Os EUA e seus aliados europeus ainda estão tentando obter uma imagem clara dos eventos dramáticos que ocorreram na Rússia neste sábado (24), trocando informações e análises em videoconferências organizadas às pressas, diante do risco de instabilidade política de uma potência nuclear global.
Autoridades ocidentais disseram que sua maior prioridade é deixar claro que não estão tomando partido no breve confronto entre o exército russo e o grupo mercenário privado Wagner — ou a trégua tensa que surgiu no fim do dia.
O Departamento de Estado dos EUA enviou uma mensagem às suas missões no exterior para transmitir aos governos que “os Estados Unidos não têm intenção de se envolver neste assunto”.
Um alto funcionário europeu disse que as capitais ocidentais também estão evitando a coordenação entre seus militares em relação aos eventos na Rússia.
Autoridades dos EUA disseram que não viram mudanças na disposição das forças nucleares russas, nem qualquer razão para ajustar suas próprias forças, e observaram que os EUA mantêm linhas de comunicação com a Rússia para discutir questões nucleares.
O presidente Biden foi informado na noite de sexta-feira sobre a rebelião do grupo de mercenários Wagner de Yevgeny Prigozhin, antigo aliado do líder russo Vladimir Putin. Na manhã deste sábado (24), Biden se reuniu com altos funcionários da segurança nacional. Enquanto as forças Wagner avançavam em direção a Moscou, Biden falou com seus principais aliados, o presidente francês Emmanuel Macron, o premiê alemão Olaf Scholz e o premiê britânico Rishi Sunak do Reino Unido.
O Kremlin poderia explorar a situação para sugerir que o Ocidente estava envolvido no levante depois abortado pelo Wagner.
Na Dinamarca, neste fim de semana, autoridades americanas, ucranianas e europeias já deveriam se reunir com representantes de algumas das principais potências neutras, incluindo Brasil, Índia, Arábia Saudita e África do Sul, para obter apoio para os termos de paz da Ucrânia.
Os EUA também atrasaram a imposição de novas sanções ao grupo Wagner, até terça-feira, temendo que a medida pudesse inadvertidamente fortalecer a mão de Putin.
Nas capitais ocidentais, o desafio de Prigozhin a Putin cristalizou uma preocupação aparente desde os primeiros dias da guerra: se Putin for derrubado isso provocaria instabilidade na região ou abriria caminho para o fim da guerra e relações mais construtivas com Moscou?
Autoridades dos EUA e da Europa sempre disseram que seu objetivo ao apoiar a Ucrânia na guerra não é uma mudança de regime na Rússia. Algumas autoridades dos EUA disseram que a invasão da Ucrânia pela Rússia pode acabar enfraquecendo o país e impedindo-o de atacar vizinhos, enquanto alguns legisladores americanos expressaram esperanças de que Putin possa ser afastado do poder.
No fim deste sábado, o Ocidente se deparou com outro conjunto de questões difíceis. Será que Putin, que recuou em sua ameaça de derrotar a insurreição de Prighozin, sairá seriamente enfraquecido desta crise? E se assim for, um Putin mais fraco teria mais chances de escalar o conflito na Ucrânia para recuperar a confiança ou buscar alguma saída para o conflito?
Ao longo da guerra iniciada em fevereiro do ano passado, as capitais do flanco oriental da Europa têm estado mais esperançosas do que Washington de que a invasão de Putin na Ucrânia possa significar o fim de seu governo de 23 anos. Autoridades da região dizem que a Rússia está em um período crítico durante o qual Putin precisa reafirmar o controle e assegurar às elites sua continuidade no poder. Mesmo que tenha sucesso, ele sairá mais fraco do que antes do levante de Prigozhin.
“Este é o momento, o momento crucial para seu futuro político”, disse Rainer Saks, ex-chefe do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia. “Sua autoridade está diminuindo, isso é absolutamente certo. Seu poder é muito baseado em sua personalidade, este não é um caso onde você pode ficar escondido, é impossível… E ele está perdendo seu respeito.”