As projeções de economistas inseridas no Sistema Expectativas de Mercado, que serve de base para o Boletim Focus do Banco Central, passaram a indicar uma trajetória ainda mais elevada para a taxa Selic. Com as últimas atualizações, o mercado agora espera que os juros cheguem a 11,75% ao final do ciclo de aperto monetário, com cortes esperados somente a partir de julho de 2025. A revisão das expectativas ocorre logo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou os juros em 0,25 ponto percentual, passando de 10,50% para 10,75% na última quarta-feira (18).
Copom eleva a taxa Selic e sinaliza mais aperto monetário
Na reunião de outubro, o Copom confirmou a elevação da taxa Selic para 10,75%, marcando mais um passo no ciclo de aperto monetário que visa combater as pressões inflacionárias no Brasil. A decisão veio acompanhada de um comunicado que destacou a assimetria nos riscos para a inflação, indicando que o cenário continua desfavorável para a estabilidade de preços. O colegiado do Banco Central já vinha alertando sobre a possibilidade de novos ajustes na política monetária, caso as expectativas de inflação continuassem a piorar.
De fato, os dados recentes de inflação e as preocupações com o aumento do preço das commodities, bem como a depreciação cambial, estão pressionando o Copom a manter uma postura mais dura. Isso se reflete diretamente nas projeções do mercado, que agora esperam um ciclo mais prolongado de juros altos, com a Selic subindo para 11,75% ao final de 2024, e mantendo-se nesse nível até meados de 2025.
Projeções para os próximos meses: Selic pode subir ainda mais em 2024
De acordo com o Sistema Expectativas de Mercado, a próxima reunião do Copom, marcada para o dia 6 de novembro, deverá trazer um novo aumento de 0,5 ponto percentual, levando a taxa básica para 11,25%. Nas duas reuniões seguintes, previstas para dezembro de 2024 e janeiro de 2025, o mercado espera que o comitê adote uma postura mais gradual, com altas de 0,25 ponto percentual, resultando em uma Selic de 11,50% e 11,75%, respectivamente.
Essa série de aumentos reflete a necessidade de conter a inflação, que permanece acima da meta estabelecida pelo Banco Central. O objetivo do Copom é ancorar as expectativas dos agentes econômicos e, ao mesmo tempo, evitar que a inflação se torne ainda mais persistente. No entanto, o ritmo mais agressivo de alta dos juros levanta preocupações sobre o impacto dessa política no crescimento econômico, uma vez que os juros elevados tendem a desacelerar a atividade produtiva, o consumo e os investimentos.
Expectativa de cortes somente em 2025
Apesar do aperto monetário previsto para os próximos meses, o mercado ainda projeta que os cortes na taxa Selic só começarão a acontecer em meados de 2025. A primeira redução de 0,25 ponto percentual está prevista para a reunião de 30 de julho de 2025, quando a taxa cairia para 11,50%. Em seguida, novos cortes graduais de 0,25 ponto ocorreriam em setembro (11,25%) e novembro (11,0%), com uma última redução de 0,5 ponto percentual em dezembro, finalizando o ano com a Selic em 10,5%.
Essa expectativa de cortes reflete uma avaliação de que o controle da inflação poderá ser alcançado ao longo de 2025, permitindo ao Banco Central adotar uma política monetária mais acomodatícia. No entanto, esse cenário depende de uma série de fatores, incluindo o comportamento dos preços internacionais de commodities, a trajetória fiscal do Brasil e o desempenho da economia global.
Trajetória íngreme da Selic preocupa setores da economia
A trajetória da taxa Selic preocupa setores da economia que são altamente sensíveis aos juros elevados. Entre os mais afetados estão o setor de construção civil, que depende de financiamento de longo prazo, e o setor de consumo, que pode ver uma retração nas vendas com o aumento do custo do crédito. Pequenas e médias empresas também tendem a sofrer com a restrição do crédito, o que pode limitar suas capacidades de investimento e expansão.
Além disso, as famílias brasileiras podem sentir o impacto direto da elevação dos juros, uma vez que o custo dos financiamentos para a compra de bens duráveis, como imóveis e veículos, tende a subir. O aumento nas prestações e nas taxas de juros dos cartões de crédito também pode resultar em uma redução no consumo, impactando a atividade econômica de forma mais ampla.
Por outro lado, setores que se beneficiam de um ambiente de juros altos, como o setor financeiro e os investidores em renda fixa, podem observar ganhos. O aumento dos juros eleva a rentabilidade de aplicações atreladas à taxa Selic, como os títulos públicos e os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), tornando esses ativos mais atraentes em comparação com investimentos de maior risco, como ações.
Impactos no mercado financeiro: Bolsa e dólar
A política de juros altos também influencia diretamente o comportamento do mercado financeiro. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, tende a reagir de forma negativa ao aumento dos juros, uma vez que as empresas listadas podem enfrentar custos de financiamento mais elevados e uma possível desaceleração econômica. As ações de setores mais dependentes do consumo interno, como o varejo e a construção civil, são as mais sensíveis a esse movimento.
Por outro lado, o dólar pode sofrer pressões em função da política monetária do Brasil. A elevação da taxa Selic tende a atrair capital estrangeiro para o país, uma vez que os investidores buscam maior rentabilidade em um ambiente de juros mais altos. Isso pode ajudar a conter a valorização do dólar frente ao real, equilibrando parcialmente os efeitos negativos da inflação importada.
O desafio do Banco Central em 2024
O Banco Central do Brasil enfrenta um desafio duplo em 2024: controlar a inflação sem sufocar o crescimento econômico. O ciclo de aperto monetário reflete a determinação da autoridade monetária em garantir que a inflação não escape do controle, mas a velocidade e a intensidade desses aumentos podem trazer consequências para o ritmo de crescimento do PIB. A expectativa é que a política de juros se mantenha firme até que sinais mais claros de controle inflacionário sejam observados.
Os próximos meses serão cruciais para definir o rumo da economia brasileira, com os dados de inflação e as decisões do Copom servindo como principais indicadores para os mercados e para os agentes econômicos. A incerteza global e o cenário fiscal brasileiro também serão fatores determinantes na condução da política monetária nos próximos anos.