As vendas no varejo brasileiro em setembro apresentaram uma queda significativa de 1,9% em comparação com o mesmo período do ano passado, e uma redução ainda maior de 2,4% em relação a agosto. Esse é o pior resultado do setor no ano, de acordo com levantamento divulgado pela empresa de meios de pagamento Stone nesta quinta-feira. Esses dados preocupam o setor, principalmente em um cenário econômico que vinha mostrando sinais de recuperação lenta após os impactos da pandemia de Covid-19 e da inflação elevada.
O resultado divulgado pela Stone foi reforçado por um levantamento semelhante da Cielo, concorrente da Stone, que indicou que as vendas no varejo em setembro caíram 3,3% em relação ao ano anterior, mesmo com o ajuste da inflação. Esse conjunto de dados destaca a fragilidade do setor varejista brasileiro diante das incertezas econômicas e da volatilidade do consumo.
Setores mais impactados pela queda nas vendas
O levantamento da Stone analisou oito segmentos do varejo e revelou que todos eles sofreram uma retração nas vendas em setembro. Entre os setores mais atingidos, os destaques foram móveis e eletrodomésticos e livros, jornais, revistas e papelaria, ambos com quedas de 3,5%. Esses números são alarmantes, pois indicam uma diminuição considerável na demanda por itens de maior valor agregado, como eletrodomésticos, bem como uma tendência de menor consumo de materiais impressos, possivelmente impulsionada pela digitalização crescente.
O pesquisador econômico e cientista de dados da Stone, Matheus Calvelli, comentou sobre o impacto do desempenho do varejo em setembro, afirmando que esse foi o pior resultado do setor em 2024 e a segunda queda nos últimos quatro meses. Ele ainda destacou que a volatilidade observada nas vendas ao longo dos últimos meses aumenta a incerteza sobre o comportamento do setor para o restante do ano.
Desempenho no terceiro trimestre e perspectivas
Ao olhar para o desempenho trimestral, os dados da Stone revelam que as vendas no varejo recuaram 0,9% no terceiro trimestre em comparação com os três meses imediatamente anteriores. Esse dado é um reflexo da fraqueza no consumo observada ao longo de 2024, com oscilações mensais e resultados negativos consecutivos.
No entanto, ao comparar com o terceiro trimestre de 2023, o cenário apresenta uma leve melhora, com crescimento de 1% nas vendas. Isso pode ser atribuído a uma base de comparação mais baixa, já que o setor varejista enfrentou desafios no ano passado, incluindo a alta inflação e o impacto prolongado da pandemia nas finanças das famílias brasileiras.
Setores que apresentaram crescimento trimestral
Apesar do cenário predominantemente negativo, dois setores conseguiram se destacar positivamente no terceiro trimestre. O segmento de combustíveis e lubrificantes registrou crescimento de 2,6%, enquanto o setor de tecidos, vestuário e calçados apresentou uma alta modesta de 0,8%. Esses números indicam que, mesmo em meio a um cenário econômico incerto, algumas áreas específicas do varejo conseguem manter a resiliência e até crescer, possivelmente refletindo mudanças nos hábitos de consumo e uma recuperação gradual da mobilidade urbana, que impacta o consumo de combustíveis.
Por outro lado, o setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo — que tradicionalmente apresenta maior estabilidade por envolver itens de consumo básico — teve queda de 0,9% no trimestre. Isso reflete a pressão dos preços altos dos alimentos, que continua a impactar negativamente o consumo das famílias.
Fatores que influenciam a queda no varejo
A queda nas vendas do varejo em setembro e no terceiro trimestre pode ser explicada por diversos fatores. Em primeiro lugar, a inflação elevada tem impactado diretamente o poder de compra das famílias, que enfrentam dificuldades para manter o mesmo nível de consumo em diversos segmentos. Além disso, o alto endividamento dos consumidores brasileiros, agravado pelas taxas de juros elevadas, também tem limitado a capacidade de compra.
Outro ponto importante é a incerteza econômica, que tem afetado a confiança dos consumidores. Com a recuperação econômica lenta e incertezas políticas, os consumidores brasileiros estão mais cautelosos em relação a grandes compras, optando por cortar gastos em áreas consideradas não essenciais, como móveis e eletrodomésticos. Além disso, o crescimento do e-commerce e das plataformas digitais continua a mudar o panorama do consumo no varejo, o que pode estar afetando as vendas em lojas físicas.
O futuro do varejo brasileiro
As perspectivas para o varejo brasileiro em 2024 são incertas. Embora o mercado tenha mostrado uma leve recuperação no comparativo anual, o desempenho negativo dos últimos meses pode ser um indicativo de que a recuperação será mais lenta do que o esperado. O cenário inflacionário ainda é uma preocupação, apesar da tendência de desaceleração dos preços, e o mercado de trabalho, embora em recuperação, ainda não está em um nível que possa garantir um consumo forte e contínuo.
De acordo com especialistas, o varejo deve enfrentar desafios adicionais nos próximos meses, especialmente com a chegada das festas de fim de ano, que tradicionalmente impulsionam o setor. As promoções de Black Friday e as vendas de Natal serão determinantes para definir o ritmo de recuperação do varejo até o fim do ano. No entanto, o sucesso dessas datas comerciais dependerá diretamente da recuperação do poder de compra dos consumidores e da confiança na economia.
Em relação às novas tendências do varejo, o crescimento do comércio digital e o aumento da digitalização dos meios de pagamento continuarão a desempenhar um papel fundamental no desempenho do setor. Empresas que conseguirem adaptar suas estratégias e explorar o e-commerce de maneira eficiente poderão mitigar os impactos das quedas nas vendas físicas e se posicionar melhor para os próximos desafios.
As vendas no varejo brasileiro em setembro marcaram o pior desempenho do setor em 2024, refletindo os desafios enfrentados pela economia, como inflação alta, endividamento das famílias e incerteza econômica. Embora alguns setores tenham apresentado leve crescimento no terceiro trimestre, o cenário geral ainda é de cautela. A capacidade do varejo de se recuperar no restante do ano dependerá de fatores como a confiança do consumidor, o controle da inflação e o impacto das datas comerciais de fim de ano, como Black Friday e Natal.