STF marca julgamento de denúncia contra Eduardo Bolsonaro por coação no curso do processo
O Supremo Tribunal Federal (STF) agendou para o período entre 14 e 25 de novembro de 2025 o julgamento de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por coação no curso do processo. A Primeira Turma do STF decidirá, em ambiente virtual, se aceita ou não a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o deputado licenciado, o que pode transformar o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro em réu em uma ação penal.
O caso é considerado um dos mais delicados envolvendo um parlamentar da base bolsonarista, pois toca diretamente em acusações de tentativa de interferência e pressão sobre o Poder Judiciário.
O que está em jogo no julgamento de Eduardo Bolsonaro
A denúncia apresentada pela PGR acusa Eduardo Bolsonaro de tentar intimidar ministros do STF para influenciar o andamento do processo que condenou seu pai, Jair Bolsonaro, a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros crimes relacionados.
Segundo o Ministério Público, o deputado teria promovido uma campanha internacional pedindo que o governo dos Estados Unidos aplicasse sanções contra autoridades judiciais brasileiras, com o objetivo de pressioná-las a rever decisões desfavoráveis ao ex-presidente.
A decisão da Primeira Turma será fundamental para definir se a conduta de Eduardo configura crime de coação no curso do processo, previsto no artigo 344 do Código Penal. Caso a denúncia seja recebida, o deputado se tornará réu e o processo passará para a fase de instrução, em que defesa e acusação apresentarão provas e testemunhas.
Entenda o contexto político do caso
O julgamento de Eduardo Bolsonaro ocorre em meio a um momento de tensão entre os Poderes, especialmente após a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de subversão da ordem democrática.
Eduardo, que está nos Estados Unidos desde março de 2025, afirma ser vítima de perseguição política e vem mantendo uma agenda pública intensa com políticos e empresários ligados ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Essa aproximação com a ala conservadora norte-americana foi interpretada pela PGR como uma tentativa deliberada de mobilizar pressão internacional sobre o Judiciário brasileiro.
A denúncia destaca que o parlamentar “atuou para criar um ambiente hostil à independência dos magistrados”, o que, se confirmado, configuraria uma afronta direta à autonomia do STF e ao princípio da separação dos poderes.
O papel do ministro Alexandre de Moraes no processo
O caso está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, que determinou que a Defensoria Pública da União (DPU) representasse Eduardo Bolsonaro, uma vez que o deputado não constituiu advogado de defesa.
A DPU apresentou manifestação pedindo a rejeição da denúncia, alegando que as falas do parlamentar estariam amparadas pelo direito à liberdade de expressão e pelo exercício do mandato parlamentar, e que não há provas concretas de coação.
Moraes, contudo, entendeu que o caso possui relevância constitucional e interesse público, motivo pelo qual encaminhou o processo à Primeira Turma do STF para julgamento.
A expectativa é de que o placar dos ministros seja apertado, já que o caso envolve questões sensíveis como imunidade parlamentar, limites da liberdade de expressão e responsabilidade política.
O papel da PGR e a acusação formal
A denúncia da Procuradoria-Geral da República aponta que Eduardo Bolsonaro “utilizou seu mandato e influência política para tentar constranger membros do Supremo Tribunal Federal”.
O órgão também menciona a participação do jornalista Paulo Figueiredo, aliado de Eduardo, que teria colaborado com a disseminação de conteúdos e declarações contra ministros do STF em redes sociais e canais de comunicação internacionais.
Contudo, devido à sua residência permanente nos Estados Unidos, Figueiredo será intimado por carta rogatória, um procedimento diplomático mais demorado, o que fez o processo dele tramitar separadamente.
Para os procuradores, o conjunto de ações configura uma estratégia coordenada para fragilizar a autoridade do STF e interferir em processos judiciais em curso, o que se enquadra no crime de coação no curso do processo.
As possíveis consequências jurídicas
Caso a Primeira Turma decida receber a denúncia, Eduardo Bolsonaro se tornará réu em uma ação penal no Supremo, o que abrirá caminho para uma investigação mais ampla sobre sua conduta e possíveis conexões com outros atores políticos.
Se condenado, o deputado poderá perder o mandato e ficar inelegível, além de enfrentar pena de reclusão de até quatro anos.
Por outro lado, se a denúncia for rejeitada, o processo será arquivado e Eduardo permanecerá livre de acusações criminais relacionadas a este episódio — embora continue sendo alvo de outras investigações ligadas à atuação política do grupo bolsonarista.
Repercussões políticas e internacionais
O julgamento de Eduardo Bolsonaro no STF ganhou repercussão internacional após as sanções impostas por Donald Trump ao Brasil. Em outubro, o ex-presidente norte-americano anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, justificando a medida como resposta ao que classificou de “perseguição política” a Jair Bolsonaro.
Além disso, a Casa Branca suspendeu vistos diplomáticos de ministros do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, em um gesto visto como uma tentativa de retaliação simbólica.
Nos bastidores, diplomatas brasileiros afirmam que o episódio acentuou o desgaste nas relações bilaterais e expôs o país a constrangimentos diplomáticos, justamente num momento em que o governo tenta reconstruir sua imagem no exterior.
Defesa e estratégia política
Apesar de ainda não ter advogado constituído oficialmente, a defesa de Eduardo Bolsonaro — atualmente representada pela DPU — sustenta que as manifestações do deputado não configuram crime.
Segundo os defensores, suas declarações fazem parte do debate político legítimo, protegido pela Constituição, e não houve qualquer tentativa concreta de intimidar o Supremo ou obstruir a Justiça.
Nos bastidores, aliados afirmam que Eduardo pretende retornar ao Brasil apenas após o encerramento do julgamento. Enquanto isso, ele continua divulgando mensagens nas redes sociais e participando de eventos políticos nos Estados Unidos, reforçando o discurso de que seria alvo de uma perseguição institucional.
O impacto sobre o bolsonarismo
O julgamento no STF representa um teste de resistência para o movimento bolsonarista. Se a denúncia for recebida, o caso poderá servir como precedente para novas ações contra outros aliados de Jair Bolsonaro que tenham se envolvido em ataques ao Supremo ou em campanhas de desinformação.
Para a base bolsonarista, o processo é visto como mais uma ofensiva do Judiciário contra a liberdade política do grupo. Já para críticos do ex-presidente, o episódio é uma demonstração de que o Estado Democrático de Direito está sendo preservado diante de tentativas de desestabilização institucional.
A decisão da Primeira Turma do STF, marcada para novembro, promete ser um divisor de águas tanto no campo jurídico quanto no político.
Expectativas para o julgamento
O julgamento virtual deve ocorrer entre 14 e 25 de novembro, período em que os ministros poderão apresentar seus votos de forma eletrônica. O relator Alexandre de Moraes deve votar pela admissibilidade da denúncia, seguido por outros quatro ministros da Primeira Turma.
A decisão final será conhecida logo após o encerramento do prazo. Caso o voto da maioria seja pelo recebimento, o processo segue para instrução criminal. Se a maioria optar pela rejeição, a denúncia será arquivada.
Independentemente do resultado, o caso consolida o STF como o principal palco de enfrentamento entre o Judiciário e o bolsonarismo, num cenário que continuará a definir os rumos da política brasileira nos próximos anos.






