A Azul Linhas Aéreas, uma das maiores companhias aéreas do Brasil, está enfrentando desafios financeiros significativos. Recentemente, a empresa deu um importante passo ao fechar um acordo com seus arrendadores de aeronaves e fornecedores, buscando aliviar parte de suas pesadas obrigações de dívida. Esse movimento incluiu a emissão de 100 milhões de novas ações preferenciais em troca de uma redução de R$ 3 bilhões em sua dívida, o que inicialmente impulsionou as ações da companhia, mas não foi suficiente para manter uma alta consistente no mercado.
Acordo com Credores: Um Alívio Temporário
O anúncio do acordo com arrendadores e fornecedores trouxe um alívio momentâneo para a Azul. As ações da empresa subiram até 22% no mercado, mas essa valorização não se sustentou ao longo da semana. O papel encerrou o período com uma leve alta de menos de 1%, e, até o momento, acumula uma desvalorização de mais de 60% em 2024, tornando-se um dos piores desempenhos do Ibovespa no ano.
O acordo firmado foi bem recebido pelos investidores e analistas, mas é apenas um primeiro passo. Embora a renegociação tenha aliviado parte da pressão sobre a Azul, ainda não foi capaz de gerar o capital novo que a empresa precisa para reforçar sua liquidez. Segundo Carolina Chimenti, analista da Moody’s Ratings, “o dinheiro continua sendo essencial”, destacando que a empresa ainda tem um longo caminho a percorrer para garantir a sua sustentabilidade financeira.
Necessidade de Reforço de Liquidez
A Azul tem se destacado no mercado por ser a única das três grandes companhias aéreas da América Latina que não pediu proteção contra credores — uma estratégia comum na aviação global quando as empresas enfrentam graves problemas financeiros. No entanto, a companhia continua a enfrentar desafios, especialmente em relação à sua dívida de curto prazo e ao impacto do dólar alto.
De acordo com dados da Moody’s, a Azul tem US$ 68 milhões em títulos a vencer ainda neste mês, um montante que a empresa, aparentemente, será capaz de administrar. No entanto, até o final de junho de 2024, a companhia registrava R$ 1,5 bilhão em dívidas de curto prazo e cerca de R$ 1,4 bilhão em caixa disponível, conforme apontado pela Fitch Ratings. Essa situação financeira continua delicada e coloca a empresa em uma posição vulnerável.
Desempenho no Mercado de Dívida
Os títulos emitidos pela Azul em dólar, com vencimento em 2030, entregaram aos investidores algumas das piores perdas entre as dívidas corporativas dos mercados emergentes em 2024. Embora os bonds com vencimento em 2028 tenham registrado um ganho de 2,7% após ajustes de preço e pagamentos de juros, eles continuam a ter um desempenho abaixo de outros ativos semelhantes, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Essa situação demonstra a contínua dificuldade da Azul em se destacar no mercado de dívida, o que agrava seus desafios financeiros. A empresa tem tentado, sem sucesso, levantar até US$ 400 milhões por meio de sua unidade de carga, mas questões sobre o uso de garantias têm dificultado esse processo.
Estratégias Futuras e Desafios
Apesar das dificuldades, a Azul continua buscando alternativas para melhorar sua posição financeira. A companhia está em negociações com seus detentores de títulos (bondholders) em busca de financiamento adicional e poderia recorrer a um programa recentemente aprovado pelo governo brasileiro, destinado a apoiar as companhias aéreas nacionais.
Analistas do setor destacam que a Azul ainda precisa de liquidez adicional para enfrentar seus compromissos de curto prazo. Segundo Amalia Bulacios, analista da S&P Global Ratings, “a estrutura de capital da empresa é um pouco pesada”, o que complica o cenário de refinanciamento da dívida. A S&P reduziu a classificação de crédito da Azul para CCC+ em setembro de 2024, refletindo as preocupações com a fraca liquidez e os riscos de refinanciamento.
Pedro Bruno, analista da XP Investimentos, apontou que o recente acordo com arrendadores foi um passo positivo, já que evita uma oferta subsequente de ações, o que teria provocado uma diluição significativa para os acionistas. No entanto, essa solução temporária não resolve o problema estrutural da empresa, que continua a enfrentar desafios em um mercado financeiro apertado.
A Perspectiva de um Pedido de Chapter 11
Embora a Azul tenha evitado, até agora, recorrer ao Chapter 11, um pedido de proteção contra credores nos Estados Unidos, a possibilidade ainda paira no horizonte. Josseline Jenssen, analista de crédito da Lucror Analytics, destacou que, embora a empresa esteja buscando soluções comerciais, “se não conseguir levantar o dinheiro necessário, o Chapter 11 não pode ser descartado como uma opção”.
Essa incerteza quanto ao futuro da Azul coloca pressão adicional sobre a empresa para encontrar fontes de financiamento viáveis, ao mesmo tempo em que equilibra suas operações diárias e continua a atender a demanda de seus passageiros.
A Azul Linhas Aéreas enfrenta um período crítico em sua trajetória financeira. O recente acordo com arrendadores e fornecedores trouxe um alívio temporário, mas a empresa ainda precisa encontrar formas de aumentar sua liquidez e gerenciar uma dívida substancial em meio a um cenário econômico desafiador. Com a desvalorização do real e o aumento dos custos operacionais, a companhia precisará de estratégias robustas para evitar medidas mais drásticas, como o pedido de Chapter 11, e continuar sua operação sem prejudicar ainda mais sua posição no mercado.