Em meio à corrida eleitoral de 2022, Jair Bolsonaro assumiu riscos significativos ao transformar as celebrações de 7 de setembro em Copacabana em um evento que muitos caracterizaram como um showmício. A decisão de realizar o ato neste formato, ao invés de um desfile tradicional, foi uma jogada ousada e calculada, segundo o colunista do UOL, Tales Faria.
A Aposta Desesperada pela Reeleição
Naquele período, Bolsonaro estava imerso em uma campanha eleitoral difícil e decidiu apostar todas as suas fichas na reeleição. De acordo com relatos, ele confidenciou a pessoas próximas que era necessário “botar tudo” em jogo e cobrou essa postura de seus ministros em uma reunião, cuja gravação foi posteriormente divulgada. Essa estratégia, que envolvia assumir o risco de infringir a legislação eleitoral, visava consolidar sua base de apoio e fortalecer sua imagem pública em um momento crítico.
Bolsonaro acreditava que, mesmo violando a legislação, seria mais difícil para os tribunais decidirem pelo seu afastamento caso conseguisse a reeleição. Assim, ele optou por uma abordagem mais agressiva, utilizando a comemoração da Independência do Brasil para promover sua campanha de maneira ostensiva.
A Polêmica Decisão de Alexandre de Moraes
A decisão de Bolsonaro de impedir o Exército de realizar o ato no centro do Rio de Janeiro e concentrar os eventos em Copacabana foi vista como uma manobra para maximizar o impacto midiático e político. O ministro Alexandre de Moraes, que usou a expressão “showmício” em sua decisão, afirmou que essa mudança de local foi uma estratégia deliberada para promover um comício disfarçado de evento cívico.
Essa ação gerou críticas e levantou questões sobre a legalidade e a ética da campanha de Bolsonaro. A transformação de uma celebração nacional em um evento com claros objetivos eleitorais foi interpretada por muitos como uma tentativa de burlar as restrições impostas pela legislação eleitoral.
A Inelegibilidade e a Estratégia de Bolsonaro
Após os desdobramentos legais e a inelegibilidade de Bolsonaro, a cientista política Deysi Cioccari destacou que a repetição do discurso de perseguição política tornou-se uma ferramenta crucial para ele. Incapaz de reverter sua inelegibilidade, Bolsonaro busca manter sua base de apoio viva e mobilizada, utilizando a narrativa de que é vítima de um sistema injusto.
Essa estratégia de manter sua base engajada é fundamental para a continuidade de seu movimento político. Mesmo fora da disputa eleitoral direta, Bolsonaro continua a influenciar a política brasileira, mobilizando seus seguidores e mantendo-se relevante no cenário político.
Reflexões sobre a Ação de Bolsonaro
A decisão de Bolsonaro de transformar o 7 de setembro em um showmício revela uma série de aspectos sobre sua abordagem política e suas prioridades durante a campanha de 2022. Essa ação expôs sua disposição de assumir riscos legais significativos para alcançar seus objetivos eleitorais e a importância que atribui à mobilização de sua base de apoio.
O uso de eventos cívicos para fins eleitorais é uma prática que levanta preocupações sobre a integridade do processo eleitoral e a separação entre funções de Estado e campanhas políticas. A atuação de Bolsonaro nesse contexto exemplifica os desafios enfrentados pelo sistema político brasileiro em assegurar a conformidade com as regras eleitorais e a manutenção de um campo de jogo justo para todos os candidatos.
A transformação das celebrações de 7 de setembro em Copacabana em um showmício por Jair Bolsonaro foi uma aposta arriscada que refletiu sua determinação em garantir a reeleição a qualquer custo. A decisão de concentrar o evento em Copacabana e a posterior inelegibilidade destacam a complexidade e as tensões inerentes ao cenário político brasileiro. A manutenção da mobilização de sua base de apoio demonstra a continuidade de sua influência política, mesmo diante de adversidades legais.