Em um cenário que representa uma reviravolta nas altas dos reajustes, os planos de saúde empresariais, responsáveis por 70% do setor, enfrentam a perspectiva de um reajuste médio de 25% neste ano, conforme dados divulgados recentemente. Esta variação, quatro vezes maior do que a inflação geral, espelha o aumento aplicado no ano anterior, encerrando uma sequência de altas que culminou no maior reajuste desde 2018 em 2023.
Leonardo Coelho, vice-presidente da área de saúde da Aon, uma das maiores consultorias em gestão de benefícios, sugere que o reajuste para 2024 será semelhante ao de 2023, prevendo estabilidade ou uma leve melhora. De acordo com a Aon, o custo médico teve uma variação média de 14% em 2023, assemelhando-se ao observado em 2022.
Thiago Torres, cofundador da consultoria Pipo, compartilha da expectativa de uma melhora nos gastos com saúde, especialmente no segundo semestre do ano. Ele destaca que o último reajuste foi influenciado não apenas pelos aumentos nos custos e no volume de procedimentos médicos, mas também por descompasso nos preços dos planos em relação aos níveis atuais de despesas médicas.
Esse desequilíbrio teve início em 2021, quando os planos de saúde, em resposta ao reajuste negativo, ofereceram produtos precificados com base na sinistralidade de 2020, um ano marcado por quedas nos gastos médicos devido ao isolamento social. Com a retomada forte de procedimentos em 2021, os planos de saúde não estavam adequadamente precificados.
Luiz Feitoza, sócio da consultoria Arquitetos da Saúde, explica que a estratégia de oferta de descontos atraiu cerca de 1,3 milhão de novos usuários em 2022, mas resultou em um prejuízo operacional de aproximadamente R$ 10 bilhões para o setor. A reprecificação, iniciada no segundo semestre de 2022, intensificou-se em 2023, levando as operadoras a corrigirem os preços e, consequentemente, a realizarem reajustes expressivos.
A tendência é particularmente evidente nos planos de saúde voltados às pequenas e médias empresas (PME), cujo aumento na base de usuários em 2023 foi impulsionado por reajustes de até 25%. No entanto, esse aumento de preços não necessariamente reflete um equilíbrio nas carteiras desses planos, destacando desafios no setor.
Em meio a esse cenário, o setor busca manter a rentabilidade, mesmo que isso resulte em uma perda de clientes. Essa dinâmica tem gerado uma disputa mais acirrada entre as empresas contratantes e as operadoras de planos de saúde. A expectativa é de que os reajustes continuem sendo o principal impulsionador para aumentar as margens no setor em 2024, segundo análise do Citi.
Vale destacar que a Fenasaúde nega a oferta de planos de saúde sub precificados para ganhar participação de mercado, afirmando que os reajustes são baseados nos custos médicos e na frequência de uso dos planos de saúde. Enquanto isso, o UnitedHealth Group (UHG), que recentemente vendeu sua operação no Brasil, assumirá encargos significativos relacionados a ajustes de câmbio e passivos associados à transação. A conclusão da transação está prevista para o primeiro semestre de 2024.