Preços ao produtor no Brasil registram nova queda em agosto, segundo IBGE
Os preços ao produtor no Brasil voltaram a cair em agosto, registrando o sétimo mês consecutivo de recuo, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (10). Apesar da continuidade do movimento de queda, a deflação apresentou desaceleração em relação aos meses anteriores, refletindo uma leve melhora no cenário industrial.
O Índice de Preços ao Produtor (IPP) caiu 0,20% em agosto, resultado que, embora negativo, foi menos intenso do que o recuo de 0,31% registrado em julho. No acumulado de 12 meses, o indicador mostra alta de 0,48%, enquanto no acumulado do ano a variação ainda é negativa, com queda de 3,62%.
Esse desempenho reforça um quadro de estabilidade gradual no setor produtivo brasileiro, influenciado pela recuperação parcial da demanda interna, ajustes sazonais e flutuações nos custos das commodities agrícolas e industriais.
O que é o Índice de Preços ao Produtor (IPP)
O Índice de Preços ao Produtor (IPP) é um dos principais indicadores utilizados para medir a variação dos preços de produtos na “porta da fábrica”, ou seja, antes da adição de impostos e custos de transporte. O índice acompanha o comportamento de preços de 24 atividades industriais, divididas entre as indústrias extrativas e as de transformação.
O IPP funciona como um termômetro antecipado da inflação, já que reflete as mudanças de preços que mais tarde podem ser repassadas ao consumidor final. Quando os preços ao produtor caem, tende a haver um alívio nos custos de produção, o que pode contribuir para conter a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA.
Detalhamento da queda dos preços ao produtor em agosto
De acordo com o IBGE, das 24 atividades industriais analisadas, 12 registraram queda nos preços em relação a julho. Os setores com as variações negativas mais significativas foram:
-
Perfumaria, sabões e produtos de limpeza: -1,66%
-
Madeira: -1,59%
-
Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos: -1,59%
-
Papel e celulose: -1,42%
Esses segmentos foram impactados por ajustes de custos, variações cambiais e retração na demanda interna e externa, especialmente em produtos industrializados de menor giro.
Os principais setores que contribuíram para o resultado geral de agosto foram alimentos (-0,11 ponto percentual), outros produtos químicos (-0,08 p.p.), indústrias extrativas (-0,06 p.p.) e papel e celulose (-0,04 p.p.).
Esses quatro grupos representam parte relevante da estrutura produtiva brasileira e, portanto, exercem forte influência sobre o índice agregado de preços ao produtor.
Setor de alimentos continua influenciando o IPP
Entre os destaques, o setor de alimentos foi um dos principais responsáveis pela variação do mês. Os custos da área caíram 0,44% em agosto, acumulando queda de 7,55% em 2025, embora ainda apresentem alta de 1,45% nos últimos 12 meses.
A redução de preços é explicada, em grande parte, por uma safra agrícola favorável, que aumentou a oferta de produtos como soja, açúcar e arroz, pressionando as cotações para baixo.
Além disso, a valorização do real frente ao dólar nos últimos meses ajudou a reduzir o custo de importação de insumos e, consequentemente, o preço final dos alimentos industrializados. Esse movimento tem sido fundamental para aliviar o custo de produção e estabilizar o índice geral de preços ao produtor.
Influência dos setores extrativo, químico e metalúrgico
Outros setores de peso também exerceram influência importante sobre o IPP de agosto. As indústrias extrativas, por exemplo, registraram variação negativa devido à queda no preço de minérios e derivados de petróleo. Já o segmento de produtos químicos foi impactado pela redução dos preços internacionais de fertilizantes e insumos petroquímicos.
Na metalurgia, os ajustes de preços no aço e no alumínio seguiram a tendência global de desaceleração da demanda, principalmente da China, o que contribuiu para um cenário mais estável nos custos industriais brasileiros.
Essas movimentações confirmam que os preços ao produtor vêm refletindo um contexto global de ajustes de oferta e demanda, além de políticas monetárias mais rígidas em economias desenvolvidas, que reduzem a pressão sobre as commodities.
Comparativo com meses anteriores
Apesar da queda registrada em agosto, o movimento de deflação vem mostrando sinais de enfraquecimento. Em abril, o recuo havia sido de 0,12%, enquanto julho registrou -0,31%. Essa desaceleração indica que os preços ao produtor podem estar se aproximando de uma estabilização, após meses de retração.
Segundo economistas, a tendência é que o IPP caminhe para um campo neutro até o fim do ano, à medida que a demanda industrial se ajusta e os estoques são recompostos. O comportamento dos alimentos e dos combustíveis continuará sendo determinante para o resultado do índice nos próximos meses.
Impacto da queda nos preços ao produtor na economia
A redução dos preços ao produtor tem efeitos diretos e indiretos sobre a economia. De um lado, ela ajuda a conter a inflação ao consumidor, reduzindo a pressão sobre o custo de vida. De outro, a queda prolongada pode sinalizar fragilidade na demanda interna, especialmente se estiver associada à desaceleração do consumo e da produção industrial.
No caso brasileiro, os recuos observados nos últimos sete meses são vistos como ajustes sazonais, em um contexto de recuperação econômica gradual. O governo e o Banco Central acompanham de perto esses indicadores para calibrar as políticas monetárias e fiscais voltadas ao controle da inflação.
Expectativas para o fim de 2025
As projeções do mercado indicam que o IPP deve encerrar o ano com variação próxima de zero, refletindo uma combinação de estabilidade nos custos de produção e leve recuperação industrial.
Setores como refino de petróleo, metalurgia e alimentos devem liderar o movimento de recomposição de preços, especialmente se houver aumento da demanda global e melhora nas exportações.
Contudo, o cenário ainda é de cautela. A economia mundial enfrenta incertezas ligadas a conflitos geopolíticos, variações cambiais e riscos climáticos que podem afetar a produção agrícola e os custos energéticos. Esses fatores continuam sendo determinantes para o comportamento dos preços ao produtor no Brasil.
Sinais de estabilidade à vista
Após sete meses de queda consecutiva, o Índice de Preços ao Produtor demonstra uma desaceleração na deflação, indicando que o setor produtivo brasileiro pode estar entrando em uma fase de estabilidade.
Com influências distribuídas entre os setores de alimentos, químicos, extrativos e papel e celulose, os preços ao produtor refletem um quadro econômico mais equilibrado, ainda que com desafios estruturais.
A expectativa é que, até o final de 2025, a indústria mantenha trajetória de ajuste, com reflexos positivos sobre a inflação e o poder de compra da população.






