O cenário científico brasileiro enfrentou um desafio inédito em 2022, registrando uma queda significativa de 7,4% na produção de artigos científicos em comparação com o ano anterior. Essa é a primeira vez, desde o início da tabulação de dados em 1996, que o Brasil experimenta um recuo tão expressivo em sua produção acadêmica. Os dados foram revelados no relatório da Elsevier-Bori 2022, que analisou o desempenho de 51 países que publicaram mais de 10 mil artigos científicos em 2021.
Dos 51 países avaliados, 23 experimentaram um declínio na produção científica ao longo de 2022, marcando o maior número de nações com redução de produção desde 1997. O recorde anterior, estabelecido em 2002, contava com a participação de 20 países que viram suas publicações acadêmicas diminuírem em relação ao ano anterior (2001).
No âmbito das quedas mais expressivas, tanto o Brasil quanto a Ucrânia foram os países mais afetados na comparação entre 2021 e 2022. O Brasil registrou um decréscimo de 7,4%, reduzindo sua produção de 80.499 artigos em 2021 para 74.570 em 2022. É importante mencionar que, no mesmo período, a Ucrânia também enfrentava um contexto desafiador devido à guerra em curso.
A análise das áreas de conhecimento mais afetadas no Brasil revelou que as ciências agrárias foram as mais atingidas, com uma redução na produção de 13,7%. Em seguida, destacam-se as ciências da natureza (-8,2%), as ciências médicas (-6,8%), e a engenharia e tecnologias (-6,2%).
Entre as instituições brasileiras, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco foram as que apresentaram as maiores quedas de produção, com reduções entre 15% e 20%. Outras instituições, como a Universidade Federal de Pelotas, Universidade Federal de Viçosa e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também enfrentaram quedas significativas, variando entre 10% e 15%.
De acordo com Estêvão Gamba, cientometrista e cientista de dados da Agência Bori, a inédita queda na produção científica brasileira pode estar relacionada aos expressivos cortes orçamentários de recursos públicos para pesquisas nos últimos anos. Esse é um aspecto que merece ser analisado com mais profundidade em futuros estudos.
Enquanto o Brasil enfrentou um cenário desafiador, outros países alcançaram crescimentos notáveis em suas produções científicas. Iraque, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e China registraram aumentos superiores a 20% no número de artigos científicos publicados em 2022. A Índia também se destacou, com um crescimento de 19%, ultrapassando o Reino Unido e alcançando a terceira posição mundial entre os países com maior número de publicações acadêmicas, com um total de 177.291 artigos.
Vale ressaltar que o levantamento considerou apenas publicações do tipo “artigo científico”, excluindo publicações editoriais, revisões, proceedings de conferências e outros tipos. A coleta de dados foi realizada no início de julho de 2023, com base na plataforma Scopus/Elsevier e utilizando a ferramenta analítica SciVal/Elsevier para os cálculos.
Diante desse panorama, especialistas apontam que é fundamental monitorar de perto os investimentos em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, buscando incentivar a produção científica e garantir avanços contínuos no cenário acadêmico do país.