Na última terça-feira (10), o presidente da Argentina, Javier Milei, completou um ano de mandato, com um discurso que marcou o balanço de sua gestão ultraliberal até o momento. Durante seu pronunciamento, Milei reforçou sua promessa de combater a inflação e fez um alerta sobre os desafios econômicos enfrentados pela população, ao mesmo tempo que revelou ambiciosos planos para o futuro do país, incluindo a busca por um tratado de livre-comércio com os Estados Unidos.
Inflação em queda: Javier Milei promete fim da crise monetária na Argentina
Javier Milei destacou com entusiasmo a queda da inflação na Argentina, que passou de 25,5% ao mês, em dezembro do ano passado, para 2,7% em outubro de 2024, conforme os últimos dados oficiais. Em seu discurso, o presidente afirmou que a inflação, até então uma das maiores preocupações da população argentina, será “uma lembrança ruim” em um futuro próximo. Esta afirmação é uma promessa ousada de sua política econômica, que já foi marcada por medidas extremas, como a desvalorização do peso em 52% no ano passado.
A política monetária adotada por Milei, centrada no corte de gastos públicos e na redução do tamanho do Estado, visa controlar a inflação de forma drástica. No entanto, essas medidas têm um custo social elevado, com um aumento significativo da pobreza no país, que atingiu 52,9% da população, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Apesar dos esforços para controlar a inflação, o impacto sobre as classes mais vulneráveis é um ponto de crítica ao seu governo.
Austeridade e desafios econômicos: o custo social do governo Milei
O impacto das políticas de austeridade de Milei se reflete em números alarmantes. Nos primeiros seis meses de sua presidência, a pobreza aumentou drasticamente, registrando um salto de 11 pontos percentuais. A população argentina enfrentou dificuldades para arcar com o custo de vida, enquanto o governo continuava com sua agenda de reformas econômicas radicais, que, em muitos casos, afetaram diretamente os mais pobres.
Embora a inflação tenha apresentado uma desaceleração, a recessão econômica e a queda do PIB também foram fatores negativos, contribuindo para um cenário de polarização política crescente no país. A aprovação de Milei permanece alta entre seus seguidores mais conservadores e liberais, mas a oposição ao seu governo se intensificou, com críticas contundentes às suas políticas econômicas e suas promessas de uma Argentina mais “liberal.
Mercosul e a busca por um tratado com os Estados Unidos
Em seu discurso, o presidente argentino também destacou suas intenções para o futuro do Mercosul, bloco regional do qual a Argentina faz parte desde sua fundação em 1991, junto com Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Milei assumiu a presidência semestral do Mercosul e afirmou que buscará aumentar a autonomia do bloco, incentivando uma postura mais independente diante do resto do mundo. Seu principal objetivo será impulsionar, no próximo ano, um tratado de livre-comércio com os Estados Unidos, uma iniciativa que ele considera crucial para o crescimento da economia argentina.
Milei não especificou se negociaria o tratado bilateralmente com os Estados Unidos ou se tentaria um acordo em conjunto com os outros países do Mercosul. Contudo, deixou claro que pretende seguir o caminho que foi barrado em 2005, quando o Mercosul rejeitou a assinatura da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), uma proposta de acordo comercial com os Estados Unidos que foi amplamente criticada pelos países membros do bloco, na época liderados por Hugo Chávez.
O presidente argentino afirmou que o bloqueio à assinatura da Alca, promovido por “um grupo de burocratas”, foi responsável pela perda de uma importante oportunidade de crescimento para a Argentina e os outros países da região. Agora, com um governo ultraliberal, ele acredita que é o momento certo para retomar o processo de integração econômica com os Estados Unidos.
Controle cambial e promessas de liberalização da economia
Outro ponto importante do discurso de Milei foi sua promessa de eliminar o controle cambial na Argentina, uma medida que ele pretende implementar “no ano que vem e para sempre”. Atualmente, a Argentina enfrenta sérias dificuldades econômicas, com uma escassez de dólares e um mercado de câmbio altamente controlado. A medida de liberalizar o mercado de câmbio permitiria que os cidadãos argentinos usassem a moeda que desejassem em suas transações cotidianas, sem as limitações impostas pelo governo.
Essa proposta está alinhada com a visão ultraliberal de Milei, que defende uma economia mais aberta e menos dependente do Estado. No entanto, críticos alertam que a implementação de tais medidas pode gerar ainda mais instabilidade econômica, já que a Argentina segue enfrentando uma grave crise fiscal e cambial.
O desafio da pobreza e da polarização política
O primeiro ano de governo de Javier Milei foi marcado por uma polarização política crescente. De um lado, seus apoiadores, que enxergam nele uma solução para os problemas econômicos da Argentina e a tentativa de reverter décadas de políticas econômicas progressistas e protecionistas. De outro, a oposição, que critica as medidas de austeridade e o impacto social de suas políticas, especialmente o aumento da pobreza e da desigualdade.
Apesar de ter alcançado alguns sucessos econômicos, como a redução da inflação, Milei enfrenta uma tarefa difícil para equilibrar suas reformas ultraliberais com a necessidade de atender às demandas da população mais carente, que sofre com os efeitos colaterais de suas políticas.
O que esperar do futuro de Javier Milei e da economia argentina?
O futuro de Javier Milei à frente da presidência da Argentina está repleto de desafios. Enquanto suas políticas econômicas continuam a dividir a opinião pública, o presidente busca, com seu governo ultraliberal, impulsionar a economia, reduzir a inflação e reverter décadas de intervenção estatal na economia. No entanto, o aumento da pobreza e a polarização política são elementos que continuarão a marcar sua gestão nos próximos anos.
O foco de Milei na busca por um tratado de livre-comércio com os Estados Unidos, a liberalização da economia e a eliminação do controle cambial são medidas que podem gerar mudanças profundas na Argentina. No entanto, os custos sociais dessas reformas podem ser altos, e será necessário um equilíbrio entre as ambições econômicas de seu governo e as realidades sociais do país.