Juros futuros sobem após Fed sinalizar incerteza sobre novo corte de juros nos EUA
Alta dos Treasuries e cautela do Federal Reserve elevam as taxas de DIs no Brasil
Os juros futuros encerraram a sessão desta quarta-feira (29) em alta em toda a curva de contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs), refletindo a reação dos investidores à decisão do Federal Reserve (Fed) de cortar juros em 25 pontos-base, mas indicar que novos cortes em dezembro ainda estão em dúvida.
A incerteza quanto aos próximos passos da política monetária americana impulsionou os rendimentos dos Treasuries — títulos do Tesouro dos Estados Unidos — e repercutiu diretamente nas taxas brasileiras.
No fechamento da sessão, o DI para janeiro de 2028 subiu a 13,175%, contra 13,129% no ajuste anterior, enquanto o DI para janeiro de 2035 avançou para 13,62%, após marcar 13,47% no pregão anterior.
Fed corta juros, mas adota tom mais conservador
O Fed reduziu a taxa de juros dos Estados Unidos em 25 pontos-base, fixando-a na faixa entre 3,75% e 4,00% ao ano. Apesar do corte, o comunicado da instituição deixou claro que o caminho à frente dependerá dos dados econômicos, que continuam limitados devido à recente paralisação parcial do governo norte-americano (shutdown).
A decisão foi dividida: dez membros votaram pelo corte, um defendeu redução maior e outro pela manutenção da taxa. A mensagem central do Fed foi de cautela — sinalizando que o ciclo de flexibilização pode estar mais próximo do fim do que o mercado previa.
Além disso, o banco central americano anunciou o encerramento do programa de redução de seu balanço patrimonial, atualmente em US$ 6,6 trilhões, para evitar o aperto excessivo das condições de liquidez no sistema financeiro.
Essa combinação de decisão monetária e comunicação contida elevou a percepção de risco nos mercados globais e fez disparar os rendimentos dos Treasuries, especialmente nos vencimentos curtos e intermediários.
Treasuries sobem e pressionam os mercados emergentes
Às 16h45 (horário de Brasília), o Treasury de dois anos, que reflete as expectativas para os juros de curto prazo, subia 12 pontos-base, atingindo 3,61% ao ano. Já o Treasury de dez anos, referência global para decisões de investimento, avançava 9 pontos-base, para 4,07% ao ano.
Esse movimento reforça a percepção de que o mercado americano ainda precifica uma economia mais resistente à política monetária restritiva, o que reduz a necessidade de novos cortes de juros.
O aperto nos Treasuries teve efeito dominó sobre as taxas de juros futuros em países emergentes — incluindo o Brasil —, onde investidores ajustaram posições para refletir um cenário global menos favorável a ativos de risco.
Efeito no mercado doméstico: curva de juros e dólar em alta
No Brasil, a curva de juros futuros acompanhou o movimento externo e passou de um comportamento estável no início do dia para alta generalizada nos vencimentos mais longos após o anúncio do Fed.
A taxa do DI para janeiro de 2028 chegou a cair para 13,085% (-4 pontos-base) por volta das 11h14, mas inverteu o movimento e encerrou o dia em 13,170% (+4 pontos-base) às 16h14.
O dólar, que vinha cedendo ante o real, também reagiu à decisão americana e retomou o fôlego, acompanhando a busca global por segurança e a reprecificação dos juros nos EUA.
A leitura predominante entre os analistas é que o Banco Central do Brasil (BCB) pode manter a Selic em 15% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o início de novembro.
De acordo com dados da curva de DIs, o mercado precifica 98% de probabilidade de manutenção da taxa básica — o que indica consenso de que o ciclo de cortes no Brasil também pode estar próximo do fim.
Ferramenta CME FedWatch reduz probabilidade de corte em dezembro
Antes da decisão do Fed, a ferramenta CME FedWatch mostrava 87,3% de probabilidade de novo corte de 25 pontos-base em dezembro. Após o anúncio e o discurso de Jerome Powell, essa estimativa caiu para 63,4%, evidenciando que a aposta em mais flexibilização monetária perdeu força.
Powell reforçou que os membros do comitê ainda não têm consenso sobre o cenário à frente e alertou o mercado a não presumir automaticamente novos cortes.
O tom mais duro do comunicado levou investidores a rever expectativas e reforçou a leitura de que o Fed pode interromper temporariamente o ciclo de afrouxamento monetário, dependendo da trajetória da inflação e do mercado de trabalho.
Impactos sobre os mercados globais e emergentes
A comunicação do Fed provocou uma reprecificação global de ativos. Bolsas dos Estados Unidos e da Europa encerraram o dia com volatilidade elevada, enquanto moedas de países emergentes — como o real, o peso mexicano e o rand sul-africano — sofreram desvalorização.
Os mercados asiáticos devem reagir com cautela nas próximas sessões, uma vez que o aperto das condições financeiras nos EUA tende a reduzir o apetite global por risco.
No Brasil, o movimento de alta dos juros futuros e do dólar reflete uma combinação de fatores externos e internos: a incerteza sobre a política monetária americana e a expectativa de estabilidade da Selic até o fim do ano.
Perspectivas para o mercado de juros no Brasil
A trajetória dos juros futuros no Brasil segue fortemente atrelada ao cenário internacional. Com o Fed sinalizando prudência, investidores passaram a apostar que o BCB adotará postura semelhante, evitando movimentos bruscos de corte na Selic.
Além disso, a pressão inflacionária global e a volatilidade cambial devem manter os prêmios de risco elevados nas curvas longas de DIs.
Analistas do mercado financeiro destacam que, mesmo com a recente desaceleração da atividade econômica, o Copom tende a aguardar dados mais consistentes antes de retomar cortes.
No curto prazo, o cenário de juros altos e dólar valorizado tende a afetar o apetite por renda variável, beneficiando o mercado de renda fixa e os títulos públicos indexados ao IPCA, que oferecem retornos reais mais atrativos.
Interpretação dos analistas: cautela e adaptação
Economistas avaliam que o movimento desta quarta-feira marca uma inflexão nas expectativas do mercado. O Fed sinalizou que, embora o ciclo de cortes tenha começado, as próximas decisões serão mais espaçadas e dependentes dos dados.
Para o investidor brasileiro, isso significa volatilidade nos juros futuros e no câmbio, além de um ambiente de menor previsibilidade para estratégias de longo prazo.
Os próximos indicadores de inflação, emprego e confiança nos Estados Unidos serão determinantes para definir se o Fed continuará cortando juros ou se fará uma pausa prolongada.
Enquanto isso, a curva de juros brasileira deve permanecer sensível às variações dos Treasuries e às decisões de política fiscal e monetária no país.
Juros futuros sobem com sinal de prudência do Fed
O movimento de alta nos juros futuros brasileiros nesta quarta-feira (29) reflete o reposicionamento global dos investidores após o Fed adotar uma comunicação mais restritiva.
O mercado entendeu que novos cortes de juros nos EUA não estão garantidos, o que fortaleceu os Treasuries, elevou o dólar e pressionou as taxas de DIs no Brasil.
Com isso, a expectativa de manutenção da Selic em 15% ganha força, e a curva de juros brasileira tende a permanecer pressionada até que haja maior clareza sobre os próximos passos do Fed e do Copom.
O cenário reforça a importância de estratégias conservadoras de investimento e acompanhamento atento das decisões de política monetária global.






