Fatal Model: História, Negócio e Polêmicas da Plataforma
Atualizado em: 29 de setembro de 2025
A Fatal Model é uma plataforma digital brasileira fundada em 2016 na cidade de Pelotas (RS), especializada na publicação de anúncios de acompanhantes. Ao longo dos anos, tornou-se um dos sites mais acessados do segmento adulto no país e ganhou notoriedade nacional por sua atuação em patrocínios esportivos, especialmente no futebol. Esta reportagem reúne informações públicas sobre sua origem, estrutura, modelo de negócios, expansão e as controvérsias jurídicas e sociais que envolvem a empresa.
Mais do que um simples site de classificados, a Fatal Model representa um fenômeno complexo na interseção entre tecnologia, economia informal, sexualidade e cultura de massa. Sua trajetória ilustra como plataformas digitais podem reconfigurar mercados tradicionalmente marginalizados — e, ao mesmo tempo, gerar intensos debates sobre ética, regulação e direitos humanos.
Origem e fundadores
A Fatal Model foi criada em 2016 por três sócios que, inicialmente, mantiveram suas identidades em sigilo. A discrição era estratégica: além de operarem em um setor estigmatizado, os fundadores estavam envolvidos em outros negócios e temiam represálias institucionais ou pessoais. Com o tempo, registros empresariais, investigações jornalísticas e depoimentos em processos judiciais passaram a associar os nomes de Jean Felipe Garcia Quadro e Marcelo Goebel Machado à fundação da plataforma.
Documentos da Receita Federal e do Junta Comercial do Rio Grande do Sul indicam que ambos estão ligados a empresas do grupo, como a Fatal Model Tecnologia Ltda. e a Fatal Model Comércio Eletrônico Eireli. Apesar disso, a empresa nunca confirmou oficialmente a composição completa de seu quadro societário, alegando “proteção de dados pessoais dos sócios”.
A escolha de Pelotas como sede também foi estratégica. A cidade, com cerca de 350 mil habitantes, oferecia custos operacionais mais baixos que grandes centros urbanos e uma estrutura logística estável. Além disso, a distância simbólica de capitais como São Paulo ou Rio de Janeiro permitiu que a empresa operasse com menor exposição midiática nos primeiros anos.
Desde o início, a Fatal Model afirmou buscar profissionalização e segurança no setor de acompanhantes. A plataforma se posiciona como inclusiva, aceitando anúncios de mulheres, homens, travestis e pessoas trans — um diferencial em um mercado historicamente centrado na figura da mulher cisgênero.
Estrutura do Grupo Fatal Model
O sucesso da plataforma principal permitiu a criação de um ecossistema integrado, com múltiplas verticais que atendem diferentes necessidades dos usuários e profissionais do setor. Esse modelo de negócios, comum em grandes plataformas digitais (como o Alibaba ou o Meta), busca maximizar o valor do cliente ao longo de sua jornada.
As principais marcas do grupo incluem:
- Deal Talk: aplicativo de mensagens criptografado voltado para comunicação entre profissionais e clientes. A empresa afirma que o app utiliza protocolos de segurança de ponta a ponta, semelhantes aos do Signal, e não armazena histórico de conversas.
- Acompanhadas: podcast semanal lançado em 2021, apresentado por Nina Sag, diretora de comunicação do grupo. O programa aborda temas como sexualidade, direitos trabalhistas no setor do sexo, saúde reprodutiva e preconceito. Convidados incluem psicólogos, ativistas e profissionais do setor.
- Fatal Model Shop: loja de e-commerce com produtos de marca própria, como camisetas, bonés, mochilas e acessórios. A loja também vende guias de segurança e kits de verificação de identidade.
- Rooms: serviço de locação de espaços discretos em hotéis e flats parceiros, com protocolos de higiene e privacidade. A empresa afirma que os locais são auditados regularmente e que os profissionais recebem treinamento em segurança pessoal.
- Fatalguia: guia digital gratuito que mapeia estabelecimentos noturnos, saunas, motéis e bares com ambiente acolhedor para profissionais do setor. O guia inclui avaliações de usuários e alertas sobre locais com histórico de violência ou exploração.
Esse ecossistema demonstra uma estratégia de verticalização controlada, onde a empresa captura valor em múltiplos pontos da cadeia — desde a divulgação até o encontro presencial.
Modelo de negócios e faturamento
A receita da Fatal Model provém principalmente da venda de planos de assinatura para anunciantes. Em janeiro de 2024, os planos variavam de R$ 19,90 a R$ 429,90 mensais, com funcionalidades escalonadas:
- Plano Básico (R$ 19,90): anúncio simples, com até 3 fotos e visibilidade limitada.
- Plano Premium (R$ 199,90): destaque em buscas, galeria expandida, acesso a estatísticas de visualização.
- Plano Diamante (R$ 429,90): posição fixa no topo das categorias, vídeo de apresentação, impulsionamento automático e suporte prioritário.
Além disso, a plataforma oferece impulsionamentos avulsos (a partir de R$ 9,90 por dia) e uma opção gratuita com funcionalidades mínimas. A empresa afirma que, desde 2016, realizou apenas três reajustes de preço, buscando estabilidade para seus milhares de anunciantes.
Crescimento financeiro
Segundo dados divulgados pela própria empresa:
- Em 2020, o faturamento foi de R$ 70 milhões, com 25 mil profissionais ativos e 3 milhões de usuários únicos.
- Em 2023, o faturamento saltou para R$ 38 milhões — valor que, segundo a empresa, foi impactado por restrições publicitárias em redes sociais.
- Em 2024, o faturamento atingiu R$ 85 milhões, um aumento de 124% em relação a 2023.
A empresa afirma reinvestir 100% do lucro operacional em segurança, inovação e expansão. Não há distribuição de dividendos no curto prazo. Planos de captação de até R$ 50 milhões com fundos de private equity foram anunciados, com meta de triplicar o faturamento até 2025.
Expansão internacional
A Fatal Model já iniciou operações em países como México, Reino Unido e Alemanha, com versões localizadas do site. A escolha desses mercados leva em conta a legalidade relativa do trabalho sexual (total ou parcialmente regulamentado) e a alta penetração de internet móvel. No México, por exemplo, a plataforma opera em parceria com coletivos de trabalhadoras do sexo que atuam na defesa de direitos humanos.
Patrocínios no futebol e estratégia de marketing
A visibilidade nacional da Fatal Model começou a crescer exponencialmente a partir de 2022, quando a empresa passou a patrocinar clubes de futebol. A estratégia foi descrita internamente como uma forma de “normalizar o debate sobre sexualidade” e “combater o preconceito” contra profissionais do setor.
Cronologia dos patrocínios
- 2022: primeiros acordos com Globo (RN), Altos (PI) e Portuguesa (SP) na Copa do Brasil. A exposição gerou ampla repercussão nas redes sociais e na imprensa esportiva.
- 2023: patrocínio a oito campeonatos estaduais, incluindo os de Sergipe, Ceará, Goiás, Amazonas, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Bahia e Rio Grande do Norte.
- 2024: patrocínio master do Campeonato Carioca e do Campeonato Gaúcho. A marca apareceu em mais de 600 jogos televisionados, com mais de 33 horas de exposição em TV aberta e fechada.
Clubes patrocinados
Entre os clubes que já exibiram a marca da Fatal Model estão:
- Paysandu (PA)
- Ipatinga (MG)
- Tombense (MG)
- Vila Nova (GO)
- Ponte Preta (SP)
- Sampaio Corrêa (MA)
- Amazonas FC
- CRB (AL)
- Brusque (SC)
O caso mais emblemático foi o patrocínio ao Esporte Clube Vitória. Em 2023, a Fatal Model propôs R$ 200 milhões para renomear o clube como “Fatal Model Vitória” por 10 anos. Diante da recusa, ofereceu R$ 100 milhões para batizar o estádio Barradão como “Arena Fatal Model”. As propostas não foram aceitas, supostamente por resistência de emissoras de TV, mas a parceria comercial seguiu, incluindo apoio à contratação do jogador Luan.
Além do futebol
A empresa também patrocinou:
- O podcast Inteligência Limitada (comandado por Felipe Neto e Léo Lins)
- Blocos de Carnaval em São Paulo e Rio de Janeiro em 2024
- Eventos de cultura pop, como feiras de games e festivais de música eletrônica
O patrocínio ao Flow Podcast foi encerrado em 2022 após declarações polêmicas do apresentador Monark sobre a legalização de partidos nazistas. A Fatal Model emitiu nota afirmando que “não compactua com discursos de ódio”.
Controvérsias e ações judiciais
A visibilidade da marca gerou críticas de setores da sociedade civil, jurídico e político. O principal questionamento diz respeito à exposição de crianças e adolescentes à marca durante transmissões esportivas, consideradas de classificação livre.
Base legal das críticas
Especialistas em direito do consumidor apontam que os patrocínios podem violar:
- Artigo 37, §2º, do Código de Defesa do Consumidor (CDC): proíbe publicidade abusiva, especialmente aquela que explore a vulnerabilidade de crianças.
- Artigo 81 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): veda a exposição de menores a conteúdos que possam prejudicar seu desenvolvimento físico, psicológico ou moral.
- Resolução nº 161/2010 do Conar: estabelece limites éticos para publicidade de produtos ou serviços com apelo sexual.
Psicólogos infantis alertam que a repetição da marca em contextos familiares (como jogos de futebol assistidos por pais e filhos) pode gerar normalização precoce de relações comerciais baseadas na sexualidade, contribuindo para a objetificação do corpo e para a naturalização da desigualdade de gênero.
Resposta da empresa
A Fatal Model afirma que seu marketing esportivo tem caráter institucional, sem direcionamento explícito ao site ou uso de QR Codes durante os jogos. A empresa argumenta que:
- Não há menção ao conteúdo adulto nos uniformes ou nos comerciais.
- A marca é usada apenas como logotipo, sem slogans ou apelos sexuais.
- O objetivo é “quebrar tabus” e promover “respeito às profissões não tradicionais”.
Ações institucionais
Em 2024, diversas medidas foram tomadas contra a empresa:
- Ministério Público Federal (MPF): recebeu representação pedindo a suspensão da publicidade em competições nacionais.
- Procon-RJ: abriu investigação sobre publicidade enganosa e exposição infantil.
- Conar: analisa denúncias de violação ao código de ética publicitária.
- Procuradoria-Geral da República (PGR): recebeu notícia-crime protocolada pelo deputado Otoni de Paula (MDB-RJ).
- Projeto de Lei nº 1.234/2024: proposto pelo deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), visa proibir publicidade de serviços de acompanhantes em eventos esportivos.
- Ministério Público de Alagoas: emitiu recomendação para que o CRB encerrasse a parceria.
- Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon): notificou a CBF e o Estádio Nilton Santos (Engenhão) sobre suposta publicidade inadequada.
Episódio de intimidação à imprensa
Em 2023, após a publicação de uma reportagem crítica pelo site ICL Notícias, um caminhão com a marca Fatal Model estacionou em frente à sede do veículo, em Porto Alegre. A ação foi interpretada como intimidação e gerou repúdio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). A empresa negou qualquer intenção hostil, afirmando que o caminhão estava “em trânsito”.
Processos judiciais
A Fatal Model moveu ação contra o apresentador Uziel Bueno (Brasil Urgente) por difamação, após ele chamar a plataforma de “fábrica de prostituição” e atacar verbalmente as acompanhantes. O caso está em andamento na Justiça do Rio de Janeiro.
Segurança e vazamento de dados
A plataforma exige verificação rigorosa de identidade tanto para acompanhantes quanto para clientes:
- Envio de documento oficial (RG, CPF ou CNH)
- Número de celular válido com verificação por SMS
- Gravação de vídeo de verificação, com a frase: “Sou acompanhante e quero anunciar no Fatal Model.”
Para clientes, há também exigência de documento e, em alguns casos, vídeo de apresentação. A empresa afirma usar reconhecimento facial e análise comportamental para detectar perfis falsos.
Suposto vazamento de 2023
Em outubro de 2023, a consultoria Security Discovery divulgou que havia localizado um banco de dados exposto com 14,6 milhões de registros, incluindo:
- Nomes completos
- Números de telefone
- Endereços de e-mail
- Fotos e vídeos de verificação
- Histórico de anúncios
O volume total era de 19,1 GB. A Fatal Model negou o vazamento, alegando que:
- Os dados citados são públicos por escolha dos usuários (como fotos de perfil).
- Não há senhas, dados bancários ou documentos completos no suposto “vazamento”.
- Duas firmas especializadas em dark web contratadas pela empresa não encontraram evidências de invasão.
Até a presente data, nenhuma autoridade reguladora confirmou o incidente.
Impacto econômico e social
A Fatal Model gera renda para milhares de pessoas em todo o Brasil. Estimativas internas indicam que, em 2024, havia cerca de 50 mil anunciantes ativos, a maioria mulheres entre 22 e 35 anos. Muitas relatam que a plataforma foi uma alternativa viável durante crises econômicas, como a pandemia de COVID-19.
A empresa também emprega diretamente cerca de 120 funcionários em Pelotas, com salários acima da média regional. A cultura organizacional é descrita como rígida e profissionalizante: funcionários são proibidos de usar linguagem sexualizada no ambiente de trabalho e devem seguir um código de conduta baseado em “respeito, segurança e empoderamento”.
Paralelamente, a Fatal Model financia campanhas educativas sobre:
- Uso de preservativos
- Direitos trabalhistas no setor do sexo
- Prevenção à violência de gênero
Essas iniciativas são divulgadas no podcast Acompanhadas e em parcerias com ONGs.
Debate legislativo e regulatório
O caso da Fatal Model reacendeu o debate sobre a regulamentação do trabalho sexual no Brasil. Atualmente, a prostituição não é crime no país, mas atividades associadas (como o proxenetismo) são penalizadas. Isso cria um vácuo legal que dificulta a proteção de direitos.
Propostas em discussão no Congresso incluem:
- PL 715/2023: que busca reconhecer o trabalho sexual como profissão.
- PL 1.234/2024: que proíbe publicidade de serviços de acompanhantes em eventos esportivos.
- PL 2.010/2024: que exige selo de verificação para plataformas digitais do setor.
A Fatal Model afirma apoiar a regulamentação do setor, argumentando que isso traria mais segurança para todos os envolvidos.
Análise de discurso e representação midiática
A cobertura da mídia sobre a Fatal Model oscila entre sensacionalismo e análise crítica. Veículos conservadores frequentemente usam termos como “prostituição digital” ou “exploração”, enquanto meios progressistas destacam a autonomia das trabalhadoras e o potencial de empoderamento econômico.
A própria empresa investe pesado em relações públicas, com assessoria de imprensa ativa e participação em fóruns acadêmicos sobre economia digital e direitos sexuais.
Presença na cultura popular
A marca entrou no imaginário coletivo brasileiro. Em 2023, a dupla sertaneja César e Gabriel lançou a música “Novinha do Fatal”, que se tornou viral nas redes sociais. O termo “Fatal Model” passou a ser usado coloquialmente em diversas regiões do país, muitas vezes desvinculado do site original.
A plataforma também inspirou memes, piadas em programas de TV e até referências em novelas. Esse fenômeno ilustra como marcas digitais podem se tornar parte da linguagem cotidiana, independentemente de sua intenção original.
A Fatal Model representa um fenômeno complexo na interseção entre tecnologia, economia informal, sexualidade e esporte no Brasil contemporâneo. Seu crescimento rápido, estratégias de marketing ousadas e controvérsias legais a tornaram um caso de estudo para pesquisadores, legisladores e observadores do mercado digital.
Seu futuro dependerá da capacidade de navegar entre expansão comercial, responsabilidade social e conformidade legal. Enquanto o debate sobre regulação do trabalho sexual permanece inconcluso no Brasil, plataformas como a Fatal Model continuarão a operar em uma zona cinzenta — gerando renda, polêmica e transformação cultural.
Perguntas Frequentes sobre a Fatal Model
O que é a Fatal Model?
É uma plataforma digital brasileira fundada em 2016 que hospeda anúncios de acompanhantes. Atua também em marketing esportivo, podcasts e comércio eletrônico.
Quem são os fundadores da Fatal Model?
Jean Felipe Garcia Quadro e Marcelo Goebel Machado são os nomes mais frequentemente associados à fundação da empresa.
A Fatal Model patrocina clubes de futebol?
Sim. A Fatal Model já patrocinou mais de 10 clubes, incluindo Vitória, CRB, Paysandu e Ponte Preta, além de campeonatos estaduais como o Carioca e o Gaúcho.
Houve vazamento de dados na Fatal Model?
Em 2023, houve denúncias de um suposto vazamento com 14,6 milhões de registros. A empresa negou o incidente e afirmou que os dados citados são públicos por consentimento dos usuários.
A Fatal Model foi processada?
Sim. A empresa enfrenta ações no MPF, Procon, Conar e Senacon, além de processos judiciais relacionados à publicidade em eventos esportivos e supostas práticas abusivas.
A Fatal Model apoia a regulamentação do trabalho sexual?
Sim. A empresa afirma publicamente que a regulamentação traria mais segurança e direitos para profissionais do setor.






