Em especial no Dia Internacional do Orgulho LGBT+, o Valor apresenta histórias e testemunhos de pessoas com expressão em várias áreas – da política aos negócios – em um mosaico da diversidade e da inclusão no país. Conheça o da gerente de comunicação corporativa da Basf para a América do Sul, Karina Monaco:
Karina Monaco, 42 anos, gerente de comunicação corporativa da Basf para América do Sul, entrou na companhia há 14 anos. Lésbica, ela nem imaginava assumir sua orientação sexual dentro da empresa na época. “Eu me sentia muito reprimida. Os ambientes corporativo e social não eram propícios, e as leis também eram outras”, lembra.
Ela conta que não conseguia revelar detalhes da sua vida pessoal à maioria dos colegas de trabalho e que costumava receber feedbacks sobre ser uma pessoa fechada e introvertida. “Afinal, quantas vezes numa mesa a gente não troca o gênero do nosso cônjuge, omite alguma informação ou não participa de certas discussões?”, reflete.
No entanto, ela acredita que isso não tenha interferido diretamente em sua carreira. Na verdade, o principal preconceito sentido por Monaco era relacionado ao gênero. “O desafio veio primeiro como mulher no ambiente corporativo, principalmente em indústrias tradicionalmente masculinas e, depois, como mulher lésbica.”
Foi somente ao ir trabalhar na Europa e na Argentina que a executiva se sentiu confortável em se posicionar. “Nesses lugares, o ambiente é muito mais aberto, acolhedor e multicultural”, observa. “Essas experiências me deixaram mais resiliente e eu fui ganhando bagagem para me assumir sem receio aqui”, conta.
Então, há cerca de quatro anos, ela finalmente se sentiu segura para não apenas dizer que é uma mulher lésbica e casada com a designer e empreendedora Daniela Klann, como para fazer parte de grupo de afinidade dentro da companhia voltado para pessoas LGBT+. “No momento em que eu me assumi, eu me senti muito livre. Mas, também, era um período em que eu estava bem comigo mesma. Por isso, acho que cada um tem o seu tempo e isso tem que ser respeitado”, afirma.
Monaco detalha que não fez um comunicado para revelar sua sexualidade. “Apenas comecei a dizer que eu tenho uma esposa”, conta. “Foi uma exposição, porque eu me assumi ao mesmo tempo em que eu também passei a ser uma porta-voz do tema dentro da empresa”.
Ela relata que o seu posicionamento foi bem-recebido pela companhia. “Foi muito mais positivo do que eu imaginava. Eu senti que estava ajudando a transformar a cabeça das pessoas e isso foi o que mais me motivou a continuar fazendo parte do grupo”, diz.
Hoje, Monaco e Klann são mães de um menino de um ano. Mas, a maternidade não foi uma decisão fácil. “Eu fiquei dividida entre a responsabilidade que ser mãe traz e, ao mesmo tempo, pensando em como iriam encarar isso dentro da empresa”, revela. “Então, resolvi lidar da maneira mais natural possível. Falei: ‘gente, minha esposa está grávida, nós estamos grávidas, vamos ter um filho’”.
Mais uma vez, houve uma boa recepção por parte da companhia. “Só senti coisas positivas ao me abrir para as pessoas. Foi uma surpresa receber elogios e parabenizações, inclusive de quem estava fora do meu círculo”, lembra.
Com essa experiência, veio mais um aprendizado sobre o mundo corporativo: a licença parental de apenas vinte dias. “Fiquei pensando nos outros cônjuges que também devem ter sofrido tendo tão pouco tempo”, conta. Assim, Monaco trouxe para o grupo de afinidade a discussão sobre a possibilidade de aumentar o período da licença. O próximo passo é levar a questão de forma mais estruturada para a empresa, ela explica.
A executiva também dá palestras sobre diversidade, inclusão e equidade dentro da organização. “Cheguei a trazer a minha esposa e nós falamos sobre maternidade e o fato de serem duas mães”, relata.
Ela acredita que a convivência é a chave para mudar paradigmas, romper barreiras e quebrar preconceitos. “Proporcionar isso dentro do ambiente corporativo é fundamental”, pontua.