A ex-presidente do Brasil e atual presidente do Banco de Desenvolvimento do Brics, Dilma Rousseff, fez duras críticas às condições globais de financiamento, destacando os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento. Durante a abertura do evento “States of the Future”, um encontro paralelo ao G20 focado em modelos de desenvolvimento sustentável e justiça social, Dilma enfatizou as barreiras impostas pelas taxas de juros e pela hegemonia do dólar no sistema monetário internacional.
A Hegemonia do Dólar e o Sistema Monetário Internacional
Desafios do Sistema Atual
Dilma Rousseff destacou a dicotomia inerente ao papel do dólar como moeda doméstica dos Estados Unidos e, simultaneamente, como principal reserva internacional. Segundo ela, essa dualidade cria contradições e aumenta o descasamento de políticas de redução de riscos, especialmente entre os Estados Unidos e a Europa. Ela afirmou que essas práticas resultam em um protecionismo sem precedentes, favorecendo as nações desenvolvidas e dificultando o acesso a financiamento para os países mais pobres.
Impacto da Dívida Pública
Um dos pontos centrais da crítica de Dilma foi o peso crescente da dívida pública para os países em desenvolvimento. Ela argumentou que o alto volume de dívida externa reduz o espaço fiscal desses países, tornando praticamente impossível investir em áreas cruciais como saúde, educação, infraestrutura e adaptação climática. As restrições de liquidez no mercado internacional agravam ainda mais essa situação, limitando o acesso a financiamento acessível.
A Importância da Transferência de Tecnologias
Superação da Dependência de Commodities
Dilma Rousseff também abordou a necessidade de o Brasil superar sua condição de mero exportador de commodities e consumidor passivo dos avanços da Quarta Revolução Industrial. Ela defendeu a transferência de tecnologias entre os países do Sul Global como um caminho para fomentar o desenvolvimento e reduzir a dependência tecnológica das nações desenvolvidas.
Crítica ao Estado Mínimo
A ex-presidente criticou a defesa de um Estado mínimo, apontando que a oposição entre Estado e mercado é uma falsa dicotomia imposta ao Sul Global. Segundo ela, essa visão tem sido questionada pelas próprias economias desenvolvidas, que adotam políticas industriais para impulsionar sua industrialização. Dilma ressaltou a importância de um Estado ativo e presente na promoção do desenvolvimento econômico e social.
Cooperação Internacional e Redução de Desigualdades
A Posição de Michelle Bachelet
A ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, também participou do evento, destacando a importância da cooperação internacional e da solidariedade para resolver os desafios globais. Bachelet, que foi alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, enfatizou a necessidade de um sistema multilateral que proteja a democracia e preserve a dignidade dos indivíduos. Ela alertou para a crise de confiança nas democracias, resultante da falha em entregar os resultados esperados pelos cidadãos, o que tem alimentado ondas autoritárias e de extrema direita.
Experiências do Brasil
A ministra de Igualdade Racial, Anielle Franco, sublinhou as experiências positivas do Brasil na promoção da dignidade, que podem servir de exemplo para o futuro. Ela enfatizou a responsabilidade do Estado em garantir que ninguém seja deixado para trás, com foco na eliminação da fome e na igualdade racial. Anielle destacou a importância de garantir moradia digna, acesso à educação, segurança ambiental e climática para todos.
Visão para o Futuro
Esther Dweck, ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, completou a discussão enfatizando que o Estado do futuro deve ser “verde, digital e inclusivo”. Ela destacou a necessidade de reduzir as desigualdades em todas as suas dimensões, tanto dentro dos países quanto entre eles. A visão apresentada por Dweck reflete um compromisso com a sustentabilidade e a justiça social, pilares essenciais para o desenvolvimento global equilibrado.
O evento “States of the Future” trouxe à tona importantes debates sobre as condições globais de financiamento e o papel dos Estados na promoção do desenvolvimento sustentável e da justiça social. As críticas de Dilma Rousseff ao sistema monetário internacional e à hegemonia do dólar, juntamente com as perspectivas de Michelle Bachelet e das ministras brasileiras, destacam a necessidade de cooperação internacional e de políticas públicas inclusivas e sustentáveis. O caminho para um futuro mais justo e equilibrado passa pela colaboração entre nações e pelo fortalecimento do papel do Estado na promoção do bem-estar de todos os cidadãos.