O mercado financeiro brasileiro está de olho nas recentes projeções divulgadas pelo Relatório Focus do Banco Central, que indicam uma nova alta na taxa Selic até o final de 2024. Segundo o relatório, a mediana das estimativas para a Selic subiu de 11,50% para 11,75%, refletindo a expectativa de dois aumentos de 0,5 ponto percentual (pp) nos próximos meses. Essas previsões sinalizam que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter sua postura mais rígida na política de juros para controlar a inflação, que ainda apresenta riscos significativos para a economia brasileira.
Aumento da Selic: Contexto e perspectivas para 2024
A última reunião do Copom, realizada no mês anterior, já indicava uma tendência de elevação da taxa básica de juros. Na ocasião, o colegiado optou por um aumento de 0,25 ponto percentual, elevando a Selic de 10,5% para 10,75%. O comunicado pós-reunião ressaltou que o cenário inflacionário permanece desafiador, com uma assimetria altista no balanço de riscos para a inflação. Em outras palavras, as pressões inflacionárias continuam sendo uma preocupação central, e o Copom vê maior probabilidade de que os preços subam do que caiam nos próximos meses.
Com as expectativas de novos aumentos de juros, o mercado já projeta uma Selic de 11,75% no fechamento de 2024, uma alta significativa em relação ao nível atual. O Copom ainda realizará mais duas reuniões neste ano, em novembro e dezembro, o que sugere que o ciclo de elevação de juros ainda não chegou ao fim.
Impacto da Selic alta na economia
O aumento da taxa Selic tem implicações diretas em vários setores da economia. A taxa básica de juros serve como referência para o custo do crédito e, portanto, influencia diretamente a oferta de dinheiro no mercado. Com juros mais altos, o crédito tende a se tornar mais caro, o que pode impactar negativamente o consumo das famílias e os investimentos das empresas. Isso também pode resultar em um desaquecimento da economia no curto prazo.
Por outro lado, a alta da Selic é uma ferramenta importante no combate à inflação. Ao aumentar os juros, o Banco Central busca conter o consumo e, assim, diminuir a pressão sobre os preços. Esse controle é crucial em um cenário de persistente alta de preços em itens como alimentos e combustíveis, que têm sido os grandes vilões da inflação nos últimos anos.
Inflação e PIB: Estabilidade nas projeções
Apesar do aumento projetado para a Selic, o Relatório Focus desta semana manteve as expectativas para a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, segue em 4,37%, um valor acima da meta de inflação estipulada pelo Banco Central, que é de 3,5%. Esse desvio da meta mostra que o controle inflacionário ainda não foi plenamente alcançado, justificando a necessidade de uma política monetária mais rígida.
O crescimento do PIB, por sua vez, também manteve sua projeção de 3% para 2024. Este número reflete uma recuperação econômica moderada, impulsionada pela reabertura da economia após os impactos mais severos da pandemia de Covid-19 e pelas políticas de incentivo ao investimento e consumo. Para 2025, o Focus revisou a projeção de crescimento do PIB ligeiramente para cima, de 1,90% para 1,92%, sugerindo uma expectativa de crescimento mais lento, mas ainda positivo.
Projeções para 2025: Selic e câmbio estáveis
O relatório também traz projeções para o ano de 2025, com estimativas de estabilidade tanto para a taxa Selic quanto para o câmbio. A expectativa é de que a Selic permaneça em 10,75% até o final do próximo ano, o que indicaria um possível fim do ciclo de elevações em 2024. No entanto, a manutenção da taxa em um nível elevado demonstra a cautela do Banco Central diante do cenário inflacionário ainda incerto.
No que diz respeito ao câmbio, o mercado prevê que o dólar será negociado a R$ 5,40 ao final de 2024 e a R$ 5,35 em 2025. Essas previsões indicam uma relativa estabilidade na cotação da moeda norte-americana, refletindo tanto o comportamento dos mercados internacionais quanto a política econômica interna. A valorização do real, embora lenta, também é um sinal de confiança na recuperação econômica e no controle da inflação a médio prazo.
O que esperar do Copom nas próximas reuniões?
Com as projeções atualizadas do Relatório Focus, os investidores e analistas agora voltam suas atenções para as duas últimas reuniões do Copom em 2024, que acontecerão em novembro e dezembro. O foco principal será o comportamento da inflação nos próximos meses, especialmente em relação a itens essenciais como alimentos e energia, que têm apresentado alta volatilidade nos últimos anos.
Se as pressões inflacionárias se mantiverem, é provável que o Copom continue elevando a Selic, em linha com as expectativas do mercado. No entanto, caso os índices de preços mostrem sinais mais claros de desaceleração, o Banco Central pode adotar uma postura mais moderada, evitando aumentos expressivos na taxa de juros.
Selic alta e investimentos: O que muda?
A alta na Selic também traz mudanças significativas para o cenário de investimentos no Brasil. Com os juros elevados, aplicações em renda fixa, como CDBs e Tesouro Direto, tendem a se tornar mais atrativas, pois oferecem retornos mais altos com menor risco. Isso pode desviar recursos que, em cenários de juros mais baixos, seriam direcionados para a renda variável, como ações e fundos imobiliários.
Investidores em busca de maior segurança tendem a se beneficiar desse ambiente, especialmente aqueles com perfis conservadores. Por outro lado, a alta dos juros pode reduzir o apetite por risco no mercado de ações, já que o custo de oportunidade de investir em renda variável aumenta.
Com as novas projeções do Relatório Focus, fica claro que o cenário econômico brasileiro para o final de 2024 ainda é de cautela. O aumento da Selic, embora necessário para conter a inflação, pode trazer desafios para o crescimento econômico e o consumo interno. As expectativas de estabilidade para 2025, tanto em relação à inflação quanto ao crescimento do PIB, indicam que a economia deve continuar em ritmo moderado, com foco no controle de preços e na recuperação gradual.