Em um movimento inesperado, o Carrefour, uma das maiores redes de supermercados do Brasil, decidiu encerrar suas operações de lojas autônomas em condomínios. A decisão, anunciada no último final de semana, resultou no fechamento de 29 unidades localizadas em São Paulo e no ABC Paulista. Este artigo analisa as razões por trás dessa mudança de estratégia, as reações das comunidades afetadas e as perspectivas futuras para o varejo autônomo no Brasil.
A Decisão do Carrefour: Um Choque para os Consumidores
O encerramento das lojas autônomas pegou muitos de surpresa, incluindo síndicos e moradores de condomínios que dependiam dessas unidades para suas compras diárias. Thamara Agnolo, síndica do condomínio Dez Anhaia Melo, na Vila Prudente, expressou seu espanto ao descobrir a decisão. “Foi um choque”, afirmou, revelando que a funcionária do Carrefour que fazia a reposição de mercadorias simplesmente trancou a loja e colocou um aviso na porta.
A unidade do Carrefour havia operado por um ano e meio e, segundo Agnolo, apresentava um bom movimento, especialmente aos sábados. A falta de aviso prévio e a dúvida sobre possíveis penalidades contratuais geraram preocupações entre os moradores. Com uma cláusula de multa rescisória em questão, o condomínio já está buscando alternativas, incluindo a possibilidade de abrir espaço para outras redes, como o Hirota, que já possui 133 lojas autônomas na cidade.
Estratégia do Carrefour em Evolução
O Carrefour havia apostado no modelo de lojas autônomas em condomínios como uma parte crucial de sua estratégia de negócios. Em fevereiro de 2022, o então diretor de Proximidade, João Gravata, havia afirmado que a empresa planejava acelerar a abertura dessas lojas, especialmente na Grande São Paulo. No entanto, essa visão parece não ter se concretizado, levando à decisão de fechamento.
A empresa divulgou uma nota oficial, informando que “a decisão de encerrar as operações de lojas autônomas Express em condomínios residenciais está pautada pela estratégia de negócios da companhia”. Essa mudança ocorre em um contexto onde a empresa já possui um faturamento superior a R$ 100 bilhões por ano, o que levanta questões sobre a viabilidade desse modelo de negócio.
O Que Deu Errado?
As razões para o fracasso do modelo de lojas autônomas não foram claramente detalhadas pelo Carrefour, mas especialistas em varejo sugerem que a operação em condomínios pode não ter sido compatível com a especialização da empresa. Eugênio Foganholo, consultor da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, observa que o Carrefour é conhecido por atender consumidores que buscam compras em grande volume, seja por meio de hipermercados ou do formato atacarejo com a bandeira Atacadão.
“Quem está acostumado com um volume de vendas elevado, quando tem de fazer abastecimento picado em um condomínio, enfrenta uma realidade completamente diferente”, explica Foganholo. Ele destaca que o pequeno volume de produtos vendidos nas lojas autônomas pode não justificar a complexidade e os custos envolvidos em sua operação.
Além disso, analistas de varejo mencionam que o negócio de lojas autônomas é considerado pequeno para uma companhia do tamanho do Carrefour. A relação entre a receita gerada e a estrutura necessária para operar as lojas autônomas se mostrou desfavorável, resultando em pouco lucro para a empresa.
O Cenário das Lojas Autônomas em São Paulo
Com a saída do Carrefour, o Hirota se posiciona como uma das poucas redes que ainda investem no modelo de lojas autônomas em condomínios. O diretor do Hirota, Helio Freddi, confirmou que já recebeu propostas de 12 condomínios que buscam substituir o Carrefour. A meta da empresa é abrir 150 lojas até o final do ano e, com as lojas do Carrefour, aumentar ainda mais sua presença no mercado.
Freddi também ressaltou que os principais desafios do modelo incluem a logística de abastecimento e a ocorrência de furtos. Enquanto isso, outras grandes redes, como GPA, Mambo, St. Marche e Sonda, ainda não entraram no setor de lojas autônomas, que é dominado por startups e pequenos empreendimentos.
O Futuro do Varejo Autônomo
A saída do Carrefour do modelo de lojas autônomas pode sinalizar uma mudança de comportamento no varejo brasileiro. Com o fechamento das unidades, as perspectivas para esse segmento são incertas. As empresas precisarão encontrar maneiras inovadoras de atender as necessidades dos consumidores e adaptar-se às novas realidades do mercado.
A experiência do Carrefour destaca a importância de um planejamento estratégico sólido ao entrar em novos formatos de negócio. O foco em modelos de negócios que se alinhem à expertise da empresa será fundamental para o sucesso a longo prazo.
O fechamento das lojas autônomas do Carrefour ilustra um cenário em constante evolução no varejo brasileiro. À medida que as empresas buscam adaptar suas estratégias, a experiência do Carrefour oferece lições valiosas sobre a viabilidade e os desafios do modelo de lojas autônomas. As reações das comunidades e a resposta de concorrentes como o Hirota podem moldar o futuro do varejo em condomínios no Brasil, uma vez que os consumidores continuam a buscar conveniência e qualidade em suas compras diárias.