Nos últimos anos, Portugal testemunhou uma série de transformações políticas e sociais que moldaram o cenário nacional de maneira significativa. De um “paraíso socialista” europeu, como era muitas vezes descrito, Portugal passou por uma sucessão de eventos que culminaram em uma crise política e na ascensão da extrema direita no país.
Desde a coalizão de esquerda conhecida como Geringonça, que governou o país em 2015, até a maioria absoluta do Partido Socialista nas eleições de 2022, e mais recentemente, a crise desencadeada por denúncias de corrupção que levaram à convocação de novas eleições, Portugal tem sido palco de mudanças drásticas em seu panorama político.
Caracterizado por um sistema semi-presidencialista, o governo de maioria absoluta do Partido Socialista parecia sólido e inabalável após as eleições anteriores. No entanto, uma megaoperação judicial, semelhante à operação Lava Jato no Brasil, desencadeou uma série de eventos que resultaram na queda do governo, com o Primeiro Ministro António Costa pedindo demissão após ser mencionado em um inquérito.
Embora as acusações contra Costa tenham sido posteriormente retiradas, o dano já estava feito, e novas eleições foram convocadas para março de 2024 pelo presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
No entanto, as eleições não trouxeram a estabilidade esperada. Tanto a coligação de direita liderada pelo Partido Social Democrata (PSD) quanto o Partido Socialista conquistaram 28,6% dos votos, sem um claro vencedor. Enquanto isso, a extrema direita viu um aumento notável em seu apoio, passando de 7% para 18% dos votos e quadruplicando o número de deputados.
Este crescimento da extrema direita, representada pelo partido Chega, liderado por André Ventura, reflete um descontentamento crescente na sociedade portuguesa, impulsionado pela especulação imobiliária, problemas no sistema de saúde e outras questões sociais e econômicas. O discurso anti-imigração e anti-establishment do Chega tem ressonado entre uma parte da população, incluindo a comunidade brasileira em Portugal.
No entanto, a ascensão da extrema direita também levanta preocupações sobre o racismo latente na sociedade portuguesa e a incapacidade da esquerda em canalizar efetivamente o descontentamento popular.
Com nenhum partido conquistando uma maioria clara, o cenário político português se torna altamente instável nos próximos meses. Coligações parecem improváveis, e um governo de minoria enfrentaria dificuldades para governar efetivamente. Assim, o país pode se encaminhar para novas eleições em um futuro próximo, enquanto lida com as consequências da ascensão da extrema direita e a crise política em curso.
Este artigo representa uma análise das recentes mudanças políticas em Portugal e destaca os desafios e incertezas que o país enfrenta em meio a esse contexto complexo, refletindo um modelo de análise crítica dos eventos políticos contemporâneos.