Na terça-feira, 8 de outubro de 2023, treze estados dos Estados Unidos, juntamente com o Distrito de Columbia, entraram com processos separados contra o TikTok, acusando a plataforma de criar um aplicativo intencionalmente viciante, que prejudica a saúde mental de crianças e adolescentes. Esta ação legal destaca a crescente preocupação com o impacto das redes sociais na juventude, ao mesmo tempo que questiona a transparência e os compromissos de segurança do aplicativo, que é de propriedade da empresa chinesa ByteDance.
Acusações e Alegações
Os procuradores-gerais, representando um grupo bipartidário, alegam que documentos internos do TikTok revelam uma estratégia deliberada para maximizar os lucros por meio do aumento do tempo de uso do aplicativo, sem considerar os danos que isso pode causar aos jovens usuários. Rob Bonta, procurador-geral da Califórnia, afirmou em entrevista: “O TikTok sabia dos danos às crianças, mas optou pelo vício e pelos lucros em detrimento da saúde mental e física de nossos jovens.” Esta declaração resume a essência das alegações feitas contra a empresa.
Vício e Saúde Mental
Os processos indicam que o TikTok projetou recursos que promovem o uso compulsivo do aplicativo, levando crianças a usá-lo até tarde da noite, em vez de dormirem. Os procuradores-gerais afirmam que o TikTok utiliza notificações incessantes, vídeos efêmeros e transmissões ao vivo para manter os usuários engajados, gerando mais receita com anúncios. Essa prática levanta preocupações sobre os efeitos do aplicativo na saúde mental dos jovens, que podem se sentir pressionados a estar constantemente conectados.
Além disso, o TikTok é acusado de enganar os usuários em relação aos seus chamados “limites de tempo de tela”. A plataforma afirmou que impõe um limite de 60 minutos de uso diário para jovens, mas os procuradores alegam que esse recurso é enganoso e não é efetivamente aplicado.
Filtros de Beleza e Transtornos Mentais
Outro ponto de crítica se refere aos filtros de beleza do TikTok, que alteram a aparência dos usuários. Os estados argumentam que esses filtros têm um impacto negativo significativo, especialmente sobre as mulheres jovens. Um estudo citado no processo de Nova York revela que 50% das meninas acreditam que não ficam bem sem edição, aumentando a pressão estética e contribuindo para problemas de autoestima e saúde mental.
Bonta observou que o TikTok está ciente dos efeitos prejudiciais de seus filtros, mas ainda opta por mantê-los disponíveis na plataforma. Esta decisão levanta questões éticas sobre a responsabilidade da empresa em relação ao bem-estar de seus usuários mais jovens.
Desafios Legais e Oposição do TikTok
Esses processos se somam a uma série de desafios legais que o TikTok enfrenta nos Estados Unidos, onde a plataforma conta com cerca de 170 milhões de usuários mensais. Além das ações judiciais dos estados, uma lei federal aprovada em abril exige que o aplicativo seja banido no país, a menos que seja vendido até janeiro de 2024. O TikTok já contestou essa lei, alegando que é inconstitucional.
A empresa respondeu às acusações, afirmando que discorda veementemente das alegações e que possui salvaguardas robustas para proteger usuários jovens. O porta-voz Alex Haurek afirmou: “Estamos orgulhosos do trabalho que temos feito para proteger os adolescentes e continuaremos a atualizar e melhorar nosso produto.” Essa defesa destaca a posição do TikTok frente a um ambiente regulatório e jurídico cada vez mais hostil.
Comparações com a Indústria de Mídia Social
O procurador-geral do Distrito de Columbia, Brian Schwalb, fez comparações entre a mídia social e a televisão, enfatizando que, ao contrário da TV, onde os pais podem controlar o consumo, a natureza do TikTok e de outras plataformas de mídia social torna essa supervisão muito mais difícil. “Os pais não estão obtendo informações diretas do TikTok, para começar. Não há transparência sobre como proteger seus filhos”, declarou Schwalb.
As preocupações levantadas pelos procuradores são refletidas em um movimento mais amplo para responsabilizar as plataformas de mídia social pelos danos que podem causar aos usuários jovens. Este cenário legal é semelhante às ações movidas contra a Meta, antiga Facebook, que também enfrenta críticas por práticas que afetam a saúde mental de adolescentes no Instagram e Facebook.
Regulamentação e Ação Governamental
Com o aumento das preocupações sobre a saúde mental e o bem-estar das crianças na era digital, há uma crescente pressão por regulamentações mais rigorosas sobre as plataformas de mídia social. Os procuradores-gerais afirmam que a conduta do TikTok viola as leis de proteção ao consumidor e as promessas feitas em acordos anteriores sobre a coleta de dados de crianças. O Departamento de Justiça dos EUA já entrou com um processo federal, argumentando que as políticas do TikTok em relação a crianças menores de 13 anos violam a Lei de Proteção à Privacidade Online de Crianças.
Além disso, o TikTok é acusado de ter um “efeito de caça-níquel” em seus usuários mais jovens, conforme revelado em processos anteriores, e de se referir internamente aos adolescentes americanos como um “público de ouro”. Essa linguagem e essas práticas alimentam preocupações sobre como as plataformas priorizam lucros em detrimento da saúde e segurança de seus usuários.
Futuro do TikTok
Enquanto os processos se desenrolam, o futuro do TikTok nos Estados Unidos permanece incerto. O aplicativo pode ser obrigado a se vender ou mudar suas práticas para se adequar às novas regulamentações. No entanto, procuradores como Schwalb afirmam que a responsabilidade pelo que acontece com os jovens usuários deve permanecer, independentemente de quem possua o aplicativo. “A menos que, e até que, os modelos de negócios mudem, será importante para mim, e para meus colegas em outros estados, responsabilizar o TikTok, seja quem for seu proprietário”, destacou Schwalb.
O processo movido contra o TikTok pelos treze estados e pelo Distrito de Columbia representa uma nova fronteira na luta pela segurança e bem-estar das crianças e adolescentes em um mundo cada vez mais digital. Com as alegações de vício intencional e danos à saúde mental, a pressão sobre a plataforma para adotar práticas mais seguras e transparentes só deve aumentar. À medida que a sociedade busca equilibrar o uso de tecnologias modernas com a proteção de seus jovens, o futuro do TikTok e de outras plataformas de mídia social pode depender de mudanças significativas em suas políticas e operações.