Nesta terça-feira (24), o cenário econômico global concentra atenções em eventos de grande relevância tanto no Brasil quanto no exterior. A divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, estão entre os principais destaques. No mercado financeiro, os investidores também aguardam a fala de Roberto Campos Neto, presidente do BC, e o índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos, além de dados econômicos importantes como o Produto Interno Bruto (PIB) e o Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE).
Ata do Copom: Selic e controle da inflação
A ata da última reunião do Copom, divulgada nesta manhã, trouxe detalhes importantes sobre o aumento da taxa Selic de 10,50% para 10,75%. O documento destacou três dimensões principais que guiaram a decisão. Primeiro, o comitê avaliou o cenário de resiliência da atividade econômica, com pressões no mercado de trabalho, um hiato positivo no produto e elevações nas projeções de inflação. Diante desse quadro, o BC considerou necessário um ajuste na política monetária para conter o avanço da inflação e buscar sua convergência à meta estabelecida.
Em segundo lugar, o Copom indicou que o ciclo de aumento dos juros deve ser gradual, permitindo uma análise mais minuciosa dos dados econômicos e das incertezas tanto no cenário doméstico quanto externo. A abordagem cautelosa visa equilibrar a necessidade de controle inflacionário com o impacto do aumento de juros sobre a economia real.
Por fim, o documento enfatizou que a comunicação do BC sobre os próximos passos da política monetária não deve fornecer previsões definitivas, reforçando a necessidade de monitoramento contínuo das variáveis econômicas. O compromisso firme do Comitê com a convergência da inflação à meta foi reiterado, destacando o papel crucial dos ajustes na Selic.
Discurso de Lula na ONU e reuniões de Haddad
Ainda no cenário político, o presidente Lula discursou na abertura da Assembleia Geral da ONU, abordando temas como meio ambiente, economia global e o papel do Brasil no cenário internacional. O discurso de Lula em eventos globais costuma ser acompanhado de perto pelos mercados, pois pode sinalizar as prioridades do governo brasileiro e influenciar percepções sobre o ambiente de negócios no país.
Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reúne com representantes da Fitch Ratings. A agência de classificação de risco é responsável por avaliar a capacidade do Brasil de honrar suas dívidas, e o encontro pode influenciar futuras revisões de nota de crédito do país, impactando diretamente a percepção de risco dos investidores internacionais sobre a economia brasileira.
Estímulos econômicos da China impulsionam mercados internacionais
No âmbito internacional, os mercados acionários e os rendimentos dos Treasuries americanos estão em alta, impulsionados pelo anúncio de um robusto pacote de estímulos econômicos da China. Essa é a medida mais agressiva tomada pelo governo chinês desde a pandemia, e tem como objetivo mitigar os efeitos do enfraquecimento da economia chinesa e da zona do euro, que registrou nova contração este mês.
A alta nas bolsas europeias foi impulsionada pelo desempenho positivo de setores como mineração e bens de luxo, que se beneficiam diretamente das políticas de estímulo chinesas. O índice Ifo, que mede o sentimento das empresas na Alemanha, apresentou uma queda maior que o esperado em setembro, mas o mercado parece ter ignorado essa deterioração em favor das boas notícias vindas da China.
Nos Estados Unidos, investidores aguardam os discursos de Michelle Bowman, diretora do Federal Reserve (Fed), e a divulgação do índice de confiança do consumidor. Além disso, a atenção também está voltada para os dados do PIB e do PCE, que serão divulgados ao longo da semana e devem oferecer uma visão mais clara sobre a situação da economia americana.
Commodities em alta: Minério de ferro e petróleo
No mercado de commodities, o minério de ferro e o petróleo são os grandes destaques desta terça-feira. O minério de ferro subiu 4,64% na bolsa de Dalian, impulsionado pelas expectativas de aumento da demanda por parte da China, em resposta aos novos pacotes de estímulo. Já o petróleo avançou mais de 2%, influenciado pelas tensões geopolíticas no Oriente Médio e pelas ameaças de furacões nos Estados Unidos e México, o que pode impactar a produção e o fornecimento de energia.
Esse movimento de alta nas commodities está provocando uma valorização dos American Depositary Receipts (ADRs) de empresas brasileiras como Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3). Os ADRs são recibos de ações de empresas estrangeiras negociados em bolsas de valores nos EUA, e a alta nos preços das commodities beneficia diretamente essas companhias.
Tesouro Nacional e leilões de títulos
Ainda no Brasil, o Tesouro Nacional realiza leilões de Notas do Tesouro Nacional Série B (NTN-B) e de Letra Financeira do Tesouro (LFT). Esses títulos públicos são atrelados à inflação e à taxa de juros, respectivamente. Vale destacar que o leilão tradicional de pós-fixados não será impactado pela greve dos servidores do Tesouro Nacional, que tem causado paralisações na venda de títulos pelo programa Tesouro Direto.
A greve dos servidores, que começou em agosto, busca pressionar o governo pela inclusão de reajustes salariais na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2025 e no orçamento do mesmo ano. Enquanto as negociações prosseguem, o Tesouro mantém suas operações de leilões de títulos, essenciais para o financiamento da dívida pública e a manutenção das finanças do governo.
Expectativa para o Ibovespa
O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, deve abrir em alta nesta terça-feira, seguindo o otimismo internacional trazido pelos estímulos chineses. No entanto, o cenário fiscal brasileiro e as preocupações com a política monetária podem moderar esses ganhos ao longo do dia.
Os investidores continuam atentos às discussões sobre a situação fiscal do Brasil e à política de juros adotada pelo BC. As sinalizações do Copom sobre a necessidade de manter uma política monetária mais contracionista, combinadas com as incertezas no cenário externo, podem levar a um movimento de cautela por parte do mercado, limitando a alta do índice.
O dia de hoje é marcado por eventos de grande impacto para o mercado financeiro global e local. A ata do Copom, o discurso de Lula na ONU, e os estímulos econômicos da China são os principais destaques que devem direcionar os investidores e influenciar o desempenho das bolsas e ativos. No Brasil, a atenção se volta para a política monetária e fiscal, enquanto os leilões de títulos do Tesouro continuam a ser uma peça-chave para o financiamento do governo.