A indústria de fundos de investimento no Brasil registrou um dos seus piores meses em setembro de 2024, com resgates líquidos expressivos que impactaram diversas categorias de investimentos. De acordo com o Boletim de Fundos da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o setor sofreu a primeira captação líquida negativa do ano, com um total de R$ 53,9 bilhões resgatados. Entre as classes mais afetadas, destacam-se os fundos multimercados e os de ações, que juntos acumularam perdas significativas.
Multimercados e Fundos de Ações Lideram Perdas
Os fundos multimercados foram os que mais sofreram em setembro, com um volume de resgates de R$ 53,9 bilhões. Essa categoria, que historicamente oferece uma diversificação de estratégias e classes de ativos, tem enfrentado dificuldades em manter os investidores, em parte devido ao ambiente macroeconômico volátil e às incertezas políticas e fiscais que marcam o cenário econômico brasileiro. Além disso, a classe Livre dentro dos multimercados, conhecida por maior flexibilidade em suas alocações, foi a que mais contribuiu para o declínio, com uma saída de R$ 41,1 bilhões.
Os fundos de ações também sentiram o impacto, embora em menor escala, com resgates líquidos de R$ 2,8 bilhões. Esse resultado é reflexo da instabilidade do mercado de ações, marcada por flutuações nos preços dos ativos e pela aversão ao risco por parte dos investidores. Com a bolsa brasileira registrando períodos de alta volatilidade, muitos investidores optaram por mover seus recursos para investimentos mais conservadores.
Setores com Desempenho Positivo: FIPs, Previdência e Renda Fixa
Apesar do cenário negativo, algumas classes de fundos conseguiram se destacar positivamente em setembro. Os Fundos de Investimento em Participações (FIP) registraram uma captação líquida de R$ 2,2 bilhões, tornando-se uma das poucas categorias com desempenho positivo. Os FIPs, que são conhecidos por investirem diretamente em empresas, muitas vezes em fases iniciais ou em projetos de infraestrutura, têm atraído o interesse de investidores de longo prazo, que buscam retornos mais robustos e menos voláteis.
Além dos FIPs, os fundos de previdência e de renda fixa também apresentaram resultados positivos, com captações líquidas de R$ 895,9 milhões e R$ 839,5 milhões, respectivamente. Na classe de renda fixa, o destaque foi para o tipo Duração Livre Crédito Livre, que captou R$ 8,0 bilhões. Esse tipo de fundo é considerado mais seguro e atrai investidores em momentos de maior incerteza, devido ao foco em ativos de crédito e títulos de dívida.
Panorama Anual: Captação Positiva, Apesar dos Multimercados
Embora setembro tenha sido o pior mês do ano, o desempenho acumulado da indústria de fundos de investimento em 2024 ainda se mantém positivo, com uma captação líquida de R$ 253,6 bilhões até o momento. Esse resultado é amplamente impulsionado pela classe de renda fixa, que sozinha captou R$ 309,4 bilhões, refletindo o movimento dos investidores em direção a opções mais conservadoras em um ambiente de alta dos juros.
Entretanto, o grande ponto de preocupação continua sendo a classe dos multimercados, que já acumula resgates líquidos de R$ 198,2 bilhões em 2024. O montante não apenas supera o registrado no ano passado, quando os resgates totalizaram R$ 182,2 bilhões, como também coloca 2024 como o pior ano da série histórica da Anbima para essa categoria.
Desde 2022, os fundos multimercados têm enfrentado resgates significativos, com um total de R$ 466,6 bilhões saindo desses produtos ao longo dos últimos dois anos. Esse cenário reflete a deterioração da confiança dos investidores, que passaram a buscar alternativas de investimento com maior previsibilidade de retorno, especialmente em um contexto de alta inflação e incertezas fiscais no Brasil.
O Futuro dos Fundos Multimercados
A situação delicada dos multimercados levanta questionamentos sobre o futuro dessa classe de investimentos. Embora sejam tradicionalmente vistos como produtos diversificados e capazes de gerar retornos superiores em diferentes cenários econômicos, os últimos anos têm mostrado que a volatilidade do mercado e a falta de previsibilidade têm sido um desafio para gestores de fundos dessa categoria.
A recuperação dos multimercados dependerá, em grande parte, da estabilização do cenário macroeconômico, bem como da capacidade dos gestores de adaptação a novas realidades de mercado. A flexibilização da política monetária, com possíveis cortes nas taxas de juros, também pode contribuir para a retomada do interesse por produtos de maior risco, como os multimercados, no médio e longo prazo.
No entanto, até que essa recuperação ocorra, é esperado que os investidores continuem a priorizar alocações em ativos de renda fixa e em categorias mais seguras, como os fundos de previdência e os FIPs, que oferecem maior estabilidade e previsibilidade de retorno.
O desempenho da indústria de fundos de investimento em setembro de 2024 reflete um cenário de incerteza e volatilidade no mercado financeiro. Enquanto algumas classes de fundos, como os FIPs e os fundos de renda fixa, conseguiram atrair novos aportes, os multimercados e os fundos de ações continuam a sofrer com a saída de recursos. Para os investidores, o desafio é equilibrar a busca por retornos com a necessidade de segurança, em um contexto de alta instabilidade econômica.
A expectativa é que, com o possível arrefecimento da inflação e uma eventual redução das taxas de juros, o mercado financeiro brasileiro possa voltar a atrair mais investidores para produtos mais arriscados, incluindo os multimercados. Até lá, a renda fixa deve continuar como a escolha principal para aqueles que buscam proteger seu capital em tempos de incerteza.