O índice de endividamento das famílias nas capitais brasileiras manteve-se em 78% ao longo dos últimos dois anos. Contudo, o número absoluto de lares com contas atrasadas registrou uma alta preocupante de 12,8%, alcançando 12,73 milhões de famílias em 2024. Isso representa um acréscimo de 1,45 milhão de lares endividados, conforme estudo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), que analisou dados do IBGE, CNC e da própria entidade.
A estabilidade do percentual de endividamento esconde, no entanto, um cenário complexo, em que fatores econômicos e geográficos desempenham papéis determinantes. A elevação do número de famílias urbanas, impulsionada pelo crescimento populacional, explica parte do fenômeno. Entretanto, os impactos econômicos desse aumento, como encarecimento do crédito e maior risco de inadimplência, exigem atenção redobrada.
Crescimento do Endividamento: Panorama das Capitais
O estudo destaca que capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal concentram o maior número de lares endividados, devido ao aumento populacional nesses centros urbanos. Em São Paulo, 2,88 milhões de famílias enfrentam dívidas, enquanto no Rio de Janeiro esse número é de 2,02 milhões, e no Distrito Federal, 765,8 mil.
No entanto, cidades menores como Vitória e Boa Vista registraram os maiores aumentos proporcionais, com altas de 13,3%. Nessas localidades, onde o endividamento afeta uma parcela significativa da população, a Fecomércio-SP sugere que iniciativas de educação financeira sejam priorizadas para conter o avanço desse problema.
No extremo sul do país, Porto Alegre se destaca como a capital proporcionalmente mais endividada, com 91% das famílias nessa condição. Apesar de uma leve queda em relação aos 96% registrados no ano passado, o percentual continua alarmante. Já Belém, no extremo norte, apresenta a menor taxa de endividamento, com 69%, mas ainda assim, registrou alta significativa de 8 pontos percentuais em um ano.
Capitais em Destaque: Altas e Quedas
Os dados revelam contrastes regionais marcantes. Enquanto Teresina observou um aumento impressionante de 32,6% no número de lares endividados, chegando a 86%, outras cidades, como Florianópolis, registraram quedas no índice de endividamento. Na capital catarinense, houve redução de 2,1%, com 72% das famílias ainda enfrentando dificuldades financeiras.
Curitiba e Porto Alegre também tiveram leves retrações, mas essas capitais continuam entre as mais endividadas do Brasil. No caso de Porto Alegre, a complexidade econômica local parece dificultar uma queda mais significativa, mesmo diante de esforços para controle financeiro.
Uso do Crédito: Comportamento e Escolhas
Uma pesquisa realizada pela Creditas, em parceria com a Opinion Box, trouxe insights importantes sobre o comportamento financeiro dos brasileiros. Dos 1.506 entrevistados, 97% que contrataram crédito pesquisaram previamente sobre taxas de juros (67%), valor das parcelas (60%) e prazo de pagamento (56%). Apesar desse engajamento, a preferência pelos créditos mais caros, como cartão de crédito (65%) e empréstimo pessoal (42%), persiste.
Modalidades mais vantajosas, como empréstimos com garantia de veículo ou imóvel, que apresentam taxas inferiores a 2% ao mês, são pouco utilizadas. Isso evidencia um desafio cultural e educacional que precisa ser superado para melhorar a saúde financeira da população.
Entre os motivos mais comuns para o endividamento estão despesas inesperadas (30%), uso excessivo do cartão de crédito (27%) e parcelamentos no cartão (24%). Esses fatores refletem a vulnerabilidade financeira de muitas famílias, agravada por hábitos de consumo e pela falta de planejamento.
Educação Financeira: Um Caminho para Reduzir Dívidas
A busca por informações para melhorar a organização financeira é crescente. Segundo a pesquisa, 94% dos entrevistados procuram formas de controlar gastos e organizar suas finanças. Os buscadores da internet (41%), sites e aplicativos de bancos (39%) e influenciadores digitais (37%) são os meios mais utilizados para esse propósito.
No entanto, a disseminação de conteúdos confiáveis e acessíveis é fundamental. Campanhas educativas voltadas para o uso consciente do crédito, combinadas com políticas públicas para estimular o acesso a modalidades mais baratas de financiamento, podem contribuir para reverter o quadro de endividamento.
O aumento do número de lares endividados nas capitais brasileiras reforça a necessidade de uma abordagem abrangente para lidar com a questão. Além de iniciativas locais, é essencial que haja uma estratégia nacional focada em educação financeira e acesso a crédito mais vantajoso. A estabilidade do índice geral de endividamento esconde desigualdades regionais que precisam ser endereçadas com soluções específicas para cada contexto.
Enquanto isso, as famílias devem ser incentivadas a adotar práticas de consumo consciente e a explorar alternativas menos onerosas para financiamento de despesas. Somente assim será possível reverter a tendência de crescimento do endividamento e promover maior estabilidade econômica.