Nesta sexta-feira, 27 de setembro, o cenário econômico brasileiro foi marcado por dois indicadores de grande relevância: o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) e o índice de desemprego de agosto, que refletem diretamente nas perspectivas de inflação e crescimento econômico. O IGP-M, conhecido como a “inflação dos aluguéis”, superou as expectativas do mercado ao apresentar uma alta de 0,62% em setembro, contra uma projeção de 0,47%. Esse avanço é considerável em relação ao mês anterior, quando o índice subiu apenas 0,29%. Além disso, o mercado aguarda ansiosamente a divulgação do índice de desemprego de agosto, cuja expectativa é de uma leve queda para 6,7%, uma pequena melhora em relação aos 6,8% registrados em julho.
Esses dados são indicativos de pressões inflacionárias e de um mercado de trabalho em gradual recuperação, mas que ainda enfrenta desafios significativos.
IGP-M Acima do Esperado: O que Isso Significa?
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é amplamente utilizado no Brasil para reajustar contratos de aluguel e tarifas públicas. Sua alta de 0,62% em setembro, acima da expectativa do mercado, chama a atenção para a aceleração dos preços das commodities, que têm grande impacto nos preços ao consumidor final. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que compõe 60% do IGP-M, registrou alta de 0,70%, uma aceleração em comparação com agosto, quando o IPA subiu 0,29%.
Segundo a FGV, a seca foi o principal fator que pressionou os preços das commodities, especialmente em produtos como bovinos, leite e laranja. Esses itens tiveram aumentos expressivos, puxando o índice para cima. A seca, que afeta a produção agrícola em diversas regiões do país, gera uma escassez de produtos no mercado, o que acaba impactando diretamente os preços.
Essa aceleração no IGP-M pode ser um indicativo de que a inflação ainda não está sob controle, especialmente no setor de alimentos. Em um contexto de inflação alta, o custo de vida aumenta para os consumidores, e setores como o de habitação, que utilizam o IGP-M como referência para reajustes de contratos, podem ficar ainda mais pressionados.
Impactos na Política Monetária: Ações do Banco Central
O avanço do IGP-M, somado a outros indicadores inflacionários, deve reforçar o argumento do Banco Central (BC) de que há necessidade de manter ou até mesmo intensificar a política monetária restritiva. A inflação, apesar de estar em um nível mais controlado em comparação com períodos anteriores, ainda representa um desafio para a economia brasileira. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado como a principal medida de inflação do país e como base para a meta inflacionária do BC, pode ser pressionado pelos aumentos nos preços das commodities.
Caso o IPCA sofra pressões significativas do aumento dos preços dos alimentos e de outros produtos atrelados ao IPA, o Banco Central poderá adotar uma postura mais rígida para conter a inflação. Isso pode incluir o aumento da taxa básica de juros, a Selic, como forma de reduzir a pressão inflacionária. Vale lembrar que a inflação elevada impacta diretamente o poder de compra das famílias e o consumo, o que pode desacelerar o crescimento econômico.
Desemprego em Queda: Alívio para o Mercado de Trabalho?
Outro dado aguardado nesta sexta-feira é a divulgação do índice de desemprego de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa do mercado é de que a taxa de desemprego tenha recuado levemente para 6,7%, uma pequena queda em relação aos 6,8% registrados em julho. Embora o número represente uma melhora, ele ainda está longe de níveis considerados saudáveis para a economia brasileira.
O mercado de trabalho tem mostrado sinais de recuperação, mas a queda no desemprego pode trazer novos desafios para o controle da inflação. Um mercado de trabalho mais aquecido tende a pressionar os salários para cima, especialmente em setores onde há escassez de mão de obra qualificada. Isso, por sua vez, pode alimentar novas rodadas de aumentos de preços, especialmente em setores de serviços, que são fortemente influenciados pelos custos com mão de obra.
Para o Banco Central, a combinação de desemprego em queda e inflação pressionada representa um cenário desafiador. A recuperação do mercado de trabalho é um sinal positivo para a economia, mas também pode dificultar a tarefa de controlar a inflação, especialmente se a demanda por consumo aumentar.
Cenário Internacional: Estados Unidos e a Inflação PCE
No cenário global, o controle da inflação também é uma preocupação. Nos Estados Unidos, a inflação medida pelo Índice de Preços de Gastos com Consumo Pessoal (PCE) se manteve estável em agosto, com uma alta esperada de 0,2% no mês e uma variação anual de 2,3%. Esse índice é amplamente monitorado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, e tem servido como base para a política monetária no país. Com uma inflação controlada, o Fed tem mais espaço para manter os juros em níveis adequados para sustentar o crescimento econômico sem deixar a inflação escapar do controle.
O núcleo da inflação PCE, que exclui os preços de alimentos e energia, também permaneceu estável, com uma expectativa de aumento de 0,2% em agosto e uma taxa anual de 2,7%. Esse cenário reflete uma inflação moderada, mas que ainda exige atenção das autoridades monetárias.
Perspectivas: O que Esperar para os Próximos Meses?
O avanço do IGP-M em setembro e a expectativa de queda no desemprego são indicativos de que a economia brasileira está em um ponto de inflexão. De um lado, a inflação ainda não está completamente controlada, especialmente em setores sensíveis como o de alimentos e energia. De outro, o mercado de trabalho apresenta sinais de recuperação, o que é positivo para o consumo, mas pode dificultar o controle dos preços.
Para os próximos meses, o Banco Central deve continuar monitorando de perto a evolução dos preços e do mercado de trabalho, ajustando sua política monetária conforme necessário. A meta de inflação para 2024 ainda está no horizonte, mas as pressões sobre os preços podem tornar o cumprimento dessa meta um desafio maior do que o inicialmente previsto.
Ao mesmo tempo, a economia global também desempenha um papel importante nesse cenário. A evolução da inflação nos Estados Unidos e em outras economias avançadas, bem como a política monetária adotada pelo Federal Reserve, podem influenciar o comportamento dos preços e dos juros no Brasil.
Em suma, a economia brasileira enfrenta um cenário complexo, com desafios tanto no curto quanto no médio prazo. A combinação de inflação elevada e mercado de trabalho em recuperação exige uma gestão cuidadosa da política econômica, especialmente no que diz respeito ao controle de preços e à manutenção do crescimento.