Estudantes do ensino básico do país voltarão a ter aulas sobre saúde sexual e reprodutiva e prevenção de HIV/IST, anunciou nessa quarta-feira (26) o Ministério da Saúde. A retomada integra o Programa Saúde na Escola (PSE), política iniciada em 2007 com a Educação.
Segundo a pasta, 99% dos municípios aderiram ao programa e receberão recursos para materiais e equipes. A expectativa é atender a mais de 25 milhões de crianças e adolescentes. O PSE também deve trabalhar atividades de prevenção de violências e acidentes, saúde mental, promoção da cultura de paz e direitos humanos.
R$ 90,3 milhões para cidades que aderiram
“Nos últimos anos, os indicadores do programa foram reduzidos apenas a pautas sobre alimentação saudável, prevenção de obesidade e promoção da atividade física. Com a retomada do PSE, todas as temáticas previstas poderão ser desenvolvidas”, afirmou a Saúde, em nota. A pasta liberou R$ 90,3 milhões para as cidades que aderiram ao projeto.
Psicóloga e sexóloga, Alessandra Araújo considera a retomada da política fundamental para prevenir casos de abuso sexual e gravidez na infância ou adolescência. Segundo a especialista, quanto menos informação tem a criança sobre a vida sexual, maior a possibilidade de enfrentar situações traumáticas como as citadas.
“Hoje, 95% dos casos de abuso sexual acontecem dentro do contexto familiar. São tios, avós e padrastos. Explicar para a criança sobre o próprio corpo, sobre as partes genitais, quem pode manipulá-las e de que forma, faz a criança estar alerta a possíveis abusos”, afirma.
A psicóloga explica que a conversa franca, respeitando o entendimento e o vocabulário das crianças, é a chave para dotá-las de informações e protegê-las de um crime.
“O professor saberá do processo cognitivo dessa criança e adolescente e o que eles conseguem receber e entender. Os conteúdos envolvem anatomia, fisiologia e habilidade de diálogo. É uma arma importante para combater gravidez precoce e abusos sexuais.”
O tema foi relegado a segundo plano durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e, na visão do ginecologista e presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Alvaro Ceschin, ainda existe um tabu que leva a crer que educação sexual é ensinar os estudantes sobre relações sexuais.
“Isso tem que ser desmistificado. Educação sexual é ensinar como funciona o ciclo menstrual, as mudanças hormonais, os aparelhos feminino e masculino, sobre a gravidez e os métodos anticoncepcionais. É na adolescência que começam as práticas sexuais, e os jovens precisam compreender corretamente que eles podem transmitir e pegar doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo.”