No cenário econômico atual do Brasil, a batalha contra a inflação não pode recair unicamente sobre os ombros do Banco Central. Essa foi a mensagem enfatizada por José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre-FGV, durante o 2º Seminário de Análise Conjuntural, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Senna destacou as preocupações com as questões internas do país, apontando que, apesar dos esforços do Banco Central no controle da inflação, a política fiscal vigente dificulta a obtenção de resultados mais positivos nesse aspecto. Ele ressaltou que a natureza expansionista da política fiscal tem impactado diretamente nos recentes números positivos do Produto Interno Bruto (PIB), especialmente no que diz respeito ao consumo das famílias.
A defesa da meta de inflação de 3% foi outra posição destacada por Senna, que argumentou que, embora não represente estabilidade de preços, é um patamar aceitável para a realidade brasileira. Ele questionou por que o país não poderia alcançar esse índice, citando experiências de outras regiões do mundo.
No entanto, Senna reconheceu os desafios enfrentados pelo Banco Central, especialmente diante da questão fiscal e da incerteza em relação à nova composição da autarquia em 2025. Nesse contexto, ele afirmou que a autoridade monetária pode, no máximo, interromper o ciclo de redução da taxa básica de juros, mas expressou dúvidas sobre a eficácia dessa medida.
Armando Castelar, pesquisador associado do Ibre-FGV, também alertou para os desafios da transição no comando do Banco Central, ressaltando a importância de evitar politização nesse processo. Ele destacou que o atual ambiente de inflação e expectativas não permite uma postura de afrouxamento monetário.
Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro Ibre-FGV, abordou a questão do superávit primário, indicando um cenário de déficit primário persistente e aumento da dívida pública. Ela destacou a importância da reforma da Previdência diante desse contexto e alertou para os impactos do aumento do consumo das famílias sobre a inflação e os mais vulneráveis.
Diante dessas análises, fica evidente a complexidade dos desafios econômicos que o Brasil enfrenta, exigindo medidas cautelosas e estratégicas para garantir a estabilidade e o crescimento sustentável.