Os bastidores do Partido Liberal (PL) têm sido marcados por conflitos entre o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. O elogio recente de Valdemar a Luiz Inácio Lula da Silva, somado às discordâncias sobre candidaturas para as eleições municipais de outubro, destacam as tensões internas na agremiação.
Os desentendimentos entre Valdemar e Bolsonaro têm raízes antigas, especialmente relacionados aos candidatos que representarão o PL nas eleições municipais. Movimentos recentes indicam que Bolsonaro busca priorizar aliados próximos, reforçando sua influência política após tornar-se inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em contrapartida, Valdemar defende investir em candidatos com maiores chances de vitória, visando eleger mais de mil prefeitos em todo o país.
O cientista político Alberto Carlos Almeida, diretor do instituto de pesquisa Brasilis, observa a posição delicada de Valdemar, que busca equilibrar o pragmatismo político com a necessidade de ter candidatos viáveis e, ao mesmo tempo, manter Bolsonaro próximo para fortalecer o partido.
A escolha dos candidatos do PL para prefeituras estratégicas tem sido uma fonte constante de atrito. Bolsonaro busca influenciar diretamente nessas decisões, especialmente em locais onde bolsonaristas obtiveram bom desempenho em 2022. No entanto, a carta branca concedida ao ex-presidente não se estende a lugares onde aliados mais alinhados não foram eleitos.
A crise tornou-se pública em novembro, quando Bolsonaro expressou sua insatisfação com as escolhas de pré-candidaturas municipais feitas por Valdemar. Durante o lançamento do PL+60, Bolsonaro afirmou que, em algumas situações, precisa “engolir” os candidatos indicados por Valdemar, evidenciando as divergências entre os dois líderes.
A disputa por candidaturas ganhou destaque na cidade de São Paulo. Bolsonaro tentou emplacar o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, como pré-candidato à prefeitura, enquanto Valdemar costurou uma aliança com o atual prefeito Ricardo Nunes, que busca a reeleição. A divisão ficou clara quando Bolsonaro publicamente expressou seu apoio a “Salles prefeito”, enquanto Valdemar buscava uma aliança diferente.
Em Guarulhos, Valdemar também foi alvo de críticas de apoiadores de Bolsonaro por declarar apoio a Lucas Sanches, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL), para a prefeitura da cidade. Nas redes sociais, Valdemar foi acusado de tentar “destruir” Bolsonaro, sendo acusado de promover “politicagem suja e mercenária”.
A situação se repetiu no Rio de Janeiro, onde o senador Flávio Bolsonaro contestou a indicação feita por Valdemar do deputado federal Alexandre Ramagem como pré-candidato à prefeitura carioca.
A cidade de Goiânia também não escapou das discordâncias. Enquanto Bolsonaro deseja indicar o ex-deputado federal Major Vitor Hugo, Valdemar prefere apoiar o deputado federal Gustavo Gayer. Esses desentendimentos internos evidenciam as complexidades políticas enfrentadas pelo PL, que tenta conciliar as diferentes facções dentro do partido em busca de uma atuação coesa nas eleições municipais de 2024.