Governo Lula Avança em Decreto para Regular Uso da Força Policial no Brasil
O Ministério da Justiça e Segurança Pública, liderado por Ricardo Lewandowski, enviou à Casa Civil nesta quarta-feira (11) um decreto que promete regular o uso da força por policiais em todo o Brasil. A proposta visa estabelecer diretrizes gerais para o uso de armas de fogo, instrumentos não letais, algemas e buscas pessoais e domiciliares. Além disso, o texto contempla a atuação de policiais penais em presídios, consolidando uma abordagem mais rigorosa e uniforme em situações de aplicação da força.
O Que o Decreto Propõe?
A iniciativa marca a primeira etapa para criar um marco regulatório sobre o uso da força no país. Embora o decreto ainda não detalhe diretrizes específicas, ele estabelece princípios fundamentais que serão posteriormente regulamentados pelo Ministério da Justiça por meio de portarias, com prazo de até 90 dias após sua assinatura.
Entre os principais pontos do decreto estão:
- Uso de Força Gradual: O uso de armas de fogo será restrito como medida de último recurso, devendo ser precedido por métodos de menor intensidade.
- Compatibilidade da Força: O nível de força aplicado deve estar em conformidade com a gravidade da ameaça apresentada e os objetivos da ação policial.
- Não Discriminação: Os agentes de segurança não devem discriminar pessoas com base em fatores como raça, etnia, orientação sexual, religião, opinião política, entre outros.
- Relatórios Detalhados: Sempre que o uso da força resultar em ferimentos ou mortes, será necessário elaborar um relatório circunstanciado que detalhe o ocorrido.
Além disso, o texto prevê a criação de um Comitê Nacional de Monitoramento do Uso da Força (CNMUDF), que incluirá representantes da sociedade civil para centralizar dados sobre mortes causadas por policiais e de agentes de segurança.
Condicionamento de Verbas Federais
Um dos pontos mais polêmicos do decreto é a vinculação do repasse de verbas federais à adesão às normas propostas. Estados, municípios e o Distrito Federal deverão cumprir as diretrizes estabelecidas para garantir acesso ao Fundo Nacional de Segurança Pública e ao Fundo Penitenciário Nacional. Essa medida tem como objetivo incentivar a adoção de práticas mais responsáveis e alinhadas ao marco regulatório federal.
Motivações e Contexto
A proposta vem à tona em um cenário de crescente preocupação com a violência policial no Brasil. Casos recentes, como o de um homem jogado de uma ponte por um policial militar em São Paulo e a agressão a uma mulher idosa dentro de sua garagem, reacenderam o debate sobre a necessidade de maior controle e supervisão das ações policiais.
Lewandowski afirmou que “o Estado não pode compactuar com a violência policial”, destacando a importância de um marco regulatório que proteja tanto a população quanto os próprios agentes de segurança pública.
O Papel do Comitê de Monitoramento
O CNMUDF terá um papel estratégico na implementação do decreto. Entre suas atribuições estão:
- Acompanhar a execução do Plano Nacional de Segurança Pública, com foco na redução da letalidade policial e da vitimização de profissionais de segurança.
- Propor indicadores para monitorar e avaliar o uso da força.
- Reunir dados que subsidiem a formulação de políticas públicas mais eficazes.
A centralização e o monitoramento desses dados visam trazer maior transparência e responsabilidade à atuação das forças de segurança.
Desafios à Implementação
Apesar do avanço, o decreto enfrenta resistências. A autonomia dos estados sobre suas polícias é um tema sensível, e a imposição de normas pelo governo federal pode gerar atritos. Além disso, especialistas apontam para a necessidade de capacitação e treinamento contínuo dos agentes, que muitas vezes não dispõem de recursos adequados para lidar com situações complexas.
Outro ponto crítico será garantir que o comitê tenha a autonomia necessária para exercer sua função de forma independente, sem influências políticas que comprometam a transparência de suas atividades.
Perspectivas Futuras
Se implementado, o decreto poderá representar um marco na segurança pública brasileira, alinhando práticas policiais às normas internacionais de direitos humanos. No entanto, sua efetividade dependerá da cooperação entre os entes federativos e da capacidade do Ministério da Justiça de conduzir o processo de regulamentação com agilidade e eficiência.
O texto enviado à Casa Civil é apenas o primeiro passo de um caminho que promete ser desafiador, mas necessário para enfrentar os altos índices de violência e desigualdade que afetam o Brasil.