O mercado acionário brasileiro vive um momento delicado. A última oferta pública inicial de ações (IPO) na B3 aconteceu há quase três anos, em agosto de 2021, com a estreia da farmacêutica Viveo. Desde então, a bolsa brasileira não viu a chegada de novas empresas, configurando o cenário de seca de IPOs mais longo das últimas duas décadas.
Essa escassez de novas listagens, somada ao desempenho fraco do Ibovespa, que acumula queda de 4,39% no ano, e do EWZ (proxy do mercado brasileiro em dólar), com recuo de 15,8%, tem afastado os investidores da B3. Em junho, a bolsa registrou queda de 0,7% no número de empresas listadas no mês e de 1,1% em relação ao ano anterior, chegando ao menor nível desde junho de 2021, com 439 companhias negociadas. O pico de empresas na bolsa foi em dezembro de 2021, quando 463 empresas estavam listadas.
A tendência de queda deve continuar no próximo mês, com a saída da Cielo do mercado acionário. A oferta pública de aquisição de ações (OPA) da credenciadora de pagamentos, marcada para 14 de agosto, removerá a empresa da B3, que perderá um player de peso, com capitalização de mercado de R$ 15,6 bilhões e free float (fatia negociada em mercado) de 40,8%. O restante das ações está nas mãos do Bradesco e do Banco do Brasil, controladores da companhia.
Número de investidores também recua
O cenário preocupante se estende ao número de investidores na B3. O total de CPFs individuais na bolsa caiu 0,2% em junho, na segunda queda consecutiva, chegando a 5,109 milhões. O recorde de investidores foi registrado em julho de 2023, com 5,356 milhões. Em agosto daquele ano, o resgate de BDRs do Nubank provocou a saída de 548,8 mil investidores da bolsa, fazendo com que o total recuasse para 4,8 milhões. Desde então, a recuperação vinha acontecendo de forma gradual até abril deste ano.
Fatores que contribuem para a retração
Diversos fatores contribuem para a retração do mercado acionário brasileiro. Entre os principais, podemos destacar:
- Incerteza do cenário macroeconômico: A alta da inflação, a elevação das taxas de juros e a desaceleração da economia global geram um ambiente de incerteza para os investidores, que se tornam mais cautelosos em relação a investimentos em renda variável, como ações.
- Falta de liquidez: A escassez de IPOs, combinada à saída de empresas como a Cielo, diminui a liquidez do mercado acionário brasileiro, o que pode dificultar a realização de operações e afastar investidores institucionais.
- Desempenho fraco do Ibovespa: A queda do Ibovespa no ano, em conjunto com o desempenho negativo do EWZ, indica que o mercado brasileiro está em sintonia com a tendência global de retração, desestimulando novos investimentos.
O futuro do mercado acionário brasileiro dependerá da evolução do cenário macroeconômico global e doméstico. A melhora da confiança dos investidores, a retomada do crescimento da economia e a realização de novos IPOs são fatores essenciais para a retomada da liquidez e do otimismo na B3.