No dia 19 de setembro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez um retorno notável ao palco mundial ao abrir a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas. Em seu discurso, Lula não apenas demarcou diferenças em relação à política externa de seu antecessor, Jair Bolsonaro, mas também adotou um tom mais contundente e abrangente do que aqueles que marcaram sua presença no plenário da ONU durante seus dois mandatos anteriores.
Fome, mudança climática, desigualdade e reforma da governança global permaneceram como eixos centrais em seu discurso, mas houve elementos inéditos e críticas profundas que ecoaram pelo plenário das Nações Unidas. A seguir, exploramos os principais pontos do discurso de Lula e seu significado em um cenário global em constante mudança.
A Crítica ao Neoliberalismo e à Desigualdade
Lula abriu seu discurso com uma crítica frontal ao “neoliberalismo”, algo que raramente é mencionado por líderes políticos em um palco internacional tão proeminente. Ele apontou o neoliberalismo como uma fonte de agravamento da desigualdade e da ascensão da extrema direita em todo o mundo. Em suas palavras, “Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos. Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas.”
Essa crítica ao neoliberalismo é significativa, pois Lula alega que essa ideologia econômica falhou em resolver os problemas sociais e econômicos globais. Em vez disso, ele aponta para o surgimento de líderes populistas de extrema direita como resultado direto dessa falha.
A Defesa dos Direitos Trabalhistas e o Impacto da Economia dos Aplicativos
Lula também expressou preocupação com a erosão dos direitos trabalhistas devido à ascensão da economia dos aplicativos. Ele argumentou que essa nova forma de trabalho está deixando muitos trabalhadores sem proteção social e direitos básicos. Essa é uma questão global que tem implicações significativas para o futuro do trabalho e da justiça social.
Crimes Cibernéticos e Desinformação
Outro tópico notável abordado por Lula foi o impacto dos crimes cibernéticos na disseminação da desinformação. Ele destacou como a disseminação de notícias falsas e desinformação tem minado a confiança nas instituições democráticas em todo o mundo. Além disso, mencionou a prisão do jornalista britânico Julian Assange como uma afronta à liberdade de imprensa.
Um Chamado à Ação em Relação à Mudança Climática
Lula não deixou de lado a questão urgente da mudança climática. Ele enfatizou que os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase metade das emissões de carbono, destacando a necessidade de os países mais ricos assumirem a responsabilidade por essa crise ambiental global.
A Diferença Entre “A Voz dos Mercados” e “A Voz das Ruas”
Um dos pontos mais impactantes do discurso de Lula foi a distinção entre “a voz dos mercados” e “a voz das ruas”. Ele argumentou que muitas vezes os governantes são influenciados pelas demandas dos mercados financeiros em detrimento das necessidades da população. Essa divisão entre interesses econômicos e bem-estar social é um dilema enfrentado por muitos líderes globais.
Críticas às Sanções a Cuba e à Erosão do Tribunal Penal Internacional
Lula fez críticas às sanções impostas a Cuba, uma posição que ele já havia defendido em discursos anteriores. No entanto, ele não incluiu neste discurso a revisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), uma tese que ele havia defendido durante o G-20 em Nova Déli, mas da qual recuou posteriormente.
Conflitos e Guerras
Lula mencionou uma série de conflitos em todo o mundo, incluindo a guerra na Ucrânia, Haiti, Iêmen, Líbia, Burkina Fasso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger, Sudão e Guatemala. Ele destacou a “incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU” como uma das causas desses conflitos.
Desafios no Conselho de Segurança da ONU
Lula também criticou o Conselho de Segurança da ONU, afirmando que ele perdeu credibilidade devido à “ação de seus membros permanentes que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime.” Embora Lula não tenha mencionado países específicos, é amplamente reconhecido que a Rússia é um dos membros permanentes do Conselho de Segurança envolvidos em conflitos internacionais.
O discurso de Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2023 foi marcado por uma abordagem corajosa e contundente de questões globais prementes. Sua crítica ao neoliberalismo, à desigualdade, à economia dos aplicativos e à desinformação ressoou entre líderes mundiais e delegados presentes no plenário da ONU. Lula também enfatizou a necessidade de os países mais ricos assumirem a responsabilidade pela mudança climática e defendeu a voz das ruas sobre os interesses dos mercados financeiros. Seu discurso foi um chamado à ação global em um momento em que o mundo enfrenta desafios complexos e interconectados.