Crédito no Brasil: Crescimento, Desafios e Perspectivas para 2024 e 2025
A atividade econômica no Brasil tem mantido um ritmo surpreendentemente positivo, mesmo com um cenário de possível aperto monetário à vista. Esse panorama, segundo o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, tem incentivado os bancos a planejar uma expansão do crédito no Brasil, enquanto tomam precauções para evitar superendividamento. Com taxas de desemprego em baixa, aumento da renda e programas de renegociação de dívidas, a Febraban projeta um crescimento dos financiamentos em 10,6% para 2024 e 9,1% em 2025.
O Cenário Atual do Crédito no Brasil: Expansão com Cautela
O setor de crédito no Brasil, ao longo dos últimos 12 meses, apresentou crescimento superior ao que era projetado. Segundo dados da Febraban, o total das operações de crédito cresceu mais de 10%, com destaque para o setor de pessoas físicas, que teve aumento de 11,5% no mesmo período. Esse avanço foi impulsionado pela diminuição do desemprego e pelo aumento da renda das famílias, fatores que colaboraram para uma menor taxa de inadimplência.
No entanto, mesmo com a economia apresentando sinais de fortalecimento, os bancos têm adotado uma postura cautelosa. Devido ao histórico de superendividamento, especialmente nos anos que seguiram o surgimento das fintechs e o aumento na emissão de cartões de crédito, as instituições estão mais rigorosas na concessão de crédito, principalmente para tomadores com menor capacidade financeira. O crédito direcionado às faixas de baixa renda e às pequenas empresas segue restrito, devido à inadimplência mais alta nesses segmentos.
Financiamento para Pessoas Físicas e Empresas: Diferenças nos Desafios
A expansão do crédito entre pessoas físicas e jurídicas mostra uma trajetória distinta. Para as pessoas físicas, o cenário de crédito foi beneficiado por políticas fiscais que estimularam o consumo e geraram um ciclo de flexibilização das taxas de juros. Ainda que as taxas estejam subindo novamente, o crescimento na renda e a estabilização das taxas de inadimplência mantêm uma demanda saudável. Atualmente, a taxa de inadimplência para pessoas físicas, que havia chegado a 4,3% em 2023, reduziu para 3,8%. No crédito livre, mais sensível às condições econômicas, a inadimplência também recuou para 5,5%.
Para as empresas, o quadro de crédito é mais heterogêneo. A expansão total da carteira de crédito para pessoas jurídicas foi de 8% nos últimos 12 meses, mas entre micro, pequenas e médias empresas, esse crescimento foi menor, em torno de 5,7%. Esses negócios ainda enfrentam dificuldades para obter crédito devido à alta taxa de inadimplência, que chega a 4,5% neste segmento, em contraste com apenas 0,2% para empresas maiores e mais estáveis.
Fundos Garantidores: Solução para Pequenos Negócios?
A alta inadimplência entre micro e pequenas empresas é atribuída à sua fragilidade financeira. Esse modelo de negócio possui menor capacidade de absorção de riscos e geralmente não conta com auditorias independentes, dificultando a precificação e a mensuração precisa dos riscos. Uma das alternativas propostas pela Febraban para estimular o financiamento desses empreendimentos é o uso de fundos garantidores, uma solução já vista em iniciativas do BNDES e Sebrae. Esses fundos atuam como garantidores dos empréstimos, compartilhando parte do risco com os bancos e permitindo uma maior oferta de crédito e taxas de juros mais baixas.
A implementação dos fundos garantidores é vista como essencial para o desenvolvimento do setor, uma vez que possibilita taxas mais acessíveis para os tomadores. Em contextos de alto risco, como durante a pandemia, os fundos garantidores tiveram um papel importante na mitigação de inadimplência e impediram que a crise financeira tivesse um impacto mais profundo.
Inadimplência Controlada e Expansão Sustentável
Em termos gerais, o setor bancário brasileiro parece estar em uma posição confortável em relação à inadimplência. Os dados mostram que os programas de renegociação de dívidas, como o Desenrola Brasil, combinados ao aumento da renda, têm contribuído para manter os níveis de inadimplência sob controle. Outro fator importante foi a mudança de comportamento no uso do crédito rotativo, especialmente o do cartão de crédito, que agora é utilizado mais para pagamentos à vista do que parcelados.
A tendência no mercado de crédito é a busca por uma expansão sustentável e com garantias, refletindo a maturidade do setor bancário no Brasil. A regulamentação recente também contribuiu para essa estabilidade, uma vez que os bancos têm evitado a concessão de crédito rotativo e optado por modalidades mais seguras, como financiamentos de veículos e crédito consignado.
Perspectivas Econômicas e Expectativas para 2024 e 2025
As projeções para os próximos anos mostram um cenário de otimismo moderado. Segundo Sardenberg, o crescimento do crédito em 2024 deve chegar a 10,6%, enquanto para 2025 é esperada uma leve desaceleração, com taxa de 9,1%. Essa retração leve deve-se à expectativa de um crescimento econômico menor. No entanto, se houver estabilidade no cenário fiscal e uma eventual flexibilização da política monetária, o crédito poderá ter uma expansão ainda maior, de 11% a 12%.
Para alcançar essas metas, os bancos contam com um cenário de crescimento econômico de 3% ao ano e inflação de 4%. A taxa Selic deve se manter em torno de 11,75% até o final de 2024, subindo para 12% no início de 2025, enquanto o dólar deve chegar a R$ 5,30 no segundo trimestre do próximo ano. Essas condições oferecem uma base sólida para a expansão do crédito, especialmente se o ajuste fiscal permitir uma redução das taxas de juros a longo prazo.
Ajuste Fiscal: Principal Obstáculo para a Expansão do Crédito no Brasil
Ainda que o cenário de crédito no Brasil seja favorável, a questão fiscal se apresenta como uma barreira potencial. Segundo Sardenberg, o ajuste fiscal é fundamental para garantir uma política monetária mais flexível e, consequentemente, uma queda nas taxas de juros. Com uma estrutura fiscal sólida, o país terá condições de suportar uma expansão mais significativa do crédito, impulsionando o crescimento econômico de forma sustentável.
O ajuste fiscal permitiria, também, uma diminuição do spread bancário, reduzindo o custo do crédito e incentivando a inclusão financeira. Atualmente, em média, 30% da taxa de juros cobrada nos empréstimos bancários correspondem ao risco de inadimplência, uma proporção que poderia ser reduzida com a mitigação desse risco por meio de garantias e ajustes fiscais.
O setor de crédito no Brasil caminha para um crescimento sustentado nos próximos anos, com a expectativa de que o mercado continue amadurecendo e adotando práticas mais seguras e cautelosas. A implementação de fundos garantidores e a possível flexibilização das taxas de juros são elementos fundamentais para o sucesso desse modelo, permitindo que tanto indivíduos de baixa renda quanto pequenos empreendedores tenham acesso a um crédito acessível e sustentável. Com um ambiente macroeconômico favorável e um ajuste fiscal consistente, o crédito poderá alcançar patamares mais elevados, promovendo o crescimento econômico e a inclusão financeira de maneira equilibrada.