A relação de Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), com Marcola do PCC, levanta discussões sobre segurança pública e ética na política paulistana
A relação familiar entre um servidor da Prefeitura de São Paulo e Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, chefe da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), virou tema de debate entre candidatos à Prefeitura paulistana na noite de quinta-feira (3 de outubro de 2024). O embate aconteceu durante o debate promovido pela TV Globo, no qual Guilherme Boulos, candidato pelo PSOL, confrontou Ricardo Nunes, atual prefeito e candidato à reeleição pelo MDB, sobre o vínculo de Eduardo Olivatto, chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), com o líder do PCC.
Quem é Eduardo Olivatto e sua ligação com Marcola?
Eduardo Olivatto é um servidor de carreira da Prefeitura de São Paulo, ocupando atualmente o cargo de chefe de gabinete na Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras. Sua ligação com Marcola, líder da maior facção criminosa do Brasil, remonta ao passado, quando Olivatto era casado com a irmã de Marcola. Embora não existam acusações criminais diretas contra Olivatto, a revelação dessa conexão familiar gerou discussões acaloradas sobre sua presença no serviço público, especialmente em um cargo de alta relevância dentro da administração municipal.
A reportagem que trouxe o caso à tona foi publicada pelo portal UOL e revelou que essa relação familiar já era conhecida nos bastidores da política paulistana, mas ganhou destaque a partir do momento em que Boulos utilizou o tema no debate eleitoral. O candidato do PSOL levantou questionamentos sobre a ética de se manter um servidor com esse tipo de conexão familiar em um posto estratégico da administração pública.
Debate acalorado entre Boulos e Nunes
Durante o debate, Boulos confrontou Nunes diretamente, perguntando se o prefeito tinha conhecimento da relação entre Olivatto e Marcola, e por que o servidor continuava ocupando um cargo importante na prefeitura. “Como a gestão de Ricardo Nunes pode justificar a permanência de um servidor com laços familiares tão próximos com o chefe de uma organização criminosa?”, questionou Boulos.
Nunes, por sua vez, defendeu Eduardo Olivatto, afirmando que ele é um servidor de carreira, com um histórico de serviço público e que sua nomeação foi feita com base em seu mérito profissional. O prefeito ainda ressaltou que não há qualquer investigação criminal em curso contra Olivatto, reforçando que a relação familiar não deveria ser usada para questionar a integridade de um servidor público. “Estamos lidando com uma tentativa de distorcer os fatos e atacar a minha gestão com base em vínculos pessoais que não têm relevância para a atuação profissional do servidor”, respondeu Nunes.
Impacto político e ético
O caso rapidamente se espalhou pelas redes sociais, gerando debate tanto entre eleitores quanto entre especialistas em política e segurança pública. Para muitos, a discussão expõe uma questão sensível sobre a presença de servidores públicos com vínculos familiares com indivíduos envolvidos no crime organizado. Embora não existam acusações formais contra Olivatto, o simples fato de sua ligação familiar com Marcola traz questionamentos sobre a transparência e a ética dentro da administração pública.
No âmbito eleitoral, Boulos aproveitou o caso para reforçar suas críticas à gestão de Nunes, que segundo ele, falha em garantir um distanciamento claro entre a política pública e possíveis influências de grupos criminosos. Não se trata de atacar pessoas por suas relações familiares, mas de garantir que não haja nenhum tipo de interferência ou risco para a administração pública”, afirmou o candidato do PSOL.
Especialistas, por sua vez, argumentam que a discussão levanta um ponto válido, mas que é importante fazer uma distinção clara entre a vida pessoal e a atuação profissional de um servidor público. “O fato de uma pessoa ter uma relação familiar com alguém envolvido no crime não a torna automaticamente inadequada para exercer funções públicas. No entanto, é essencial que haja uma investigação rigorosa para garantir que não existam conflitos de interesse ou influências indevidas”, explica Maria Clara Vasconcelos, cientista política e professora da USP.
As respostas da prefeitura
Após o debate, a Prefeitura de São Paulo emitiu uma nota oficial defendendo Eduardo Olivatto e reafirmando que não existem acusações contra ele. A nota destacou que Olivatto é um funcionário de carreira, com mais de 20 anos de serviços prestados à administração pública, e que sempre cumpriu suas funções com competência e responsabilidade. “A relação familiar em questão não tem qualquer impacto em sua atuação como servidor. Eduardo Olivatto segue desempenhando suas funções conforme os princípios da administração pública”, afirma o comunicado.
A nota também ressaltou que qualquer tentativa de ligar Olivatto ao crime organizado seria infundada e prejudicial, destacando a necessidade de se discutir temas eleitorais com seriedade e responsabilidade, sem apelar para ataques pessoais.
O papel do PCC e a segurança pública em São Paulo
O debate sobre o caso Olivatto também reacende discussões mais amplas sobre o papel do Primeiro Comando da Capital (PCC) e sua influência em São Paulo. O PCC, fundado nos anos 1990, é hoje a maior facção criminosa do Brasil, com atuação em diversos estados e até fora do país. O combate ao crime organizado tem sido uma pauta central nas gestões municipais e estaduais, e a presença de um servidor com laços familiares com o líder do PCC inevitavelmente traz à tona preocupações sobre a segurança pública e a eficácia das políticas de combate ao crime em São Paulo.
Nos últimos anos, a administração pública paulistana tem intensificado esforços para combater o tráfico de drogas e a violência associada ao PCC, mas a organização continua sendo uma força poderosa no submundo do crime. A nomeação de servidores com qualquer tipo de vínculo, ainda que familiar, com líderes do crime organizado é vista com grande cautela por setores da sociedade e da política.
A discussão sobre a relação familiar de Eduardo Olivatto com Marcola do PCC revela como questões pessoais podem rapidamente se transformar em temas centrais no debate político, especialmente durante uma campanha eleitoral acirrada como a de São Paulo em 2024. Enquanto a gestão de Ricardo Nunes defende a continuidade de Olivatto na prefeitura, o embate trouxe à tona importantes questionamentos sobre ética na política e a influência do crime organizado nas instituições públicas. O caso segue sendo um dos principais pontos de debate na corrida eleitoral e promete influenciar os rumos da campanha nos próximos dias.