Depoimentos obtidos pela Polícia Federal (PF) em 22 de fevereiro reforçam a existência de uma trama golpista no alto escalão do governo anterior, com ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica colocando o ex-presidente Jair Bolsonaro no centro das conspirações. O sigilo sobre esses depoimentos foi levantado nesta sexta-feira (15) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que investiga a suposta trama.
Segundo os depoimentos, os ex-comandantes participaram de reuniões no Palácio da Alvorada, nas quais foram apresentadas minutas de decretos presidenciais voltadas para manter Bolsonaro no poder após a derrota no segundo turno da eleição presidencial de 2022. O general Marco Antonio Freire Gomes relatou ter sido apresentado a uma minuta de golpe em uma reunião na biblioteca do Alvorada, conduzida por Filipe Martins, ex-assessor especial da Presidência. Freire Gomes também mencionou uma segunda reunião na qual foi apresentada uma revisão da mesma minuta, incluindo a possibilidade de decretação de um Estado de Defesa.
Já o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, confirmou ter participado de reuniões em que Bolsonaro discutiu a utilização da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e outros institutos jurídicos complexos para lidar com uma possível crise institucional.
Além disso, há relatos de que o general Freire Gomes teria ameaçado prender Bolsonaro caso ele levasse adiante uma tentativa de golpe de Estado.
Outros depoimentos, como o do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, confirmam a pressão do ex-presidente para questionar o resultado das urnas eletrônicas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Costa Neto afirmou ter sido pressionado pelo ex-presidente e por outros membros do partido a apresentar uma ação contra o resultado das urnas.
Apesar de ter apresentado a ação, Costa Neto afirmou não ter encontrado indícios concretos de fraude nas urnas eletrônicas.
O general da reserva do Exército Laercio Vergilio, por sua vez, mencionou a prisão do ministro Alexandre de Moraes como forma de trazer “normalidade” ao país, mas negou participação em qualquer ato para planejar ou executar a prisão do ministro.
Outros depoentes negaram qualquer envolvimento em uma trama golpista, incluindo o ex-assessor especial da Presidência da República, Filipe Martins, e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e sua defesa negaram qualquer participação na elaboração de documentos golpistas. Em suas redes sociais, o advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, afirmou que nunca ouviu falar de golpe durante seu convívio com o ex-presidente.
O inquérito segue em andamento, com a PF continuando a investigar as denúncias e os envolvidos.