No primeiro semestre de 2024, as empresas listadas na bolsa de valores brasileira distribuíram um montante significativo de R$ 147 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP). Este valor já supera os R$ 144 bilhões distribuídos no mesmo período de 2022, que havia sido um ano de recorde histórico para o pagamento de dividendos, impulsionado principalmente pelos “superdividendos” da Petrobras (PETR3; PETR4). Especialistas apontam que este desempenho surpreendente é resultado de balanços financeiros robustos das companhias no primeiro e segundo trimestres deste ano.
A Influência dos Resultados Financeiros nos Dividendos
Segundo Rafael Schmidt, operador de renda variável da One Investimentos, o desempenho financeiro das empresas tem sido melhor do que o esperado, o que se reflete diretamente no montante distribuído em dividendos e JCP. “Essa temporada de resultados tem sido espetacular. No setor financeiro, por exemplo, Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC3; BBDC4), Santander (SANB11), BTG Pactual (BPAC11), e XP (XPBR31) têm divulgado resultados excelentes. Com mais caixa disponível, as empresas conseguem distribuir mais dividendos”, afirmou Schmidt.
Os últimos balanços financeiros das empresas estão previstos para serem divulgados em breve, e a expectativa é de que continuem a surpreender positivamente o mercado. A distribuição robusta de proventos é um reflexo da saúde financeira das empresas, que mesmo em um ambiente econômico desafiador, conseguem manter altos níveis de lucratividade e, consequentemente, remunerar bem seus acionistas.
A Desconcentração dos Dividendos em 2024
Um ponto interessante observado no primeiro semestre de 2024 é a menor concentração da distribuição de dividendos em grandes players, como Petrobras e Vale (VALE3). Em 2022, essas duas gigantes representaram 55,6% da distribuição total no primeiro semestre. No entanto, este ano, esse percentual caiu para 45,38%, indicando uma maior diversificação entre as empresas que estão distribuindo proventos significativos.
Laís Martins, sócia da Fundamenta Investimentos, destaca que este movimento pode estar relacionado à antecipação de dividendos por parte das empresas, devido à possível tributação de dividendos que está em estudo pelo governo. As companhias estão se antecipando à possível tributação, o que pode explicar esse aumento na distribuição de proventos”, explica Martins. Mesmo assim, as expectativas para o dividend yield (DY) permanecem positivas, especialmente em setores como o bancário, onde há uma boa geração de caixa.
Expectativas para o Segundo Semestre de 2024
A perspectiva para o segundo semestre de 2024 é de que a distribuição de JCPs ganhe mais destaque. Isso se deve à mudança na legislação que determina que os juros sobre capital próprio só podem ser distribuídos dentro do ano corrente, o que fez com que as empresas priorizassem o pagamento de dividendos no primeiro semestre.
A plataforma Meu Dividendo, especializada em antecipação de proventos, projeta que 2024 pode superar o recorde de 2022 na distribuição de dividendos. Segundo a análise da empresa, 54% do total de proventos geralmente são pagos no segundo semestre, o que sugere que este ano pode registrar a maior distribuição de proventos já registrada na B3.
As Principais Apostas para Dividendos no Segundo Semestre
Diversos especialistas e casas de investimento apontam algumas empresas como as principais apostas para ganhar renda passiva no segundo semestre de 2024.
Vale e Petrobras: As Gigantes dos Proventos
A Vale (VALE3) e a Petrobras (PETR3; PETR4) continuam a ser destaque quando o assunto são dividendos. Segundo Henrique Castiglione, CEO da EWZ Capital, essas duas empresas devem continuar sendo as grandes distribuidoras de proventos no segundo semestre. A Vale deve se beneficiar dos preços do minério de ferro, enquanto a Petrobras deve manter políticas de dividendos consistentes, impulsionada pelos altos preços do petróleo.
A Ágora Investimentos mantém a Vale em sua Carteira de Dividendos, com expectativa de um DY de 9,5% em 2024. A mineradora apresentou um sólido desempenho financeiro, com lucro líquido de R$ 22,9 bilhões no primeiro semestre, superando os R$ 14,4 bilhões do ano passado. Já a Nord Research projeta um DY de 10% para a Vale no acumulado do ano.
Itaú: Líder em Dividendos no Setor Bancário
No setor bancário, o Itaú (ITUB3; ITUB4) é apontado como a principal referência em termos de dividendos. A Nord Research destaca que o banco já pagou um ótimo provento no primeiro semestre, com um DY de 7,5%. A expectativa é que o Itaú continue a surpreender, especialmente com a possibilidade de pagamento de dividendos extraordinários.
Telefônica Brasil: Potencial para Alto DY
A Telefônica Brasil (VIVT3), dona da marca Vivo, é outra empresa que promete bons dividendos no segundo semestre. A Ágora Investimentos e a Nord Research projetam um DY superior a 7% em 2024. A decisão da empresa de manter o pagamento de dividendos próximo a 100% do lucro líquido até 2026 reforça essa expectativa.
Cemig: Aposta Segura para Renda Passiva
No setor elétrico, a Cemig (CMIG4) é uma das favoritas para gerar renda passiva, com um DY projetado de 10,5% em 2024. A venda de uma participação na Aliança Energia deve gerar um rendimento adicional de 3%, e a expectativa é de que a empresa possa distribuir até R$ 4,47 bilhões em dividendos neste ano, o que representaria um DY de 14%.
O primeiro semestre de 2024 foi marcado por uma distribuição robusta de dividendos e JCPs, com montantes que superaram o desempenho histórico de 2022. As perspectivas para o segundo semestre continuam positivas, com grandes empresas como Vale, Petrobras, Itaú, Telefônica Brasil e Cemig liderando as recomendações dos especialistas para investidores que buscam renda passiva. A diversificação e antecipação de proventos em função de possíveis mudanças na tributação são fatores que também devem ser monitorados de perto pelos investidores.