Nos últimos meses, o mercado financeiro tem voltado sua atenção para a Itaúsa (ITSA4), uma das maiores holdings do Brasil, com participações em empresas de renome como Itaú Unibanco, Alpargatas e CCR. A holding, que em anos recentes enfrentou desafios com a distribuição de dividendos, agora se prepara para um período de “fartura” de proventos, conforme apontam projeções recentes.
Projeção de R$ 22,1 bilhões em Dividendos para Itaúsa
A projeção mais recente, divulgada pelo UBS BB, indica que o Itaú Unibanco (ITUB4) deve pagar cerca de R$ 59,5 bilhões em dividendos nos próximos 18 meses. Como a Itaúsa detém uma participação de 37,2% no banco, isso a qualificaria para receber aproximadamente R$ 22,1 bilhões em proventos. Esse valor representa um dividend yield de 19,5% para o período, o que, segundo analistas, é um indicativo de que os tempos de vacas magras para a holding estão ficando para trás.
Histórico e Expectativas para os Proventos da Itaúsa
A holding tem um histórico de repassar 100% dos dividendos recebidos do Itaú aos seus acionistas. Nos últimos 12 meses, as ações ITSA4 apresentaram um retorno em dividendos de 7,15%. Em 2023, esse percentual foi de 5,64%, e em 2022, de 7,16%. Apesar das oscilações nos últimos anos, o aumento projetado para 2024 sinaliza uma recuperação significativa.
O CEO da Itaúsa, Alfredo Setubal, havia mencionado em 2022 que a holding passaria por um “vale” de dois a quatro anos, onde os dividendos seriam mais modestos, próximos ao mínimo de 25% do lucro líquido, antes de voltar à média histórica de payout entre 40% e 50%. Contudo, com as novas projeções e o aumento nas distribuições por parte do Itaú, há indícios de que esse período de contenção está se encerrando.
Motivos para o Aumento dos Dividendos
A principal razão para o aumento nos proventos da Itaúsa em 2024 está diretamente relacionada ao crescimento das distribuições do Itaú. O banco, que antes pagava o mínimo regulatório de 25% do lucro líquido, agora se aproxima dos 60%, o que impacta positivamente a holding.
Além disso, a desalavancagem da Itaúsa, após a venda de sua participação na XP Inc., também contribuiu para a maior disponibilidade de caixa para distribuir dividendos aos acionistas. Com menos dívidas para pagar, a holding tem mais flexibilidade para repassar os proventos recebidos.
Desafios e Oportunidades das Subsidiárias Não Financeiras
Enquanto o Itaú continua sendo o principal motor de dividendos da Itaúsa, outras empresas da holding, como Alpargatas, Dexco e CCR, enfrentam desafios que limitam sua capacidade de contribuir significativamente para os proventos. Muitas dessas companhias estão em fases de investimento ou possuem endividamento elevado, o que as leva a distribuir apenas o mínimo regulatório em dividendos.
Apesar disso, há expectativas positivas para o longo prazo, especialmente com empresas de infraestrutura como a Aegea e a CCR, que podem aumentar os proventos pagos à holding à medida que seus projetos amadurecem e geram retornos mais sólidos.
A Possibilidade de Dividendos Extraordinários em 2025
O balanço do quarto trimestre de 2024, a ser divulgado no início de 2025, é aguardado com expectativa pelos acionistas. O CEO do Itaú já mencionou a possibilidade de pagamento de dividendos extraordinários, e na Itaúsa, o CEO Alfredo Setubal afirmou que qualquer distribuição adicional do banco será provavelmente repassada aos acionistas da holding.
Essa prática, já enraizada na cultura da Itaúsa, reforça a confiança dos investidores na capacidade da holding de continuar a entregar proventos robustos, especialmente em um cenário de recuperação econômica e estabilidade financeira.
Desconto da Holding: Um Atrativo para os Investidores
Atualmente, uma das vantagens de investir na Itaúsa é o desconto da holding, que é a diferença entre o valor de mercado da Itaúsa na bolsa e a soma do valor de mercado das participações detidas nas empresas investidas, mais os custos da holding. Esse desconto está atualmente em 21,8%, segundo o site de relações com investidores da Itaúsa, o que pode proporcionar ao investidor uma valorização futura dos ativos e um dividend yield mais elevado.
Para Milton Rabelo, analista da VG Research, o desconto é exagerado e pode ser reduzido com a implementação da Reforma Tributária, que deve diminuir a ineficiência tributária das holdings. Ele destaca que a Itaúsa paga 9,25% de impostos sobre os juros sobre capital próprio recebidos das subsidiárias, o que deixaria de ocorrer a partir de 2027.
O Futuro dos Proventos da Itaúsa: O “Vale” Chegou ao Fim?
Para analistas como Regis Chinchila, da Terra Investimentos, o “vale” dos proventos magros da Itaúsa está se aproximando do fim. Ele acredita que a holding mostra uma diversificação mais robusta e maior relevância das empresas não financeiras no portfólio, sugerindo uma recuperação gradual nas distribuições de dividendos.
Outros analistas, como Larissa Quaresma, da Empiricus Research, já consideram o “vale” uma coisa do passado, atribuindo a melhora principalmente ao desempenho do Itaú e à desalavancagem da holding.
No entanto, Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research, acredita que, embora o “vale” tenha passado, as empresas não financeiras da Itaúsa nunca terão a mesma relevância que o Itaú no portfólio da holding. Ele prevê que a holding continuará a entregar rendimentos acima dos níveis observados nos últimos anos, mas sem depender tanto das subsidiárias não financeiras.
Vale a Pena Investir na Itaúsa?
A decisão de investir na Itaúsa depende dos objetivos do investidor. Para aqueles que buscam exposição a um portfólio diversificado e desejam aproveitar o desconto da holding, a Itaúsa pode ser uma boa opção, especialmente com a recuperação das distribuições de dividendos. No entanto, é importante considerar a dependência significativa do desempenho do Itaú e os riscos associados às outras empresas da holding.
Para investidores mais conservadores e focados em retornos consistentes, o Itaú pode ser uma escolha mais direta, oferecendo menos complexidade e previsibilidade nos proventos.
A Itaúsa continua sendo uma das principais opções para investidores que buscam rendimentos elevados, e o fim do “vale” dos proventos magros marca uma nova fase para a holding.