Em busca de talentos emergentes para conquistar audiências no mercado asiático, a Netflix tem investido pesadamente para criar novos conteúdos na Coreia do Sul, Japão e Índia. A previsão de investimentos em novos conteúdos na região da Ásia-Pacífico este ano é de US$ 1,9 bilhão, de acordo com a empresa de pesquisa Media Partners Asia.
Em junho, durante passagem por Seul, o co-CEO da Netflix, Ted Sarandos, afirmou a executivos que a plataforma de streaming procura fortalecer parcerias com produtores de conteúdo sul-coreanos. Em abril, Sarandos esteve com o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, em Washington, e se comprometeu a investir US$ 2,5 bilhões na Coreia do Sul nos próximos quatro anos – o dobro do aporte feito entre 2016 e 2022.
A Netflix obteve grande sucesso com filmes e programas sul-coreanos, começando com o lançamento de 2021 de “Squid Game” (Round 6, no Brasil), que se tornou sua série mais popular de todos os tempos, e seguido por “The Glory”, um conto de vingança contra o bullying. Cerca de 60% de seus cerca de 200 milhões de assinantes em todo o mundo já assistiram a um título sul-coreano, e a audiência do conteúdo aumentou seis vezes em quatro anos.
Fundada em 1997 como um serviço de aluguel de DVD por correio, a Netflix mudou para o serviço de streaming uma década depois. Começou a criar seu próprio conteúdo nos Estados Unidos em 2012 e, desde então, expandiu para outros mercados, como o Japão.
O conteúdo original era inicialmente uma forma de atrair o público local em mercados estrangeiros, mas a Netflix agora está vendo mais títulos asiáticos se tornarem sucessos globais, segundo uma fonte da empresa. Na semana encerrada em 2 de julho, sete dos dez dramas não ingleses mais assistidos na plataforma eram asiáticos.
“Sanctuary”, um drama japonês sobre a maioridade sobre um aspirante a lutador de sumô, ficou entre os dez principais programas de TV não ingleses da Netflix por duas semanas consecutivas após seu lançamento durante o mês de maio. Um executivo da Netflix imediatamente deu luz verde ao projeto depois de ouvir o argumento de venda, ansioso para oferecer um vislumbre do mundo muitas vezes secreto do sumô.
A Netflix anunciou agressivamente a série durante o grande torneio de sumô no verão. O presidente da Associação Japonesa de Sumô, Hakkaku, também assistiu ao show. No mês passado, a empresa assinou um contrato de cinco anos com Yuji Sakamoto, que ganhou o prêmio de melhor roteiro pelo filme “Kaibutsu” no Festival de Cinema de Cannes deste ano, para desenvolver títulos exclusivos para a plataforma. Também fez parceria com a The Seven, uma unidade de produção da emissora TBS Holdings, com sede em Tóquio, e outros players do setor.
Na Índia, a empresas assinou um contrato plurianual com o diretor Hansal Mehta após o sucesso de seu drama policial “Scoop. Também começou a oferecer uma doação de US$ 10 mil para fazer curtas-metragens no ano passado para revelar a próxima geração de talentos no país.
Com a Netflix produzindo mais séries de TV e filmes no Japão, o país pode responder por pelo menos 25% da receita da plataforma na região da Ásia-Pacífico este ano, segundo um analista do setor. O impulso da Netflix na Ásia ocorre quando a plataforma enfrenta uma concorrência acirrada, desacelerando o crescimento. A receita aumentou cerca de 4% no ano, para US$ 8,16 bilhões entre janeiro e março, ficando aquém das expectativas do mercado. O lucro líquido caiu 18%, para US$ 1,31 bilhão.
Mais de 80% dos novos assinantes conquistados no primeiro trimestre, e cerca de 60% do aumento líquido em 2022, vieram da Ásia. Como a plataforma enfrenta restrições na China, outros mercados da região tornaram-se cada vez mais importantes para o crescimento, mas os rivais também estão se concentrando na Ásia. Em 2021, o Japão foi responsável pelo maior número de espectadores no Amazon Prime Video depois dos Estados Unidos. A Amazon planeja aumentar o conteúdo original em cerca de 50% em todo o mundo em 2023. Também espera expandir significativamente sua programação original em japonês até 2025.
Outros desafios surgem para a Netflix. Como a plataforma detém os direitos de propriedade intelectual da maioria dos títulos originais, as produtoras dizem que não conseguem aproveitar o conteúdo em que trabalharam em oportunidades de negócios relacionadas, o que levou a preocupações na Coréia do Sul, de que as produtoras possam acabar presas como subcontratadas da Netflix.
Imagem da série Round 6, da Netflix — Foto: Youngkyu Park/Netflix via AP