Uma manobra de “gigantesca transferência de riqueza” para o setor privado poderia explicar por que a economia dos Estados Unidos não está respondendo adequadamente aos esforços do Fed (Federal Reserve ) pela desaceleração da inflação, segundo análise publicada por Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates. O investidor alerta que o movimento pode ter levado o governo a dar um tiro no próprio pé.
Apesar de, desde março do ano passado, os EUA estarem vendo uma rodada agressiva de aumentos nas taxas de juros do Fed, a economia do país não está desacelerando conforme o esperado.
“Houve uma grande mudança na riqueza projetada pelo governo de 1) o setor público (o governo central e o banco central) e 2) detentores de títulos do governo para 3) o setor privado (ou seja, famílias e empresas)”, escreveu.
Ele quis dizer que, durante os anos de pandemia (2020 e 2021), os governos centrais gastaram muito mais, assumindo mais dívidas, para apoiar empresas e cidadãos. Enquanto isso, bancos centrais imprimiram muito mais dinheiro. Esses movimentos, porém, causaram a deterioração de seus balanços e o aumento da inflação.
“Como resultado dessa manobra governamental coordenada, os balanços patrimoniais e demonstrativos de renda do setor doméstico estão em boa forma, enquanto os do governo estão em má situação”, escreveu Dalio em um artigo publicado em seu LinkedIn.
Será que importa que os governos centrais e os bancos centrais tenham balanços patrimoniais e demonstrativos de renda tão ruins se a economia real está em boa forma? Claro que sim!” , escreveu.
Enquanto as ações e os títulos caíram no ano passado, “o patrimônio líquido do setor privado subiu para níveis altos, as taxas de desemprego caíram para níveis baixos e a remuneração aumentou muito, então o setor privado estava muito melhor enquanto os governos centrais se endividavam muito mais. E os bancos centrais e outros detentores de títulos do governo perderam muito dinheiro com esses títulos”, disse Dalio.
Registros históricos em episódios semelhantes ao que está acontecendo agora faz soar alguns grandes alarmes, argumentou Dalio.
No curto prazo, um período de “crescimento toleravelmente lento e inflação toleravelmente alta” – ou uma “estagflação leve” – é o resultado mais provável, desde que não haja um grande desequilíbrio entre a oferta e a demanda de dívida do governo.
Entretanto, no longo prazo, “é virtualmente certo que os déficits fiscais dos governos centrais serão grandes, e é altamente provável que eles cresçam a uma taxa crescente à medida que o aumento dos custos do serviço da dívida e o aumento de outros custos orçamentários aumentam, e , à medida que aumentam, os governos precisarão vender mais dívida, então haverá uma espiral de dívida auto reforçada que levará a limites de dívida impostos pelo mercado, enquanto os bancos centrais serão forçados a imprimir mais dinheiro e comprar mais dívida à medida que experimentam perdas e balanços patrimoniais deteriorados”, alertou.
Eventualmente, os governos deverão pagar o serviço da dívida principal, “o que é doloroso”. O resultado disso pode ser, segundo Dalio, o confisco da riqueza através de impostos e mais impressão de moeda através do banco central, “o que devemos esperar que aconteça”, segundo ele.