O governo canadense anunciou, nesta terça-feira (27), a imposição de novas tarifas sobre veículos elétricos, alumínio e aço fabricados na China, em uma clara aliança com seus parceiros ocidentais para proteger a indústria doméstica. A nova política, apresentada pelo primeiro-ministro Justin Trudeau em Halifax, Nova Escócia, inclui uma taxa de 100% sobre carros elétricos e 25% sobre produtos de aço e alumínio. A medida visa não apenas proteger os fabricantes canadenses, mas também responder às práticas comerciais chinesas, que o governo de Trudeau considera desleais.
Detalhes das Novas Tarifas e seus Impactos
A sobretaxa sobre veículos elétricos entrará em vigor em 1º de outubro de 2024, afetando também automóveis híbridos de passageiros, caminhões, ônibus e vans de entrega. Essa nova tarifa será adicionada à taxa existente de 6,1%, que já se aplica aos veículos elétricos chineses, aumentando significativamente o custo desses produtos no mercado canadense. As tarifas sobre alumínio e aço, por sua vez, serão aplicadas a partir de 15 de outubro de 2024, e incluem uma lista inicial de produtos que poderá ser ajustada após um período de consulta pública.
As medidas refletem uma estratégia mais ampla do governo canadense para proteger setores críticos de sua economia, em um momento em que o país busca se posicionar como líder global na produção de veículos elétricos e em outras áreas de alta tecnologia. O primeiro-ministro Trudeau destacou a necessidade de proteger a indústria automotiva canadense de práticas comerciais que ele considera injustas por parte da China.
Contexto Global e Alinhamento com os Estados Unidos
A decisão do Canadá de impor essas tarifas está claramente alinhada com as recentes políticas comerciais dos Estados Unidos, que também têm adotado uma postura mais rígida em relação às importações chinesas. A economia canadense, fortemente orientada para a exportação, depende em grande medida do comércio com os EUA, e a integração entre os setores automotivos dos dois países é particularmente profunda. No ano passado, o Canadá produziu cerca de 1,5 milhão de veículos leves, com a grande maioria sendo exportada para o mercado americano.
A ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, tem sido uma das vozes mais fortes em defesa dessa política. Freeland argumenta que a superprodução chinesa é sustentada por padrões trabalhistas e ambientais “abissais”, e que o Canadá não deve permitir que produtos resultantes de tais condições entrem no mercado canadense sem restrições. Ela também enfatizou a importância de o Canadá se alinhar mais estreitamente com seus aliados democráticos, como os Estados Unidos, especialmente em um momento de tensões comerciais globais crescentes.
Resposta Chinesa e Potenciais Retaliações
A reação da China às novas tarifas foi rápida e contundente. A embaixada chinesa em Ottawa classificou a medida como “um ato típico de protecionismo comercial e dominação política”, argumentando que ela contraria as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e não está em consonância com a imagem do Canadá como defensor do livre comércio global. Além disso, a China afirmou que tomará “todas as medidas necessárias” para proteger os interesses de suas empresas.
A China já demonstrou sua capacidade de retaliar medidas comerciais anteriores, como no caso das restrições às importações de sementes de canola canadense, que duraram três anos e foram vistas como uma resposta à prisão de Meng Wanzhou, executiva da Huawei, em Vancouver. Dado o histórico de retaliações comerciais da China, há preocupações de que novas medidas possam ser implementadas em resposta às tarifas canadenses, impactando outros setores da economia canadense.
Impactos nas Relações Comerciais e na Indústria Automotiva
As novas tarifas impostas pelo Canadá também levantam questões sobre o futuro das relações comerciais entre o Canadá e a China, bem como sobre o impacto na indústria automotiva canadense. O setor automotivo do Canadá tem sido um dos principais motores de sua economia, com fortes vínculos com os Estados Unidos. A dependência das exportações para o mercado americano torna o alinhamento com as políticas dos EUA uma prioridade para o Canadá, especialmente com a revisão do Acordo EUA-México-Canadá prevista para 2026.
A indústria automotiva canadense, que já está passando por uma transformação significativa em direção à produção de veículos elétricos, enfrenta agora o desafio adicional de lidar com essas novas tarifas. O governo canadense tem apostado pesado no apoio a montadoras e fabricantes de países aliados democráticos, como a Stellantis, Volkswagen e Honda, oferecendo bilhões de dólares em subsídios para a construção de plantas de veículos elétricos e fábricas de baterias.
Consulta Pública e Possíveis Revisões
Antes que as tarifas sobre aço e alumínio entrem em vigor, o governo canadense abriu um período de consulta pública, permitindo que os cidadãos e as partes interessadas comentem sobre a lista inicial de produtos afetados. Essa abordagem permite que o governo ajuste a política com base no feedback recebido, garantindo que as medidas não causem prejuízos indevidos à economia canadense.
Além disso, o governo Trudeau anunciou que as novas tarifas serão revisadas dentro de um ano após sua implementação, o que indica uma abertura para ajustes futuros com base nas condições econômicas e nas respostas das partes afetadas. Essa flexibilidade pode ser crucial para mitigar possíveis impactos negativos sobre a economia canadense e suas relações comerciais internacionais.
Considerações Finais
A decisão do Canadá de impor novas tarifas sobre veículos elétricos e metais chineses é um movimento estratégico que reflete uma combinação de protecionismo econômico e alinhamento geopolítico com os Estados Unidos e outros aliados ocidentais. Enquanto o governo Trudeau busca proteger indústrias críticas e empregos domésticos, a medida também coloca o Canadá em um caminho potencialmente conflitante com a China, um dos maiores parceiros comerciais do mundo.
Os próximos meses serão decisivos para avaliar o impacto dessas tarifas sobre a economia canadense e suas relações comerciais, tanto com os Estados Unidos quanto com a China. À medida que o Canadá avança em sua ambição de se tornar um líder global na produção de veículos elétricos, as políticas comerciais que implementa hoje terão implicações duradouras para seu futuro econômico e industrial.