principal fator foi o impacto das enchentes no Sul sobre os preços dos alimentos.
Guilherme Moreira, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (IPC-Fipe), também está mais preocupado com os efeitos climáticos sobre a produção de alimentos do que com o câmbio. Ele explica que os impactos de uma desvalorização cambial nos preços levam de quatro a cinco meses para chegar ao consumidor, sendo mais imediatos na cotação dos combustíveis.
Preços no Atacado
André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que o impacto da desvalorização cambial nos preços é proporcional ao tempo que o dólar permanece no novo patamar. Ele também não acredita que o nível atual do câmbio se sustente no médio e longo prazos, apontando que as projeções do Boletim Focus para o dólar (R$ 5,10) estão distantes dos atuais R$ 5,40.
Braz menciona que já houve uma reversão nos preços no atacado de commodities como milho, soja e trigo entre maio e junho, embora ainda não seja possível atribuir essa mudança totalmente ao dólar, considerando também os impactos das enchentes no Sul.
A alta recente do dólar e suas flutuações trazem preocupações, mas economistas acreditam que esses efeitos podem ser temporários. A principal preocupação imediata continua sendo o impacto das variações climáticas sobre os preços dos alimentos, enquanto a perspectiva para o câmbio é de uma eventual estabilização em um patamar mais baixo nos próximos meses.